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AYANNA ROMANOV:

Dois dias haviam se passado desde aquela noite intensa com o Florian, e as coisas entre nós estavam... complicadas, pra dizer o mínimo. Não era exatamente um relacionamento oficial, mas a gente estava juntos, se vendo sempre que podia, e fingindo que o mundo lá fora não existia. Era como se estivéssemos num limbo — algo entre o passado e o futuro, sem saber ao certo pra onde isso tudo ia nos levar.

Naquele dia, eu estava na reta final da produção da pequena série sobre o Xabi. As entrevistas com os jogadores estavam quase todas feitas, e o último episódio estava prestes a ser gravado. Eu estava acompanhando o treino do Bayer no campo, distraída entre as gravações e meus pensamentos, quando vi Wirtz correndo em direção ao gol. Ele se posicionou, e, com uma precisão que me fez sorrir, chutou a bola direto pra rede.

Assim que o gol saiu, Florian se virou, olhou diretamente pra mim, e, sem hesitar, formou um coração com as mãos, me enviando um sorriso que fez meu estômago dar voltas. Corei instantaneamente, tentando disfarçar enquanto olhava em volta, certificando-me de que ninguém tinha percebido o gesto. Mas, claro, alguém sempre percebe.

Xabi Alonso, que estava ao meu lado, acompanhando o treino como técnico, olhou pra mim com aquele sorriso ligeiramente curioso que só um veterano experiente como ele saberia fazer.

— Parece que ele tá jogando mais inspirado ultimamente, né? — Xabi comentou casualmente, mas com aquele tom de quem sabia exatamente o que estava acontecendo.

Eu ri, tentando desconversar.

— Ah, ele tá focado, isso ajuda, né? — falei, sem dar muito espaço pro assunto, mas era claro que ele não ia deixar passar.

Xabi virou-se totalmente pra mim, cruzando os braços enquanto me observava com aquele olhar analítico.

— Vamos lá, você sabe que não sou bobo, — ele disse, em um tom quase paternal. — O Florian não consegue disfarçar nada, principalmente quando se trata de você. Estão juntos, né?

Suspirei, sabendo que seria inútil tentar esconder algo de Xabi. Ele tinha essa maneira tranquila de fazer você se abrir, sem precisar insistir muito.

— Estamos... ficando, — confessei, olhando para os jogadores no campo como se aquilo fosse disfarçar a intensidade da conversa. — Mas não sei se é o certo, sabe? Tem tanta coisa acontecendo, tanta bagagem...

Xabi sorriu, assentindo como se já soubesse exatamente o que eu ia dizer.

— A vida é complicada, isso é fato, — ele disse, colocando uma mão no meu ombro de forma reconfortante. — Mas o que você e o Florian têm, parece real. Parece algo que vale a pena. E, às vezes, o que mais nos assusta é justamente o que mais precisamos.

Eu absorvi aquelas palavras por um momento. Ele estava certo, de certa forma, mas ainda assim, havia dúvidas que me consumiam. Florian e eu tínhamos uma história, e era uma história complicada, cheia de altos e baixos, de decisões erradas e de sentimentos confusos.

— E o que eu faço com o medo, Xabi? — perguntei, virando-me pra ele. — Como eu sei que isso não vai ser só mais um erro no meio de tantos outros?

Ele deu de ombros, sorrindo de leve.

— Você não sabe. Ninguém nunca sabe. Mas o importante é que você está tentando. Isso já é um grande passo. E pelo que vejo nos olhos do Florian, ele está fazendo o mesmo. Ele quer estar com você, isso é visível pra qualquer um que observe. Agora, se vai dar certo ou não, só o tempo vai dizer.

Eu sorri de volta, agradecendo silenciosamente pela sinceridade.

— Vocês merecem ser felizes, — Xabi acrescentou. — E não se preocupe tanto com o que os outros vão pensar. Se isso faz sentido pra vocês dois, já é o suficiente.

Destinados || Florian WirtzOnde histórias criam vida. Descubra agora