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AYANNA ROMANOV:

Na manhã seguinte, o sol entrava pelas frestas da cortina, e eu despertei lentamente, ainda envolvida nos lençóis. Senti o corpo quente de Jude ao meu lado, mas ele estava de costas para mim, o que fez meu coração apertar. A noite anterior havia sido um marco — tanto emocional quanto pessoalmente — e, enquanto observava seu corpo imóvel, percebi que tudo estava realmente mudando.

Passei a mão pelas costas dele, sentindo sua pele macia e quente. Queria que aquele toque expressasse o quanto eu ainda o valorizava, apesar de tudo. Inclinei-me e depositei um beijo leve em sua pele, sentindo-o se mexer suavemente, mas ele não se virou.

Levantei-me em silêncio, indo direto para o banheiro. O chuveiro quente ajudou a acalmar um pouco o turbilhão de pensamentos que rodava na minha mente. A água escorria pelo meu corpo enquanto eu tentava organizar a agenda mental do dia. Jude estava prestes a sair para o treino, e eu sabia que nos restava pouco tempo juntos antes das mudanças que viriam. Vesti-me com calma, me concentrando nos pequenos detalhes do meu look, como se isso pudesse me distrair.

Quando saí do banheiro, Jude já estava em pé, se vestindo para o treino. Ele parecia tranquilo, mas a tensão entre nós ainda pairava no ar. Ele se aproximou de mim, sem dizer uma palavra, e me envolveu em um abraço apertado. Aquele abraço era cheio de sentimentos não ditos, uma mistura de conforto e despedida.

— Você vai ficar bem? — perguntou ele, finalmente, sua voz rouca de sono.

— Vou... vamos ficar bem, Jude — respondi, tentando soar confiante, mas sabendo que ambos estávamos cientes de que as coisas nunca seriam as mesmas.

Ele assentiu, me soltando devagar, e terminou de colocar a mochila nas costas. Fiquei ali, observando enquanto ele saía pela porta. Quando a porta se fechou, o silêncio parecia ainda mais pesado.

Decidi ir até a sala. Jorge estava no chão, rodeado de brinquedos, brincando animadamente com a babá. Seu riso inocente era como um bálsamo para meu coração partido. Caminhei até ele e sentei ao seu lado, mexendo em seus cachinhos enquanto ele me mostrava um carrinho novo. Sorri, tentando afastar a melancolia. Jorge era minha prioridade agora, e eu sabia que precisaria ser forte por ele.

Foi nesse momento que meu celular começou a vibrar na mesa. Era o produtor da TNT, me ligando.

— Alô?

— Oi, tudo bem? — disse ele, a voz animada do outro lado. — Então, estamos ajustando as gravações com o Xabi, e precisamos que você esteja na Alemanha daqui a dois dias para finalizar o restante da entrevista. Dá para você organizar isso?

Suspirei, sabendo que não tinha muita escolha. O trabalho estava chamando, e essa viagem era importante para minha carreira.

— Sim, tudo bem. Eu vou me organizar e embarcar daqui a dois dias — respondi, já mentalmente planejando como deixar tudo arranjado em casa para essa viagem.

— Ótimo! Vou te mandar os detalhes por e-mail. Vai ser uma ótima oportunidade, e sei que o Xabi gostou muito da primeira parte da entrevista. Até mais, então!

Desliguei o telefone e fiquei alguns minutos parada, refletindo. A Alemanha de novo. Lá onde tudo tinha começado — e onde talvez tudo estivesse prestes a mudar novamente.

A tarde parecia estar tranquila, enquanto eu me dedicava a revisar algumas pautas e trabalhar em cima de ideias para futuras reportagens. A luz do entardecer entrava suavemente pelas janelas, criando uma atmosfera serena no ambiente, quase me fazendo esquecer de todas as tensões ao redor. Jorge brincava em seu cantinho, e a babá cuidava dele enquanto eu tentava focar no trabalho.

Destinados || Florian WirtzOnde histórias criam vida. Descubra agora