Quando acordei notando que a movimentação do carro cessou me assustei ao encontrar o rosto de Camilo tão próximo ao meu.
— Está tentando me assustar ou quê? — resmunguei — olha que está funcionando direito.
— Pensei que seria uma boa ideia acordar você já que chegamos.
— Onde exatamente nós estamos? — indaguei sem muito sucesso pois ele desceu do automóvel e deu a volta para abrir a porta para mim sem me responder — Para onde você me trouxe Camilo?
— Estamos no aeroporto, viemos buscar alguém muito importante.
Fiquei confusa com aquela situação.
Ele me arrastou para longe do estancionamento e agarrando a minha mão me puxou para dentro do aeroporto. Até momentos atrás eu estava gritando completamente surtada com ele e com o restante do nossos colegas e agora Camilo tinha me levado para conhecer alguém.
Acredito eu que não fosse a melhor ideia. Tudo bem que eu estou grata pela forma "calma" como ele lidou com toda aquela situação e por ter me tirado de lá, sinceramente não sou acostumada a gritar e muito menos levantar a voz para um superior.
Apesar de entender a minha condição não faço a menor ideia do que meu chefe pretendia fazer comigo depois de entregar quem quer que seja que esteja esperando por nós, mas se há algo na qual posso colocar minha certeza é que um bom ralhete o dono dos hipnotizantes olhos amendoados que lembra a manhã não deixaria de me dar.
Acho que estou feita.
— Lá está!
— Camilo, aqui!
Rodei o olhar para avistar uma linda mulher morena acenando na nossa direção tentando chamar a atenção de Camilo. Ela era alta, poderia dizer que alguns sentimentos a mais ou a menos que eu. Não conseguia ver direito levando em conta a distância, tinha olhos castanhos profundos que combinavam com o tom bronzeado da sua pele e os lindos cachos negros descansando sobre o ombro.
O vestido florido, com alças curtas e um tecido suave lhe desenhavam o esbelto corpo. Em outra situação eu bem poderia me preocupar com Camilo pois aquela dita mulher ainda me parecia muito jovem para o próprio Camilo, mas pela ternura estampada no seu rosto quando a recebeu nos braços, em um abraço apertado eu realmente entendi que não seria necessário.
Quando ambos se afastaram, Camilo olhou para mim e eu poderia dizer que talvez eu escapasse do seu sermão, ou isso ou eu não estaria sabendo aproveitar aquele grande sorriso que ele me deu.
— Yola, esta é Samantha Borges, engenheira civil da empresa e também uma boa amiga. — ele me apresentou e eu fiquei sem saber se deveria desconfiar do olhar que a mulher lhe dirigiu como que perguntando 'Boa amiga, hã?' — Samantha, esta é Yola Sangzad, minha irmã de criação.
Foi como se eu tivesse levado um tapa quando ouvi as palavras "minha irmã" saírem da boca de Camilo. Estendi a mão para cumprimentar Yola que me retribuiu com um longo sorriso igual ao irmão.
— Muito prazer, Samantha. Fico feliz que tenha vindo na companhia de meu irmão. — ela deu início a uma conversa animada, aparentemente sem fazer julgamentos á minha pessoa — Sabe, Camilo não é do tipo que apresenta as amizades para a família, realmente acredito que se você não fosse engenheira para ele, também não estaria aqui. Esse marmanjo.
— Hahahahha, ai, eu não posso acreditar. — desatei a rir quando ela se aproximou de mim para cochichar — e se eu lhe disser que sei de muitas das suas "formas de diversão? Acredita que já nos deparamos em uma festa privada numa boate e ele estava lá rodeado de mulheres?!
— Não posso crer! Mas também... O que você estaria fazendo nessa festa Samantha? Não me diga que você é dessas que gosta das noitadas.
O rosto jovial de Yola esboçava uma expressão de incredulidade e eu tive que abanar as mãos rapidamente para lhe puder explicar.
— Oh, não não não, eu não sou deste tipo de garotas. Na verdade eu nunca nem me envolvi de forma tão íntima com um homem... — pensei em terminar, mas me senti tentada a continuar — ou com qualquer outra pessoa. Nossa, é difícil se explicar para os irmãos Buarque viu!
— Pode crer. Camilo sempre foi o mais cabeça dura entre nós, não é fácil fazê-lo mudar de ideias e ele tem a mania de acreditar apenas na sua opinião. O que não é mau de todo, se formos a ver.
Balancei a cabeça afirmativamente e no instante seguinte nos demos conta do afastamento de Camilo logo depois de ele ter retornado para perto de nós com duas malas que obviamente pertenciam a Yola, em mãos.
— Muito bem, senhoritas, acho que o que tínhamos para fazer aqui já foi sanado, podemos ir!
— Quando vão assumir o namoro?
No momento em que nos encaminhamos a saída, Yola solta esta pergunta deixando eu e Camilo espetados ao chão. Depois da curta conversa que tivemos em menos de trinta segundos ela indaga sobre algo completamente fora dos eixos.
Eu já tinha muitos problemas para lidar, tinha um misto de depressão e ansiedade com o que viver, uma família um tanto esquisita para enfrentar, coisa que eu estava ignorando o máximo que poderia por enquanto, havia todo um estresse relacionado ao trabalho que tem se acumulado nos últimos 15 dias. Para não falar no facto de um certo moreno esportivo todo engravatado, com sotaque que me apareceu a mente. Henrique.
Achei estranho num primeiro momento, ter pensado nele de forma inconsciente quando confrontada com o quesito relacionamento, mas decidi afastar as hipóteses para outras interrogações para o mais longe que pude e desatei a rir ao encarar o semblante transtornado do meu chefe quando a irmã insistiu inquerindo apontando o dedo em riste para o maior de nós as duas.
Aborrecido com a óbvia pegadinha, ele saiu pisando apressadamente na nossa frente e nós só podemos acompanhar até chegarmos ao estacionamento, onde outra guerra poderia ser avistada.
Rapidamente me empurrei para os bancos de trás para que os irmãos ficassem juntos e acabarmos com qualquer dúvida maliciosa a volta daquela brincadeira mais cedo.
Eu não sou pessoa que preste para relacionamentos, Camilo é meu chefe e apesar de nos consideramos amigos, e realmente termos motivos para tal em vista da confiança recíproca, não tínhamos propriamente uma química romântica pairando sobre nossas cabeças de todas as vezes em que nos pegamos conversando a horas sobre vários temas um assunto que começou com um simples "pensei que não chegava nunca, Samantha!" E terminamos em "oh, que horas são? Estou atrasado. Anda, eu aproveito e deixo-te em casa." Ou quando saímos juntos para almoçar e muitas das vezes escolhemos o mesmo prato, que muitos outros clientes também escolhem ao frequentar o restaurante. Ou então pela falta da formalidade normal que deveria haver entre nós, mas mesmo assim não vivemos em um poço de constrangimento.
Muitas vezes já peguei meu chefe sem camisa e em momento algum me acanhei por isso. Quero dizer que eu não me importo com o que as pessoas dizem, eu não estou apaixonada por ele e não há chances de ser o contrário. Mas obviamente alguém sempre terá o prazer de associar desta forma o que é apenas uma boa e anormal amizade rara.
Sem contar que era uma falta de educação educada, supor ou presumir coisas em relação a privacidade de alguém sem o devido respeito, conhecimento e intimidade. O que servia para mim e não para Camilo no ponto de vista de Yola. Já que era sua irmã.
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AMOR AO SEU DISPÔR
Romance"No coração pulsante de Luxemburgo, um país encantador e cheio de história, Samantha Borges, uma engenheira resiliente com um passado traumático, encontra-se no centro de um intricado triângulo amoroso. Samantha é uma força inabalável, uma mulher qu...