10| VAMOS SAMZINHA, PROSSIGA

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Com um pouco de insistência consegui fazer com que Henrique não subisse comigo até casa.

Não é como se eu fosse uma pessoa má, eu só achei que a casa poderia não estar nas melhores condições, afinal havia cacos de vidro espalhados para todo lado quando saí correndo naquele dia.

Pensar nisso me fez lembrar do medo desesperador que senti e no grande susto que tive, meu pé também parecia ter se recuperado porque já não dói, talvez não fosse tão grave quanto pareceu no momento.

Me preparei o máximo que pude para encontrar o que quer que estivesse em casa, mas assim que abri a porta tudo que eu encontrei foi um corretor iluminado e perfeitamente arrumado, caminhei até a sala e ela estava impecável como se nada tivesse acontecido.

Ouvi a voz de alguém cantarolar e quando fui de encontro a cozinha achei Eunice vestida com um avental posta ao fogão.

— Se eu soubesse que ser tua amiga fosse tão bom assim eu teria é até nascido contigo.

Minha amiga largou a panela e veio correndo se jogando nos meus braços. Nos abraçamos e só consegui me soltar quando ela teve que voltar para a panela que também estava pedindo socorro.

— Se eu fosse você eu não teria tanta certeza. Tudo o que eu consegui arrumar sozinha foi o teu quarto, tive que pedir que dona Gina e o restante da equipe de limpeza viessem dar um jeito no restante.

Eunice nasceu numa das famílias de classe alta e sempre viveu rodeada de pessoas para fazer o que ela quisesse, sempre teve tudo a disposição, só que por algum motivo ela nunca deixou que isso lhe subisse a cabeça.

Ela nunca teve problemas em me ajudar a limpar a cozinha, arrumar a mesa, lavar a louça que nós sejamos ou dar um jeito no quarto sempre que ficávamos de lutinhas ou fazendo nossos desfiles de moda.

Ela é minha melhor amiga desde que me entendo por pessoa apesar da pequena diferença entre nós, pois eu nasci em uma família de classe média alta e assim nos conhecemos na escola do segundo ciclo sem conseguir nos separar.

Seguimos caminhos diferentes na faculdade e ainda assim estivéssemos sempre lá uma para a outra. Olhando para trás consigo perceber que sem a Eunice muita coisa poderia ter sido diferente e no mau sentido.

A ajuda que ela me deu com a minha depressão quando descobri sobre ela foi extremamente fundamental e houve vezes que só ela conseguia me acalmar dos ataques de ansiedade e pânico, nas noites de insónia ela vinha bem tarde da noite para que juntas fizéssemos nosso ritual do sono com uma leitura, um banho quente na companhia de uma música calmamente e depois tomávamos os suplementos juntas mesmo que não houvesse sérias necessidades disso no caso dela.

Minha vida era ela e não havia quem mais me conhecesse do que ela, o que me fez lembrar que...

— Você não vai acreditar em quem eu encontrei! — exclamei carregando os pratos até a mesa.

— Se você me disser que não é nenhum dos meus ex's então sinta-se livre para continuar. — dei uma risada daquilo porque apesar das coisas boas, Eunice nunca teve muita sorte com relacionamentos. Me lembro que o último namorado deixou ela por uma brasileira e foi embora sem dar explicações, idiota.

— Não, mas ainda é alguém que você conheça. — vi quando ela fez uma expressão engraçada se esforçando para não revirar os olhos — é o Korey.

— Quem? O coreano demais para os luxemburgueses e luxemburguês demais para os coreanos?

Desta vez rimos juntas ao lembrar do grande dilema de Korey na faculdade.

— Sim esse mesmo. Ontem Henrique me levou para jantar fora e acabamos nos esbarrando, por incrível que pareça ele estava acompanhado de uma mulher que Henrique também conhecia.

— uau, quais as chances disso acontecer com frequência. Como ele está?

— Muito bem pelos vistos, continua muito bonito. — disse aquilo para ver como Eunice iria reagir visto que ela sempre teve um pequeno interesse nele — talvez vocês também pudessem voltar a ver-se, eu peguei o seu novo número, depois te passo.

Começamos nosso jantar que estava delicioso e não tocamos mais no nome do Korey depois de eu ter levado uma cutucada no ombro. Eunice quis saber de tudo que havia acontecido depois dela se ter ido embora do hospital, eu contei tudo para a minha superintendente e ela até prometeu bater em Henrique caso ele tivesse feito algo de errado comigo.

Eu estava com o sobretudo dele e me lembrei do cheiro do seu perfume que também estava empregando nele, deixei a peça de roupa no suporte no corredor de entrada e até senti um gosto de desapontamento por saber que terei de devolvê-lo a ele.

(...)

— Olhem só se não é a minha engenharia favorita.

Tive um sobressalto quando alguém bateu a porta tão forte e a voz de Camilo inundou a sala que estava em silêncio até ao momento.

— Se eu realmente fosse a sua preferida não tentaria me matar de susto. — resmunguei, mas logo me calei assim que ele se sentou na sua cadeira com sua expressão séria de poucos amigos — Camilo, está tudo bem?

— Tudo estaria melhor se uma certa pessoa estivesse descansando em casa ao invés de estar sentada a minha frente.

Ele me respondeu grosso mas era visível que estava tentando se controlar. O segui com os olhos quando ele se levantou e pegou uma garrafa por entre muitas outras na sua garrafeira particular, para a minha tristeza ele não trouxe um copo para mim também.

— Ah... Hellow! Tem visita.

— Que está de atestado e não pode tomar álcool. Não se preocupe, já pedi para Johnny pegar um suco para você. — ele se sentou e levou a primeira dose para a boca de uma vez apenas — você pediu para ter uma conversa comigo, então eu estou aqui Samzinha, me diga que é?

Eu realmente tive vontade de reclamar por ele ter tomado mais duas doses tão depressa mas me contive contrariada depois que ouvi como ele me chamou.

— Camilo, o que foi que me chamou?

— Samantha. O que tem?

— Tem certeza?

— Era sobre isso que queria falar?

Não, não era sobre isso mas agora o que me apetecia realmente fazer era estampar um tapa da sua cara por estar bebendo tanto.

Não resisti e recebi a garrafa de tónico da sua mão depois da sétima dose descomedida.

— Ou você para de beber ou não fica sabendo do grande furo que tenho para contar. — Ameacei decidida, rezando para que não fosse despedida depois disso, mas nem liguei para o rubor do meu rosto pela forma como Camilo me olhou.

— Vamos Samzinha, prossiga.

— Vamos Samzinha, prossiga

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