Moments - Kitnina

Memories II

Pov: Nina

Há dias o pensamento de Quinn não me deixava em paz. Ela havia sido uma presença constante, mas agora, depois daquele beijo, algo mais profundo se enraizou em mim. Era como se uma janela tivesse se aberto e eu pudesse sentir o vento de uma vida que deveria ser minha, uma vida com ela.

Cada vez que eu tentava afastar a ideia, uma sensação cálida me invadia. Meus lábios ainda lembravam do toque dos dela, como se fosse uma marca, uma memória que meu corpo reconhecia, mesmo que minha mente insistisse em apagá-la. Eu queria entender, me aproximar dela de um jeito que talvez reacendesse aquilo que ainda estava apagado em mim. Por isso, decidi fazer algo que nunca imaginei que faria, não com a minha chefe — embora essa palavra me parecesse estranha ao falar de Quinn, como se não fosse suficiente para descrever a complexidade de nossa ligação.

Respirei fundo e me aproximei dela no final da tarde. Quinn estava revisando alguns papéis no café, e parecia tão concentrada que hesitei por um segundo. Mas, ao notar minha presença, ela levantou o olhar e um sorriso pequeno, quase tímido, surgiu em seus lábios. Isso me deu a coragem que precisava.

— Quinn… você gostaria de sair comigo hoje à noite? Pensei em algo diferente, uma... espécie de encontro — disse, hesitante, enquanto tentava não soar desajeitada.

Os olhos dela brilharam, como se ela tivesse segurando a respiração por dias, à espera de algum movimento meu. Ela assentiu, e o sorriso aumentou um pouco, talvez pela surpresa, talvez pela esperança de que aquela noite pudesse ser mais uma peça para reconstruirmos o que havíamos perdido.

---

Algumas horas depois, eu a levei até uma praia tranquila, um lugar que eu havia descoberto pouco tempo antes. Chegamos pouco antes do pôr do sol, e as ondas quebravam suavemente sobre a areia, trazendo consigo uma paz que combinava com o clima suave do entardecer. Caminhamos lado a lado, e eu podia sentir a presença dela, sólida, quente. Algo sobre estar ali com Quinn tornava o cenário ainda mais bonito, como se o lugar tivesse sido feito para nós duas.

Eu não sabia o que dizer. Havia muito a ser explorado, muitas perguntas para fazer, mas o silêncio ao lado dela parecia suficiente. Quando paramos diante do mar, o sol já começava a mergulhar no horizonte, tingindo o céu com tons de laranja e rosa que se refletiam na superfície tranquila da água. Era um espetáculo sereno, como uma pintura sendo criada em tempo real.

Quinn estava de olhos fechados, respirando profundamente, e me peguei observando-a com atenção, como se cada detalhe fosse uma pista para o quebra-cabeça da minha própria vida. Havia algo na suavidade dos traços dela, no modo como ela sorria com uma ternura quieta, que despertava em mim uma emoção que eu não conseguia nomear, mas que aquecia meu peito.

— É lindo aqui — ela comentou, e sua voz parecia mais suave, como se fosse parte da própria paisagem.

— Eu quis te trazer aqui porque... sinto que isso é algo que faria por alguém importante para mim — confessei. Não sabia exatamente o que esperava ouvir dela, mas precisava dizer aquilo.

Quinn sorriu de um jeito triste e belo, e virou-se na minha direção. Havia algo de vulnerável nela que me tocou, e antes que eu percebesse, meu corpo estava se aproximando mais. Ficamos tão próximas que eu podia ouvir sua respiração, tão leve, entrecortada, como se ela também estivesse tentando reunir palavras e coragem.

— Você ainda é importante para mim, Nina. Eu estou aqui para que possamos reencontrar o que perdemos, juntas. Isso tudo… você não tem ideia do quanto significa para mim — respondeu ela, e seu olhar parecia mergulhar fundo nos meus.

O pôr do sol estava na metade, e o mundo ao redor foi se apagando até restarem apenas nós duas. Eu a observei e, pela primeira vez, deixei que minha mão encontrasse a dela, segurando-a, sentindo seu calor, sua presença real. Ficamos ali, mão na mão, por um instante que parecia esticado no tempo, tão familiar quanto misterioso.