Pov: Kit
Eu estava de volta. Algo que nunca pensei que faria. O Japão, meu país natal, se estendia à minha frente, com suas paisagens familiares, o cheiro inconfundível do ar, uma mistura de maresia, sakura e a umidade das cidades. No entanto, para mim, esse país sempre representou muito mais do que sua beleza. Era o lugar onde perdi meus pais, onde fui moldada pela Yakuza, e de onde fugi com a alma despedaçada, tentando reconstruir o que restou de mim. Hoje, eu estava aqui por um motivo diferente. Dessa vez, não estava sozinha.
Olho para Nina, que observa o cenário à nossa volta com olhos brilhantes e curiosos. Seu entusiasmo é contagiante. Eu sabia o quanto ela queria fazer essa viagem, conhecer meu país de origem. Não era a primeira vez que ela sugeria isso, mas sempre havia uma desculpa pronta, algo que eu inventava para adiar esse momento. A verdade é que eu temia voltar. Temia os fantasmas que esse lugar traria de volta. Mas mais do que isso, temia que Nina, a luz da minha vida, visse partes de mim que preferia manter escondidas.
- Você está bem? - A voz dela me traz de volta ao presente. Ela segura minha mão e sorri de forma suave, mas os olhos estão cheios de preocupação. Ela me conhece tão bem. Eu sorri de volta, um gesto pequeno, mas verdadeiro.
- Sim... só um pouco nostálgica - respondo, minha voz um pouco distante, ecoando na minha própria mente enquanto observo a Tokyo Tower ao longe, um símbolo de modernidade que tanto contrasta com o passado que carrego. - É estranho estar de volta.
- Eu imagino - ela diz, apertando minha mão com mais firmeza. - Mas estou feliz de estar aqui com você. Quero conhecer cada pedaço de sua história, o bom e o ruim.
Isso era o que mais me aterrorizava, mas também, no fundo, o que me dava força. Nina era tudo o que eu nunca soube que precisava, até encontrá-la. Ela havia me resgatado de mim mesma, da frieza que a Yakuza havia esculpido em minha alma desde que fui entregue a eles, depois que perdi meus pais. Eu nunca falava sobre isso. Sobre como, aos seis anos, fui arrancada de minha vida normal e treinada para ser uma arma, uma assassina. Fui criada para não sentir, para não me apegar a ninguém. Mas Nina... ela desarmou todos os muros que eu havia erguido.
Ela me leva a conhecer os lugares que sempre sonhou, com seu guia de viagem em mãos, e eu me permito ser guiada por ela. Visitamos o bairro de Asakusa, onde o templo Senso-ji se ergue em sua majestade, iluminado pela luz dourada do fim da tarde. As ruas estreitas estão repletas de lojas de souvenirs, e a energia das pessoas ao nosso redor parece alegre e despreocupada. Sinto uma pontada de inveja ao ver o quanto todos estão em paz, enquanto minha mente ainda carrega os pesos do passado.
- Este lugar é lindo - Nina comenta enquanto observamos o templo. - Acho que nunca vi nada assim.
- Era um dos poucos lugares em que eu me sentia... segura - confesso, surpresa por ter dito isso em voz alta. - Eu costumava vir aqui quando era criança, antes de... antes de tudo mudar.
Nina não pergunta mais nada. Ela não precisa. Ela sabe que minha história tem muitas camadas, muitas delas dolorosas demais para serem reveladas de uma só vez. Ela apenas sorri, aquele sorriso gentil que me fez me apaixonar por ela, e me puxa para mais perto.
No dia seguinte, decidimos explorar Kyoto. É um contraste gritante em relação a Tóquio, com seus templos antigos, montanhas cobertas de neblina e ruas tranquilas. Caminhamos pelos jardins do Templo Kinkaku-ji, o Pavilhão Dourado, e pela primeira vez desde que chegamos, sinto uma paz genuína. O reflexo do templo no lago é algo quase etéreo, e, por um momento, parece que o peso que carrego sobre os ombros se alivia.
- Eu entendo porque você ama isso aqui - Nina diz, quebrando o silêncio enquanto observa o cenário. - Há uma calma aqui, algo profundo.
Respiro fundo.
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Moments - Kitnina
RomantizmAlguns momentos do nosso casal Kitnina para nos deixar de coração quentinho. <3 "-Eu senti tanto a sua falta, Quinn - ela sussurra, e antes que eu possa responder, ela inclina a cabeça e seus lábios tocam os meus. O beijo começa suave, mas logo...