PRÓLOGO

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As vozes eram ferozes e soavam audíveis, porém eu estava fraca demais para me dar ao gosto de perceber o que quer que saía da boca dos homens gritando um para o outro no terraço. Tudo estava escuro, talvez eu tivesse perdido a visão com a queda... Oh, não, estava com os olhos fechados.

O céu estrelado era a completa essência de plenitude, os pontilhados cintilantes sobre seu manto negro tirariam o fôlego a qualquer um, naquele momento. Preferia acreditar que era esse o principal motivo da minha falta de ar sendo a primeira coisa que vi quando os olhos abri. Alguém olhou pela sacada, arqueando o corpo pelo parapeito assim chamando minha atenção, sua sombra recaindo sobre mim era inconfundível, também, tinha certeza que seria o único a agir como ele agiu ao me ver naquele estado. Esparramada e ensanguentada no gramado.

A luz da lua com sua claridade estranhamente intensa naquela noite me permitiu enxergar, por entre muito esforço para dissipar o embaçado que tomava conta da minha visão a medida que tentava captar os contornos do rosto de Milo quando estes se converteram de choque para uma mistura incerta de surpresa e desespero. Um estalido ressoou bem antes da minha mente tomar ciência dos gestos e movimentos que o meu corpo inutilmente tentou fazer resultando no aumento da dor que até então, já era excruciante.

O zumbido irritante que não se despedia de meus ouvidos deu lugar ao som da relva e folhas secas caídas sendo pisadas por alguém que mantinha a passada calma porém determinada na minha direção, não era difícil notar ainda que, em um estado como o meu. Mas, se formos a ver, as coisas estavam tão obsoletas, era como se o tempo tivesse entrado em câmara lenta, talvez seja apenas de mim a vagarosa forma como as coisas se sucediam. Não pensei nisso, não poderia pensar nisso, não estava em condições de pensar nisso com o turbilhão de emoções e sentimentos inundando o meu consciente.

O cheiro das  rosas em tons carmesim, espalmadas ao chão debaixo de mim inundou as minhas narinas, um aroma doce e reconfortante, inebriante da sua forma, misturado ao terroso enferrujado de sangue; o meu sangue. Uma nova sombra desenhou a sua silhueta sobre mim, tampando a minha visão sobre a lua e as estrelas que pareciam dançar aos festejos a sua volta. Esta mesma silhueta debruçou-se sobre o meu corpo quebrado ao chão no exato momento em que as primeiras pessoas saiam para fora aferir o que estava acontecendo, no terraço Milo gritou em exasperação, algo que... 'para me afastar? Para se afastar?' o que ele estava tentando dizer?

Não consigo me lembrar de muito depois daí, fui carregada ao colo, para um lugar muito longe, a dor que antes sentia dissipou-se dando lugar a uma sonolência que me roubou os sentidos, minha cabeça repousando sobre o tecido macio cobrindo um corpo quente e saudoso, aquele aroma cítrico embriagante... E disso perdi os sentidos não notando o tempo passar, me aconchegei ao manto de escuridão e aos poucos minha cabeça parou de pesar.

AMOR AO SEU DISPÔROnde histórias criam vida. Descubra agora