Caos

589 75 4
                                    

Pov: Nina

A respiração queimava nos meus pulmões, cada passo era como um martelo batendo nos meus músculos. Mas eu não podia parar. Nós não podíamos parar. Corríamos por uma viela apertada, os sons dos gritos e disparos ecoando atrás de nós. Eu sentia o calor de Quinn ao meu lado, seus pés batendo no chão, acompanhando os meus. Nosso mundo estava desmoronando ao redor.

O caos era como uma onda implacável. Não sabia como havíamos chegado ali, mas sabíamos que éramos um alvo, que eles queriam nos matar. Eu só sabia que não podíamos ser pegas. As luzes das sirenes piscavam ao longe, e o eco dos passos dos nossos perseguidores não nos dava tempo para pensar. Apenas correr.

Quinn liderava o caminho, seus olhos escuros atentos a cada canto, procurando uma saída. Sua mão agarrou a minha com força, e eu senti a tensão em seu aperto, o medo, o instinto de sobrevivência.

- Por aqui! - ela sussurrou, puxando-me para uma rua estreita que quase não víamos no escuro. Nos jogamos contra a parede, tentando controlar nossa respiração enquanto os passos de nossos caçadores se aproximavam, abafados pelos sons da cidade em colapso.

Era sempre assim com Quinn. Mesmo no meio do caos, ela estava atenta a tudo. Forte, impenetrável, como uma muralha que ninguém conseguiria derrubar. Ela nunca deixava transparecer suas emoções. Sempre a mais dura, a que assumia o controle, mesmo quando tudo à nossa volta gritava o contrário.

Eu, por outro lado, tentava não desmoronar. Não éramos apenas fugitivas naquele momento; éramos dois corações pulsando, entrelaçados pela necessidade de sobrevivência, mas também por algo que eu não sabia nomear, algo que eu sentia há muito tempo.

A dor nos meus músculos era insuportável. Minha perna direita latejava, fruto de uma queda de mais cedo, e, por mais que tentasse ignorar, sabia que não conseguiria continuar por muito mais tempo. Quinn percebeu. Ela sempre percebia.

- Você está machucada? - Sua voz era uma mistura de preocupação e impaciência. Ela olhou para minha perna, os olhos se estreitando. Não queria ser um peso, mas já éramos íntimas o suficiente para não precisar esconder.

- Estou... estou bem - menti, ainda que de forma fraca. Ela me olhou por um segundo, incrédula.

- Você não está. Deixe-me ver.

- Não temos tempo para isso, Quinn. Eles estão atrás de nós.

- Se você desmaiar, aí é que não teremos tempo.

Ela se abaixou, observando meu ferimento. Quando seus dedos roçaram minha pele, mesmo sob o pano da calça, algo passou entre nós. O calor da sua mão contrastava com o frio que sentia no meu corpo, e eu não sabia se era o medo ou... algo mais. Tentei afastar esse pensamento.

- Certo, vai doer um pouco - ela disse, arrancando um pedaço da camisa dela para fazer uma bandagem improvisada. Enquanto o caos ainda rugia ao nosso redor, ela cuidava de mim. E aquele gesto, pequeno em meio ao inferno que vivíamos, fez algo dentro de mim vacilar. Eu sabia que ela sempre faria o possível para me proteger, mas havia algo diferente naquela noite. Algo que pairava no ar, como uma tempestade prestes a estourar.

- Está pronto - ela murmurou. Quinn ajudou-me a levantar, e, por um segundo, seus olhos se fixaram nos meus, mais próximos do que já estiveram em toda essa fuga. Seu rosto estava sujo, com o cabelo vermelho desgrenhado pelo esforço, e eu sabia que nunca a vira tão linda, tão intensa.

- Quinn...- minha voz quase falhou. Eu queria agradecer, dizer algo, mas as palavras se perdiam.

De repente, os passos dos nossos perseguidores ecoaram mais perto, e Quinn me puxou para uma parede, o coração dela batendo forte contra o meu ombro enquanto tentávamos nos esconder. Eu podia sentir seu cheiro, a mistura de suor e adrenalina. Sentia também a urgência em seu corpo, não só pelo perigo ao nosso redor, mas algo a mais, algo que ela estava tentando conter.

Foi quando Quinn falou, de forma entrecortada, quase sem fôlego.

- Nina, eu... eu não posso mais fazer isso.

Meu coração parou por um segundo.

- O quê?

Ela olhou para o chão, como se cada palavra fosse uma batalha dentro dela.

- Eu não posso... continuar fingindo que não me importo, que... isso aqui não significa nada para mim. Nós... eu...

O tempo parecia ter parado. Os tiros e gritos ainda estavam ao fundo, mas tudo que eu ouvia era o som da respiração dela, rápida e ofegante, cada palavra arrancada com dificuldade.

- Quinn...- sussurrei, ainda processando o que ela estava tentando dizer, mas então ela me puxou para perto, suas mãos segurando meu rosto com uma urgência desesperada.

- Eu te amo, Nina - ela soltou de uma vez, como se estivesse se libertando de um peso.

- Eu... sempre amei, e se não disser agora, pode ser tarde demais.

Antes que eu pudesse responder, antes que qualquer pensamento se formasse, seus lábios encontraram os meus. O mundo ao nosso redor explodiu em caos, mas naquele momento, nada importava. O calor do beijo nos envolveu, e foi como se, por alguns segundos, tudo tivesse parado. Só existíamos nós duas, ofegantes, perdidas uma na outra, como se o caos do mundo exterior não pudesse nos alcançar.

Mas o momento de alívio foi curto. Os sons dos nossos perseguidores se intensificaram, e fomos forçadas a nos afastar, os corações ainda acelerados, as emoções ainda cruas.

- Temos que continuar - ela disse, com a voz trêmula, mas agora com algo mais. Havia uma certeza nos olhos dela. Ela não precisava mais esconder o que sentia, e eu sabia que, a partir daquele momento, enfrentaríamos qualquer coisa — juntas.

Pegamos fôlego e voltamos a correr, lado a lado, prontas para encarar o que viesse, sabendo que, no meio do caos, havia algo inabalável entre nós.

Moments - KitninaOnde histórias criam vida. Descubra agora