28

69 5 0
                                    

AYANNA ROMANOV:

Entrei no quarto com a cabeça cheia, tentando processar a conversa que tive com a mãe do Wirtz. Aquilo tudo pesava em mim como uma corrente invisível. Senti o nó na garganta apertar mais, mas me recusei a chorar ali, não naquele momento. Eu precisava relaxar, respirar, e tomar um banho parecia a única maneira de clarear a mente.

Caminhei até o banheiro e deixei a água quente cair sobre mim, esperando que isso ajudasse a lavar as preocupações, mesmo que só por alguns minutos. Lavei o cabelo com calma, tentando não pensar em Clara, no bebê, ou nas palavras da mãe do Wirtz. Mas era impossível desligar. A cada segundo, minha cabeça voltava para a mesma questão: será que eu era realmente um peso na vida dele?

Depois de longos minutos debaixo do chuveiro, saí, sequei-me e vesti um pijama confortável. Era tarde, e tudo o que eu queria naquele momento era dormir e esquecer. Mas, antes disso, ainda precisava secar o cabelo. Fui até o closet de Wirtz procurar meu secador, mexendo nas gavetas e nas prateleiras, quando, de repente, um monte de papelada caiu no chão.

Eu me senti como se estivesse vivendo um pesadelo. O cheiro suave do sabonete ainda estava na minha pele, o cabelo pingava um pouco de água no chão, mas nada disso importava. O que estava na minha frente era muito mais aterrador. Aquele contrato e o convite de casamento com o nome de Wirtz e Clara... Era como um soco no estômago.

Como ele poderia ter escondido algo tão grande? Casamento? Uma data definida? Ele estava jogando sujo com todas as palavras doces que dizia pra mim, e agora eu estava diante da verdade nua e crua.

Respirei fundo, tentando manter a calma, tentando fazer qualquer sentido daquilo. Meus olhos percorriam as palavras no papel, enquanto meu coração batia descontrolado no peito. Clara tinha planejado tudo. Era como se eu tivesse sido apenas uma distração, algo temporário. E agora, o plano verdadeiro estava bem ali, diante de mim.

Eu segurei o contrato com mais força, meus dedos tremendo. Como ele poderia me dizer que me amava, que queria construir algo comigo, enquanto tinha um contrato de casamento assinado com ela? Cada detalhe que li fazia tudo piorar. Acordos financeiros, um cronograma de eventos, uma data de casamento que estava bem ali, marcada com caneta. O chão parecia ter desaparecido sob meus pés.

Naquele momento, eu sabia que precisava sair dali. Não tinha mais espaço pra mim na vida dele, não depois de tudo isso. Eu merecia mais do que ser a segunda opção, alguém que ele tentava manter ao lado enquanto fazia acordos com outra mulher.

Decidi que iria embora, mas tinha que ser silenciosa. Não queria confrontá-lo naquele momento. Qual seria o ponto? Ele já havia tomado suas decisões, por mais que não tivesse tido coragem de me contar. Eu iria me despedir de forma discreta, sem alarde. Faria minhas malas, sairia da vida dele, e ele ficaria livre para seguir com o casamento planejado com Clara.

Deixei o contrato onde o encontrei e fui até o armário, pegando minha mala. Comecei a organizar minhas coisas calmamente, separando o que era meu e o que poderia deixar pra trás. Quanto mais eu dobrava minhas roupas e as colocava na mala, mais clara se tornava a minha decisão: eu precisava voltar para Madrid, para a minha própria vida, onde eu não seria apenas uma sombra na vida de outra pessoa.

Wirtz entrou no quarto logo depois, e eu me virei rapidamente, forçando um sorriso enquanto tentava disfarçar o tumulto de emoções dentro de mim. Ele parecia cansado, mas ainda assim sorriu ao me ver, sem saber do que eu havia descoberto.

— Oi, amor — ele disse, enquanto tirava o casaco. — Como foi seu dia? Parece que o jogo foi um sucesso.

Eu mal conseguia olhá-lo nos olhos. Cada palavra que ele dizia soava vazia agora, sabendo o que eu sabia.

Destinados || Florian WirtzOnde histórias criam vida. Descubra agora