3| SUSPEITA E AMADORA

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Não conseguia distinguir o que mais estava deixando Camilo Buarque com os cabelos em pé ainda nas primeiras horas do dia. Quer dizer, claro que eu havia me atrasado e ele estava passando por uma certa pressão involuntária do pai que agora pretendia passar a nome do filho todas as empresas e ações que tivesse em quaisquer outras, porém, não poderia crer que era uma destas que naquele momento estava deixando ele louco, não mesmo.

— Prestem a devida atenção que eu só irei explicar isto uma vez.

Todos os presentes, isto é, a equipe de projetos e a de produção, olharam atentamente para o homem jogado sobre o estofado da cadeira marrom por detrás da sua mesa, nos encarando como se fôssemos suas presas. Mais alguém está sentindo o ar pesar ao respirar?

— O que está acontecendo Camilo? — perguntou Luiza — sua assistente embora que para quem não conhecesse parecia mais a uma segunda mãe — em um tom comedido, uma tentativa não muito acertiva para acalmar o Buarque que parecia a fuzilar com os olhos se assim pudesse, segundos antes de se voltar para nós como um todo.

— O que se passa, Luiza? Eu lhe digo o que se passa, ações da empresa estão comprometidas, quantias estão sumindo das contas bancárias em diferentes moedas e não há registro de processamento, pedido e permissão para tal. Isso por si só já não é nada agradável de se ouvir não concordam? — senti um arrepio percorrer minha coluna quando por algum motivo que eu desconhecia aquele olhar feroz recaiu sobre mim, mas ainda pude notar um leve relaxar em sua intensidade durante os poucos segundos em que seus olhos brilhantes se mantiveram em mim.

Lavagem de dinheiro dentro da CKNCcorp.

— Então...

— Eu ainda não terminei — ele interrompeu levando seus orbes caramelizados para longe de mim — a situação só se agrava e é trem por ladeira abaixo daqui a diante. Ontem, Ornando Castilho Buarque — citou ao pai — recebeu uma ligação da Monteiro's Eletronic Corporation... — eu detestava quando ele fazia aquela sua pausa dramática em meio às dissertações, mas eu não estava louca o suficiente para reclamar naquele instante, também fui obrigada a conter o revirar de olhos quando seus globos se puseram a percorrer o meu corpo de novo — alguém está vazando informações sobre os nossos serviços ainda em fase de produção, estão vendendo os nossos projetos para outras empresas no ramo. Plantas, orçamento, sistema de cobrança, mão de obra, organização de construção, tudo está chegando aos ouvidos de quem não devia. Queria eu saber um porquê?

"Aquilo foi uma ameaça, não um pedido!"

E assim o murmúrio que já se havia instalado aumentou em grande escala, meios olhares começaram a ser trocados e para piorar a situação...

Mas que diabos esse Buarque mimado está sorrindo?

— Atenção! — chamou-nos a razão — não há motivos para começar uma troca de maus olhares quando os culpados sabem quem são.

Outra onda de descontrole irrompeu e desta vez foi Bianca ao meu lado a intervir.

— Silêncio por favor — pediu ela antes de dar alguns passos a frente e pedir autorização para Camilo com apenas um olhar que foi respondido com um manejar de cabeça afirmativo — balbúrdias e discussões infundadas não precisam ser iniciadas, pois, já temos os nossos malfeitores bem onde desejamos... Ou quase.

— Ah que ótimo! Ok. Agora eu posso saber porquê a equipe financeira não se faz presente nesta sala se também há problemas em relação a...

Com um aceno de mão Camilo não permitiu que ela terminasse, inclinei o corpo para poder ver a mulher que acabara de falar. Já trabalhava aqui a quase três anos mas ainda assim não conhecia toda a gente; Bianca por outro lado, estava a apenas sete meses e não deixava escapar o nome de ninguém. Olívia, estava no seu crachá de identificação.

AMOR AO SEU DISPÔROnde histórias criam vida. Descubra agora