13| GANHOU NA LOTÉRIA?

4 2 0
                                    

Me vesti com a primeira coisa que encontrei por todo aquele armário e só tive coragem de passar um perfume antes de sair correndo e tropeçando nos pés para atender a porta.

Quando a abri achei Eunice e nada mais nada menos que Camilo Buarque conversando animadamente sobre algo que eu não pude perceber o que era. Eunice soltou uma risada carregada e só então os dois olharam para mim que tentava recuperar o fôlego da corrida que tinha feito.

— Olá, obrigada por terem esperado, eu... Bom, entrem.

Minha amiga passou primeiro por mim quando dei espaço me colocando ao lado da porta. Camilo ficou ainda por alguns momentos estático no lado de fora a olhar para mim, não sei dizer assertiva o que ele esperava de mim, mas quando notei que aquela situação estava a ficar constrangedora me adiantei em voltar a convidá-lo a entrar, ele também pareceu perceber que estávamos aí a tempo demais, e então deu um passo para dentro, parou e estendeu uma sacola com algumas coisas, havia um ramo de flor aparecendo e ele o retirou para que me entregasse devidamente.

Fomos até a sala e Eunice voltou da cozinha com um copo de refrigerante.

— Me desculpem mais eu já estava com sede a algum tempo, não resisti com vocês demorando tanto á porta.

Camilo caminhou até a mesa de jantar puxando uma cadeira para se sentar.

— Não peça desculpas a mim, a dona da casa está bem ali. Com licença.

Eles se acomodaram e eu fui deixar a sacola na bancada da cozinha, arrumei as flores em um vaso com água e usei os embrulhos para fazer uma gracinha por cima do vidro. Deixei ele no aparador da sala, ao lado do grande espelho suspenso e não resisti em voltar ao quarto para dar uma olhada caso Lúcia retornasse a chamada.

Sem sucesso, me dirigi a sala. Não sei de onde surgiu aquela amizade toda entre Eunice e Camilo, pois antes dessa eles só estiveram juntos no mesmo ambiente por três vezes, pelo que eu me lembre, me sentei numa das cadeiras vagas, ao lado de Camilo e descobri do que tanto conversavam animados.

— É bom saber que tenho servido bem aos meus compradores. — disse Eunice entre sorrisos.

— Eu que lhe agradeço por entregar mais daquilo que promete com seus serviços. Me salvou o pescoço a dois meses atrás quando eu mal sabia o que arranjar de última hora para o aniversário da mamãe. — Camilo respondeu calmamente, abaixando o tom na última parte. Ambos soltaram gargalhadas contentes e não vi mal nenhum em me colocar no meio da conversa.

— Espero não estar interrompendo.

— Ah, Samantha, eu até lhe agradeceria por interromper a minha fome.

— Eu lhe conhecendo melhor do que ninguém, tenho certeza que ficou o dia todo enfurnada naquele escritório sem se preocupar em comer.

Vi ela dar com os ombros. Abanei a cabeça em negação e assim começamos nosso jantar, falamos sobre um monte de coisas e enquanto Camilo falava sobre a empresa, que é passada de pai para filho e assim sucessivamente na sua família, achei a oportunidade perfeita para lhe fazer o meu pedido, mas quando eu ia a busca de um último olhar de encorajamento vi Eunice totalmente focada no meu chefe.

— Camilo, o que seu pai diria se lhe visse comandar a empresa? Já ouvi bastante sobre você e uma dessas muitas outras coisas é que você e seu pai não têm nada haver um com o outro em temperamento. — obrigadinha por me ferrar, "já ouvi bastante", agora ele vai pensar que eu fico subindo e descendo o meu tempo livre falando da sua ilustre figura.

— Aos olhos de certas pessoas — ele disse tentando manter o tom brincalhão, olhando predatório para mim no processo — provavelmente ele teria um enfarte, ou como ele mesmo diria: 'um colapso, fim dos tempos'.

Rimos da situação e eu precisei levar  minha taça de champanhe a boca para não acabar me engasgando com ele me encarando, Eunice que estava sentada a minha frente levou uma garfada a boca e procurava manter o máximo de contacto visual possível com Camilo. Procurei ignorar o fato de minha melhor amiga estar demostrando interesse mais do que eu acharia normal pelo meu chefe, DO NADA e me concentrei na refeição, que pelo jeito ambos gostaram bastante, principalmente a salada de maionese e o frango assado que Camilo devorou sem ressalvas. Quando terminamos pedi para falar com ele sobre algo no trabalho,  não teria coragem de sair lhe fazendo pedidos mesquinhos na frente de Eunice, não hoje, mas ele insistiu que poderia ser ali e agora então pedi licença para pegar o pudim de sobremesa que eu deixei descansando no frigorífico.

Voltei para chamar Eunice, porque iria precisar de ajuda com os pires e talheres, mas lá estavam eles novamente, Eunice inclinada sobre a mesa contando algo para o Buarque aos cochichos e o cúmulo foi quando o vi sorrir ladino, minha amiga se afastou e eu preferi voltar para cozinha e dar meu jeito sozinha do que passar vergonha alheia olhando para os dois.

Já na cozinha aproveitei a oportunidade para dar uma olhada no que Camilo trouxe e me espantei quando vi um mix de marisco congelado. Se alguém me visse diria que sou infantil por saltitar toda feliz por ter recebido minha comida favorita de presente, mas vamos lá aos factos, eu não tenho culpa de simplesmente ter me apaixonado por frutos do mar desde pequena e agora, para meu azar, eu nasci, cresci e moro sozinha em Luxemburgo, um grão ducado que infelizmente não tinha litoral.

— Ganhou na loteria?

— Haaa! O quê? — não consegui impedir o gritinho pelo susto que tive — o que disse?

— Parece tão feliz, quase penso que poderemos finalmente largar tudo e ir morar para as Maldivas.

Eunice riu do próprio comentário e se aproximou de mim, conferindo o que eu tinha nas mãos, seu sorriso aumentou assim que confirmou o que era, abanou a cabeça e simplesmente me enxotou da cozinha.

— Vai lá, não podemos abandonar o convidado sozinho a mesa de jantar.

— Vai lá, não podemos abandonar o convidado sozinho a mesa de jantar

Ops! Esta imagem não segue nossas diretrizes de conteúdo. Para continuar a publicação, tente removê-la ou carregar outra.
AMOR AO SEU DISPÔROnde histórias criam vida. Descubra agora