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FLORIAN WIRTZ:

Dizem que os alemães são frios, mas eu não era. Meu corpo e meu coração ferviam por Ayanna, mas agora ela estava distante, longe de mim. Sentei no sofá da casa dos meus pais, um lugar que costumava ser sinônimo de conforto e felicidade. Hoje, no entanto, era o aniversário do meu irmão mais velho, e tudo parecia um pouco mais pesado do que o normal.

A sala estava cheia, o cheiro do bolo recém-saído do forno se misturava com as vozes alegres da minha família. Minhas irmãs estavam na cozinha, fofocando e comentando sobre o anúncio da Ayanna e do Jude. A separação deles tinha se tornado um dos tópicos principais da conversa, e o fato de que eles haviam tornado tudo público, com uma entrevista, só aumentou a curiosidade.

— Você viu o que eles disseram? — uma das minhas irmãs comentou, levantando uma sobrancelha. — Parece que foi tudo tranquilo, mas quem acredita nisso?

A outra irmã, mais velha e mais sensata, balançou a cabeça.

— Olha, eu não duvido que tenha sido difícil. Relações assim nunca são fáceis, ainda mais quando há filhos envolvidos. Mas a forma como eles falaram, parecia que estavam em paz com tudo — respondeu, enquanto preparava mais algumas porções de batata frita para todos.

Enquanto eu ouvia a conversa, não consegui evitar de sentir um nó na garganta. Era um misto de tristeza e raiva. Clara, minha ex, sentou-se ao meu lado no sofá, jogando seu veneno com um sorriso no rosto.

— Olha só, parece que a famosa Ayanna não conseguiu segurar o relacionamento dela — comentou Clara, com um tom sarcástico. — E o Jude, coitado, agora vai ter que lidar com a imprensa. Imagino como deve ser difícil para ele.

Eu olhei para ela, tentando manter a calma. Não era a hora nem o lugar para discutir esse tipo de coisa, mas o veneno dela estava me irritando.

— Você não sabe o que está acontecendo entre eles. Não é justo falar assim — respondi, controlando a raiva. Eu queria que ela entendesse que não era apenas uma história de fofocas; havia sentimentos envolvidos, e eu me importava com Ayanna.

Clara deu de ombros, como se a questão não fosse nada importante.

— Ah, por favor. Olhe ao redor. Esse tipo de coisa é o que a imprensa ama. Eles vão fazer um circo em cima disso — retrucou, olhando para o meu irmão, que estava se preparando para cortar o bolo.

As minhas irmãs continuavam a discutir sobre o que tinham lido na internet, lançando suposições e conjecturas sobre o futuro de Ayanna e Jude. Minhas irmãs sempre foram muito unidas, e eu adorava vê-las se defendendo, mas a verdade é que havia um burburinho de insatisfação dentro de mim. Eu queria que Ayanna soubesse que eu estava ali, que eu ainda me importava, mas a situação era complicada.

— Wirtz, você está bem? — uma das minhas irmãs perguntou, percebendo que eu não estava totalmente presente.

— Estou, só... pensando — respondi, tentando me afastar das conversas que me deixavam ainda mais angustiado. Clara parecia perceber, mas não parava de alfinetar.

— Você está pensando na Ayanna, não está? — ela perguntou, com um sorriso desdenhoso. — Aposto que você gostaria de estar lá com ela agora.

Eu a olhei, sentindo a raiva fervendo mais uma vez.

— Isso não é da sua conta, Clara. Nós já temos um passado que não precisamos discutir aqui. E se você não se importa, eu preferiria não falar sobre a Ayanna — disse, tentando ser firme.

Minhas irmãs, percebendo a tensão, tentaram mudar de assunto, mas Clara continuou.

— Olha, só estou dizendo que você deveria pensar duas vezes antes de se envolver novamente com alguém que já teve um relacionamento tão complicado. Não é só sobre você e Ayanna; tem um filho no meio, e isso muda tudo.

Aquelas palavras me atingiram como uma flecha. Claro que eu pensava em Jorge, nosso filho. Tudo que eu queria era que Ayanna e eu pudéssemos encontrar um jeito de co-parentar de forma saudável, mas a distância entre nós parecia intransponível naquele momento.

— Você não entende nada sobre isso — retruquei, com a voz mais baixa, mas firme. — O que importa é o que está no nosso coração, e isso é algo que só nós dois podemos saber.

As irmãs tentaram quebrar a tensão com risadas e brincadeiras, mas eu me sentia sufocado. Olhei para o relógio, desejando que a noite terminasse logo. O aniversário do meu irmão era para ser uma celebração, mas a presença de Clara, somada às conversas sobre Ayanna, tornava tudo muito difícil.

Conforme o tempo passava, percebi que, por mais que eu tentasse evitar, a verdade era que eu sentia falta de Ayanna. Os momentos que passamos juntos, as risadas, as discussões, tudo isso estava ecoando na minha mente como uma melodia triste. E, no fundo, eu sabia que aquela era uma batalha que eu ainda tinha que enfrentar. Mas, enquanto eu estava ali, na casa dos meus pais, cercado pela família e pelo amor, havia uma esperança de que tudo poderia mudar.

Eu me sentei na sala, tentando ignorar o barulho ao meu redor, mas a atmosfera estava pesada, e minha mente não conseguia se afastar de Ayanna. Foi então que a televisão chamou minha atenção. Uma reportagem sobre o Manchester City estava passando, e lá estava ela, Ayanna, sendo entrevistada por um jogador que eu não reconhecia. A imagem dela iluminava a tela, e uma onda de lembranças começou a invadir minha mente.

Ela estava radiante, com aquele sorriso que sempre me fez sentir como se tudo fosse possível. A forma como ela se movia, como falava com confiança, lembrava-me da primeira vez que a vi em um evento, e como a energia dela me atraía de uma maneira inexplicável. Lembrei-me de tantas conversas profundas que tivemos, dos risos compartilhados, dos momentos de vulnerabilidade que construíram nossa conexão.

Mas agora, ali estava eu, preso na sala da casa dos meus pais, enquanto a mulher que eu ainda amava aparecia na televisão, falando sobre futebol e fazendo perguntas ao jogador. Eu queria estar com ela, conversar sobre suas experiências, entender o que estava acontecendo em sua vida. Mas eu sabia que as coisas eram diferentes agora, e a distância entre nós era palpável.

As lembranças continuavam a me assombrar, mas eu não podia fazer muito. A vida avançava, e o que restava entre nós parecia uma história que se desvanecia na bruma do passado. O comentário de Clara ainda ecoava na minha mente: "Você deveria pensar duas vezes antes de se envolver novamente." Era verdade, mas como eu poderia evitar isso?

Tentei desviar o olhar da tela, mas não consegui. As palavras de Ayanna ecoavam na minha cabeça enquanto ela entrevistava o jogador, e eu sentia uma mistura de orgulho e dor. Orgulho por tudo o que ela havia conquistado, por seu talento e determinação, e dor por saber que essa era a realidade dela agora, e eu não fazia mais parte disso.

A entrevista se desenrolava, e eu me perdi nos pensamentos, lembrando dos momentos que compartilhamos e do que poderia ter sido. A sala ao meu redor estava cheia de risadas e comemorações, mas eu me sentia isolado, como se estivesse preso em uma bolha de nostalgia.

Naquele momento, percebi que a batalha entre o que eu desejava e o que a vida havia me imposto era um campo de batalha em que eu não tinha controle. E, enquanto observava Ayanna brilhar na tela, eu sabia que, no fundo, ainda havia uma parte de mim que desejava lutar por ela, por nós, mas a realidade estava me puxando para longe.

Destinados || Florian WirtzOnde histórias criam vida. Descubra agora