Moments - Kitnina

Blame II

Pov: Nina

O tempo aqui parece não passar. É como se cada minuto se arrastasse, devagar, cruel, me deixando presa num ciclo interminável de dor e medo. Não sei quantos dias se passaram, talvez duas semanas, talvez mais. Perdi a noção do tempo no instante em que me jogaram neste lugar. Meu corpo dói. Cada parte de mim está machucada, como se as feridas nunca tivessem tempo de cicatrizar antes de abrirem novamente. As marcas nas minhas costas, nos braços, nas pernas... cada uma delas parece gritar em silêncio.

A dor física, por mais excruciante que seja, não é o que mais me consome. É a tortura mental. Eles falam de Kit o tempo todo. Jogam na minha cara o que ela fez, o que ela foi. Dizem que eu não a conheço de verdade, que ela me traiu. Tentam me quebrar, me fazer duvidar, mas por mais que isso machuque, eu não posso — não vou — acreditar neles. Sei que Quinn está lá fora, fazendo de tudo para me encontrar. Só preciso aguentar mais um pouco. Preciso.

Às vezes, nas horas mais escuras, quando o medo me engole inteira, penso na nossa última conversa. Aquela briga... As palavras duras que trocamos antes de tudo isso acontecer. Eu lembro de cada frase, e dói tanto quanto as feridas no meu corpo. Sei que Quinn não queria dizer aquilo, assim como eu não queria brigar. E agora, o que eu mais desejo, com cada fibra do meu ser, é voltar para ela. Poder sentir o toque das suas mãos nas minhas, o calor da sua pele junto à minha, o cheiro marcante que sempre me acalma...

Se eu fechar os olhos com força o suficiente, posso quase sentir. O jeito que Quinn me abraçava quando eu me sentia perdida, a segurança que ela sempre me dava. Como ela me fazia rir com suas piadas bobas, mesmo nos piores dias. Como nossos corpos se encaixavam tão perfeitamente, como se fôssemos feitas uma para a outra. É isso que me mantém sã, isso que ainda me faz respirar, mesmo com a dor tentando me engolir. As lembranças de nós duas, da nossa vida juntas, da nossa família... são o que me seguram quando sinto que estou à beira de cair.

Penso na nossa casa. No cheiro do café que Quinn fazia nas manhãs preguiçosas de domingo, nas risadas durante o jantar, nas conversas até tarde da noite, quando o mundo lá fora parecia distante e tudo que importava era estarmos juntas. Sinto falta de tudo isso. Sinto falta dela.

Às vezes, a solidão aqui é insuportável. A escuridão ao redor me sufoca, e é como se eu estivesse presa num pesadelo do qual não consigo acordar. Mas, em meio ao desespero, me agarro à única coisa que ainda me mantém de pé: Quinn. Eu sei que ela está me procurando. Sei que ela está lutando para me trazer de volta, do jeito que sempre faz, do jeito que prometeu. Não importa o que eles digam, não importa o quanto tentem me quebrar. Vou voltar para ela. Eu preciso voltar.

A única coisa que quero é estar nos braços dela novamente, sentir sua voz sussurrando que tudo vai ficar bem, que esse pesadelo vai acabar. Não importa o que aconteceu antes. Não importa o que dissemos uma à outra naquela briga. Eu só quero minha esposa. Ela é minha força, minha casa, meu amor.

E eu vou sobreviver. Por ela, por nós.