Rain

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Prov: Nina

A chuva batia no vidro da janela com uma intensidade quase ensurdecedora, como se o céu quisesse espelhar a tempestade que acontecia dentro de mim. Minha cabeça latejava, o gosto amargo das últimas palavras que trocamos ainda preso na minha garganta. Tudo pareceu desmoronar tão rápido, e agora eu não conseguia enxergar nada além da escuridão lá fora.

Eu estava tão cansada. Cansada de gritar, de lutar. Cansada de sentir que nós duas, eu e Quinn, estávamos nos distanciando mais e mais, como se a tempestade entre nós fosse maior do que qualquer coisa que pudéssemos controlar. E, então, naqueles poucos segundos de silêncio pesado, fiz o que parecia ser a única coisa possível: peguei meu casaco, abri a porta, e corri.

A chuva me atingiu com força no momento em que cruzei a soleira. As gotas eram grandes e pesadas, uma mistura de frio e desespero que invadiu meu corpo e, de alguma forma, acalmou o caos dentro de mim. Minhas roupas ficaram encharcadas quase instantaneamente, o tecido pesado contra minha pele, mas não me importei. Eu só queria me afastar, sair daquele ambiente sufocante, escapar do peso das palavras que havíamos jogado uma na outra.

Minhas pernas mal pareciam minhas enquanto eu corria pela rua vazia, o som da água batendo no asfalto ecoando em meus ouvidos. Não havia mais nada além do som da chuva. A cidade, as luzes, tudo estava borrado, como se o mundo estivesse desmanchando ao meu redor. E, dentro de mim, uma dor profunda. Eu me perguntava se tudo estava realmente desmoronando, se Quinn e eu estávamos condenadas.

Então, ouvi sua voz. No início, era apenas um murmúrio abafado, quase perdido entre os trovões. Mas, logo, ela ficou mais alta. Ela estava atrás de mim.

- Nina! Espera, por favor!

Eu parei por um segundo, hesitante, o coração batendo tão rápido que parecia impossível ignorá-lo. Meu instinto foi continuar, me afastar mais, mas meus pés pareciam grudados ao chão, presos entre a chuva e o asfalto. O som dos passos dela se aproximando me alcançou antes que eu tivesse tempo de decidir o que fazer.

Quando virei, lá estava ela, correndo em minha direção, completamente encharcada. O cabelo dela, normalmente tão bem arrumado, estava grudado no rosto. A blusa leve que ela usava estava colada ao corpo, a calça jeans escura já não tinha mais cor, apenas uma mancha molhada. E o olhar em seus olhos... era de desespero.

- Nina, por favor... por favor, não vai.

Eu fechei os olhos por um momento, tentando acalmar as emoções que subiam à superfície. Minha voz saiu mais áspera do que eu queria.

- Quinn, eu não... eu não consigo mais. A gente sempre acaba aqui, sempre assim.

Ela parou a poucos metros de mim, ofegante, mas não tentou se aproximar mais. As gotas de chuva desciam pelo seu rosto como lágrimas, misturando-se com o frio ao redor. E então, ela falou de novo, sua voz baixa, quebrada.

- Eu sei. Eu sei que as coisas estão difíceis. Sei que a gente tem se machucado demais. Mas... eu te amo, Nina. Amo mais do que tudo.

Senti um aperto no peito, algo que me cortou de uma maneira que eu não esperava. Ela estava ali, debaixo da chuva, completamente vulnerável, e ainda assim... eu não sabia se conseguia confiar naquilo. Não sabia se aquilo era o suficiente.

- Não é só sobre amor, Quinn. Às vezes parece que a gente... se perdeu. Você não me escuta mais, eu me sinto tão... invisível.

Ela se aproximou, finalmente, devagar, como se tivesse medo de me assustar, mas sem hesitar. Parou a poucos centímetros de mim, e seus olhos, tão sinceros e intensos, me prenderam de uma forma que me fez esquecer o frio.

- Eu escuto agora, Nina. Eu juro que estou ouvindo. Não sei como a gente chegou aqui, mas eu não quero que acabe assim. Eu não consigo imaginar minha vida sem você.

Eu queria acreditar. Queria tanto. Mas a dor ainda estava ali, afiada e real. As brigas, as palavras duras, tudo ainda parecia tão presente. E, no entanto, algo na maneira como ela me olhava, na forma como sua voz quebrava levemente a cada palavra, me fazia querer dar mais uma chance.

A chuva não dava trégua, caía em nós duas como se tentasse nos lavar de toda a mágoa. A água escorria pelo meu rosto, e eu me perguntei se estava chorando ou se era apenas o céu fazendo o que eu não conseguia. Sentia o frio invadir minha pele, mas a presença dela, tão próxima, me trazia uma pequena chama de calor que eu não podia ignorar.

- Por favor, Nina. Me perdoa. Eu prometo... prometo que vou ser melhor. Vou lutar por nós. Eu te amo tanto que dói.

A sinceridade na voz dela me desarmou. Não havia mais as máscaras que sempre colocávamos durante as discussões. Não havia mais desculpas, defesas. Apenas nós duas, molhadas e quebradas, mas ainda de pé.

Eu senti o nó na minha garganta se desfazer, e antes que pudesse me controlar, as lágrimas vieram, misturando-se à chuva.

- Eu... eu também te amo, Quinn.

Ela deu um passo à frente, e, sem pensar, me entreguei ao abraço dela. Senti o calor do seu corpo através das roupas molhadas, seus braços me envolvendo com força, como se estivesse me segurando para não me deixar ir. E, naquele momento, percebi que eu não queria ir. Não queria fugir.

Ela afastou o rosto o suficiente para me olhar nos olhos, e ali, no meio da tempestade, sem dizer mais uma palavra, ela me beijou. O gosto da chuva ainda estava em seus lábios, mas tudo o que senti foi o calor, a intensidade de seu amor, sua promessa não dita. O beijo era terno, mas cheio de uma urgência, como se, através daquele gesto, ela quisesse apagar toda a dor que havíamos causado uma à outra.

E, por um momento, a chuva ao nosso redor parecia menos importante. Tudo o que eu sentia era ela. Tudo o que importava era o que ainda tínhamos. O que ainda poderíamos ser.

Quando nos afastamos, a respiração dela estava entrecortada, e ela encostou a testa na minha, sem soltar minhas mãos. Seus olhos estavam cheios de esperança, e pela primeira vez em semanas, eu senti a mesma coisa.

- Vamos para casa, Quinn - sussurrei, minha voz finalmente suave.

Ela sorriu, um sorriso pequeno e sincero, o tipo de sorriso que me fez me apaixonar por ela desde o começo.

- Vamos.

Moments - KitninaOnde histórias criam vida. Descubra agora