Desejo

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Pov: Kit

O silêncio que tomou conta da sala depois da nossa última troca de palavras era ensurdecedor. O som das nossas respirações pesadas preenchia o espaço, e cada segundo que se passava parecia se alongar, esticando o tempo de uma forma estranha, desconfortável. Estávamos nos encarando, mas não era só raiva que existia entre nós. Eu podia ver no rosto de Nina o mesmo turbilhão que se formava dentro de mim. Havia frustração, mágoa, e algo mais profundo que nenhuma de nós queria admitir abertamente.

Eu sempre achei que entendia Nina, que sabia ler cada pequeno gesto, cada olhar. Mas agora, naquele momento, eu me sentia perdida. Era como se ela estivesse mais distante do que nunca, mesmo estando a poucos metros de mim. E isso me deixava louca. Ela cruzou os braços, mas dessa vez, não era um gesto de raiva; parecia mais uma tentativa de se proteger, de manter alguma distância emocional que estava se desfazendo diante dos nossos olhares.

— Você não pode simplesmente continuar assim — a voz dela quebrou o silêncio, mas havia algo diferente agora. Não era só uma acusação, havia dor ali. Uma vulnerabilidade que me pegou desprevenida.

Eu engoli em seco, sentindo minha garganta apertar. Eu queria responder, queria encontrar as palavras certas, mas tudo que vinha à minha mente parecia insuficiente, raso. Em vez disso, dei um passo à frente, como se o movimento pudesse me ajudar a entender o que estava acontecendo. Mas a verdade é que eu não sabia o que dizer. Meu coração estava batendo forte no peito, e o que quer que fosse aquilo que nos separava estava se transformando em algo mais. Algo tangível.

Os olhos dela não desviaram dos meus, e naquele momento, eu sabia que não era só raiva que estava nos unindo. A tensão era algo quase físico, como se eu pudesse estender a mão e tocá-la. Eu sabia o que estava para acontecer, mas não conseguia prever como. Era inevitável, como se algo maior estivesse nos puxando uma para a outra.

E então, sem qualquer aviso, nós nos movemos. Eu nem sei como começou, mas num instante estávamos longe, e no outro, nossas bocas se encontraram com uma força quase desesperada. O gosto dos lábios dela, a sensação da pele quente e úmida contra a minha, era tudo o que eu conseguia processar. Meu corpo parecia agir sozinho, minhas mãos correndo para o cabelo dela, puxando-a com urgência. Não era um beijo calmo ou reconfortante — era um beijo feroz, como se estivéssemos lutando para sentir cada centímetro uma da outra.

Eu a empurrei contra a parede antes que percebesse o que estava fazendo, a respiração dela se tornando mais rápida e entrecortada. Era como se todas as barreiras que construímos com as palavras fossem desfeitas de uma só vez, e tudo que restava era a necessidade crua que sentíamos uma pela outra. Nossas bocas se separaram apenas por breves momentos, o suficiente para que eu pudesse olhar nos olhos dela, vendo o mesmo desejo que me consumia. Ela me puxou para mais perto, seus dedos apertando meus ombros com força.

Nina sempre teve essa capacidade de me desarmar, de me fazer perder o controle de uma maneira que mais ninguém conseguia. E ali, naquele momento, era exatamente o que eu queria. O calor entre nós era quase sufocante, nossos corpos se moviam com uma urgência quase primitiva, como se estivéssemos tentando apagar cada vestígio da discussão com o toque uma da outra. Eu senti o cheiro da pele dela, o gosto de seus lábios, e a textura familiar de seu corpo contra o meu.

Mas antes que a urgência do momento nos tomasse por completo, senti a mão dela segurar a minha, um gesto rápido, mas com uma firmeza que dizia tudo. Ela não precisava falar. Eu sabia. Ainda ofegantes, nossos olhares se encontraram mais uma vez. Havia algo ali que eu reconheci de imediato — um pedido silencioso de um momento mais nosso, longe das sombras do que tínhamos acabado de discutir.

Sem pensar muito, sem palavras, a leve pressão de sua mão me guiou para fora da sala. Ela me puxou em direção ao quarto, nossos passos apressados ecoando no corredor. O caminho até a cama parecia um turbilhão de emoções, uma mistura de raiva, desejo e uma necessidade avassaladora de estar perto dela, de tocá-la. Quando chegamos ao quarto, ela me empurrou suavemente para a cama, sua respiração pesada contrastando com o gesto inesperadamente gentil.

Caímos juntas sobre os lençóis, e o mundo ao nosso redor pareceu desaparecer. Não havia mais discussões, não havia mais mágoas imediatas. Havia apenas nós, os corpos entrelaçados, movendo-se em um ritmo que alternava entre a urgência do momento e a suavidade de um desejo profundo, acumulado ao longo do tempo.

Nossas roupas foram arrancadas com pressa, sem hesitação. Eu senti o calor da pele dela contra a minha, e aquilo me deixou sem fôlego por um momento. Mas só por um momento. Logo, minhas mãos percorriam suas costas, sua cintura, cada curva que eu conhecia tão bem e ainda assim parecia nova, diferente, urgente.

Nina gemeu, um som rouco que reverberou no quarto, e eu senti o corpo dela se aproximar ainda mais do meu. Cada toque, cada movimento, era cheio de uma intensidade quase impossível de conter. E ao mesmo tempo, havia uma ternura escondida ali, no fundo de toda aquela paixão.

A cama se tornou nosso refúgio, um lugar onde podíamos nos desfazer de qualquer resquício da discussão que nos trouxe até ali. O ritmo entre nós mudava, às vezes calmo e cheio de carinho, outras vezes rápido e quase desesperado. Eu a puxava para mais perto, querendo sentir cada parte dela contra mim, e ela respondia com a mesma intensidade. Seus dedos corriam pelas minhas costas, deixando rastros de calor que faziam meu corpo se arquear involuntariamente.

Eu nunca me cansava de Nina, nunca deixava de me perder naquele momento em que éramos apenas nós, sem barreiras, sem máscaras. O som de nossas respirações, o contato das nossas peles, era o único som no quarto. E por mais que as palavras tivessem nos falhado antes, ali, elas não eram mais necessárias.

Finalmente, quando o frenesi diminuiu e nossos corpos relaxaram, nos deixamos cair, exaustas, entre os lençóis. O silêncio voltou, mas desta vez, não era opressor. Era um silêncio de compreensão mútua, de paz temporária. Eu me virei para olhar para Nina, e vi o mesmo cansaço satisfeito no rosto dela.

Ela me puxou para mais perto, suas mãos deslizando preguiçosamente pelas minhas costas, e ficamos ali, em silêncio, nossos corpos ainda juntos, os corações batendo mais devagar. Não havia mais mágoa, não havia mais discussão. Pelo menos não agora. No fundo, sabíamos que as coisas não estavam completamente resolvidas, mas naquela noite, o que importava era a conexão que tínhamos, o modo como sempre encontrávamos o caminho de volta uma para a outra, mesmo nas tempestades.

Moments - KitninaOnde histórias criam vida. Descubra agora