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AYANNA ROMANOV:

Uma semana havia se passado desde o caos que me fez voltar para Madrid, mas, surpreendentemente, a vida parecia normal. Eu tentava me concentrar em cada passo do meu dia, mantendo a mente ocupada com as rotinas diárias, o trabalho, e, claro, com Jorge. Nada parecia ter mudado de verdade, mas a sensação de algo prestes a explodir ainda estava no ar.

Naquele dia, estava indo para o Santiago Bernabéu com Jorge e Valentina, minha amiga que tinha acabado de voltar do Brasil. Ela sempre trazia um ar de leveza onde quer que fosse, e estar com ela me ajudava a esquecer um pouco da montanha-russa emocional que vinha enfrentando.

— Ai, amiga, sério, você não imagina o calor que tava lá no Rio — Valentina dizia, enquanto ajeitava os óculos de sol no rosto. — Não via a hora de voltar pra esse friozinho gostoso de Madrid. E você, como tá?

— Ah, tô bem... — murmurei, meio distraída, enquanto ajeitava Jorge no banco de trás. Ele estava quietinho, brincando com um bonequinho do Real Madrid que Jude tinha dado pra ele. — Na correria de sempre, né?

Valentina me olhou de lado, percebendo que eu estava tentando esconder alguma coisa.

— Sei... E o Wirtz? Como ficou aquela situação toda?

Suspirei, evitando olhar diretamente para ela. — Resolvi me afastar. Não tô mais afim de complicar minha vida, sabe?

Valentina assentiu, mas sabia que ela entendia muito mais do que estava disposta a falar naquele momento.

Chegamos ao estádio e a movimentação já era intensa, com torcedores entrando e o som dos cânticos ecoando ao redor do Bernabéu. Havia uma certa magia no ar toda vez que estávamos ali. Jorge, que estava no meu colo, começou a se agitar ao ver o estádio. Ele sabia o que estava por vir.

— Pronto, filho, vamos lá ver o papai — falei, com um sorriso, enquanto ele olhava para mim com aqueles olhos curiosos e animados.

Valentina ria, observando a cena. — Ele vai roubar a cena entrando em campo com o Jude, certeza. Jorge é o mini-craque do futuro.

Andamos pelos corredores movimentados, passando por seguranças e funcionários do estádio que nos cumprimentavam com sorrisos gentis. Jude já estava lá dentro, se preparando para o jogo, e a grande surpresa era que Jorge iria entrar com ele em campo naquela partida. Eu sabia o quanto isso significava para Jude, e para Jorge também, mesmo que ele ainda fosse muito pequeno para entender a dimensão daquilo tudo.

Chegamos ao túnel que dava acesso ao campo, e lá estava Jude, já uniformizado e de costas, falando com alguns dos seus companheiros de time. Quando nos viu, abriu um sorriso enorme e veio até nós.

— Ei, campeão — Jude disse, estendendo os braços para pegar Jorge. — Tá pronto pra entrar em campo com o papai?

Jorge, embora ainda não falasse muito, soltou uma risadinha e estendeu os bracinhos para Jude. Meu coração derreteu ao ver os dois juntos.

— Tá a coisa mais linda, Jude — falei, enquanto ele ajeitava Jorge em seus braços. — Você tem certeza que ele vai aguentar até o final?

— Claro! — Jude sorriu, orgulhoso. — Ele é forte, como o pai dele.

Valentina, sempre a piadista, não perdeu a chance. — Tá se achando agora, hein?

Rimos, mas eu estava tentando esconder a mistura de emoções que sentia. Ver Jude com Jorge ali, prestes a entrar em campo, me enchia de orgulho e, ao mesmo tempo, de saudade de algo que nunca cheguei a ter com ele de verdade. Nossa história era complexa, e tudo parecia estar em um estranho equilíbrio. Eu sabia que, mais cedo ou mais tarde, esse equilíbrio poderia ruir.

Destinados || Florian WirtzOnde histórias criam vida. Descubra agora