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AYANNA ROMANOV:

Acordei com os primeiros raios de sol filtrando pela cortina do quarto, uma luz suave que contrastava com o turbilhão de emoções que sentia. Wirtz ainda estava dormindo ao meu lado, com o rosto sereno e despreocupado, mas meu coração estava em um estado oposto. Desde que vi aquela caixinha, meu peito acelerava a cada lembrança, e o peso da situação parecia aumentar a cada segundo.

Levantei da cama cuidadosamente, para não o acordar. O silêncio no quarto era quase ensurdecedor, e me vi envolta em pensamentos que corriam como um rio agitado. A caixinha, o teste de gravidez, a possibilidade de que Clara estivesse esperando um filho dele—tudo isso ecoava na minha mente. Era difícil não me sentir traída, mas eu também sabia que precisava ser forte.

Fui até o banheiro e tomei um banho rápido, deixando a água quente aliviar um pouco da tensão que sentia. Enquanto me ensaboava, olhei para o reflexo no espelho. Meu rosto estava pálido, os olhos marcados pelo cansaço. Eu precisava me arrumar, me preparar para o que o dia traria. Assim que terminei, sequei o cabelo e comecei a me vestir.

Escolhi uma blusa leve e confortável, com uma calça jeans que me deixava à vontade. Na verdade, só conseguia pensar em como as coisas haviam mudado tão rapidamente. Depois do café da manhã em que tentamos lidar com a realidade, a ideia de que Wirtz faria o teste com Clara era uma faca de dois gumes. Parte de mim queria torcer para que a criança não fosse dele, mas outra parte sabia que isso não significava que ele fosse voltar a ser completamente meu.

Com as malas arrumadas, dei uma última olhada para Wirtz, que continuava dormindo tranquilamente. Uma parte de mim desejava que ele estivesse acordado, para que pudéssemos conversar e ele pudesse me garantir que tudo ficaria bem, que ele lutaria por nós. Mas a realidade é que, naquele momento, a situação era incerta.

Decidi que não poderia deixar que isso me consumisse. Eu tinha trabalho a fazer. Peguei meu celular e vi as mensagens da equipe de produção. O penúltimo episódio da série sobre Xabi estava prestes a ser gravado, e eu precisava me concentrar. A adrenalina começou a fluir enquanto pensava nas entrevistas que tinha que realizar e nas imagens que precisava capturar.

Assim que cheguei ao centro de treinamento, a atmosfera estava vibrante. Os jogadores se aqueciam, e o cheiro do gramado recém-cortado me fez sentir um pouco mais no controle. Mas à medida que os minutos passavam, eu ainda estava presa na confusão de sentimentos que me cercavam.

A equipe já estava no local, e fui recebida com sorrisos e cumprimentos. Eu estava ansiosa para gravar, mas a ideia de Wirtz fazendo o teste com Clara pairava na minha mente como uma nuvem negra. Comecei a preparar o material e a checar as pautas. O clima estava elétrico e, mesmo que tentasse me concentrar, a imagem de Wirtz e Clara aparecia incessantemente em minha mente.

Assim que o treino começou, fiz questão de me colocar no modo de trabalho. Era hora de esquecer a confusão emocional e me focar no que eu sabia fazer de melhor: produzir conteúdo. A equipe de filmagem se organizou, e eu revisei os pontos que precisava abordar nas entrevistas com os jogadores.

À medida que o treino avançava, consegui capturar momentos genuínos de descontração e amizade entre os atletas. A energia era contagiante, e eu comecei a me perder na empolgação do trabalho. Mas sempre que olhava para Wirtz, ele parecia distante, como se uma parte dele estivesse em outro lugar—talvez, com Clara. A ideia me machucava.

O tempo passou e, quando finalmente finalizei as gravações, fui abordada por alguns dos jogadores, entre eles Xabi, que parecia perceber que algo não estava certo. Ele se aproximou e, em tom de preocupação, perguntou:

— Você está bem, Ayanna? Pareceu um pouco fora do lugar hoje.

Tentei sorrir, mas a verdade estava estampada no meu rosto.

Destinados || Florian WirtzOnde histórias criam vida. Descubra agora