Capítulo 18

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Meu corpo doía.

Foi a primeira coisa que eu senti enquanto, sonolenta, tentava me adaptar com a recém retomada consciência.

Sentia o meu corpo mais pesado que o normal, o que talvez fosse o fruto de uma noite longa de sono, com a qual eu já havia me acostumado.

Pensei que a luz do dia machucaria meus olhos sensíveis ao sono, porque como bem me lembrava, as cortinas das janelas estavam abertas na noite anterior.

A persiana estava fechada, fazendo com que o quarto ficasse iluminado apenas por uma luz fraca, vinda de uma grande luminária estilizada do outro lado do cômodo.

Estranhei, porque por mais que a claridade exterior estivesse bloqueada, o quarto certamente não estaria com aquela aparência.

Me virei para o lado, ficando agora mais ciente das dores em meu corpo, e constatei que estava sozinha no quarto.

Foi então que reparei no relógio da escrivaninha ao lado, que mostrava as horas atuais.

18:46

- QUE?

Levantei rápido, ignorando as dores musculares, e olhei em volta, procurando por outro relógio para me certificar de que não eram quase 19h.

Como não achei nenhum, corri para o banheiro e achei sobre a bancanda em frente ao espelho um relógio de pulso que agora marcava 18:47h.

- Droga...

Mas onde ela estava, afinal das contas? Por que não me acordou para pedir que eu fosse embora?

- Merda! Merda!

Levei alguns segundos rodopiando feito barata tonta no mesmo lugar, tentando lembrar onde havia deixado minhas roupas da noite anterior.

Finalmente olhei para cima e vi minha calcinha e meu vestido pendurados no gancho atrás da porta, a poucos centímetros de mim.

Peguei as peças de roupa e me vesti rapidamente, pensando agora em muitas coisas ao mesmo tempo.

Eu podia lembrar das poucas vezes em que havia sido permitida dormir na cama de um cliente, e em todas elas eu era acordada às pressas por clientes que só queriam que eu fosse embora o mais rápido possível.

Aparentemente, essa havia sido a primeira vez em que todo esse tempo isso não havia acontecido.

Calcei meus sapatos e lavei o rosto apressadamente, bochechando com um enxaguante bucal de menta que estava em cima do balcão e penteando com os dedos meus cabelos, tentando desfazer alguns nós nas mechas.

Finalmente me olhei no espelho e me assustei um pouco com o meu estado.

Meus lábios estava mais vermelhos que o normal e em meu pescoço tinha vários chupões.

Reparei então que os hematomas se espalhavam pelo meu corpo, e embora aquilo fosse algo conhecido para mim, não pude deixar de ficar surpresa, já que havia algum tempo desde que a última marca havia aparecido.

Quando me dei conta de que não ia ficar muito melhor do que aquilo, saí já a procura da minha bolsa, que deveria estar em algum lugar do quarto.

Encontrei a pendurada na maçaneta da porta, então virei novamente e vi uma cama extremamente desarrumada, com lençóis de edredom enrolados e vários travesseiros quadrados e pequenos espalhados pelo chão.

Dobrei e arrumei tudo com pressa, colocando cada coisa em seu devido lugar, e só então sair.

Naquele momento, eu não sabia se tentava ser discreta e não fazer barulho até chegar à porta, com um certo receio de ter que encará-la de novo, ou se ia à sua procura pela casa, podendo usar como exigência do pagamento pelo programa da noite anterior.

everything i wanted // Billie Eilish Onde histórias criam vida. Descubra agora