14| EU NÃO SOU TODO MUNDO

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Quando voltei para sala encontrei Camilo apreciando uma das fotografias emolduradas que estavam no aparador, próximo de onde eu deixei as lindas zínias que ele trouxe.

— Camilo. — o chamei para anunciar minha aproximação. Parei ao lado dele e tive um vislumbre da minha sorte por ter um cabelo obediente e lindo sem muitos cuidados. Mal tive tempo de cuidar dele esta semana.

— Eu deveria me sentir enganado? — ele perguntou, talvez tenha percebido a minha confusão por ter levantado uma sobrancelha e continuou — eu não poderia imaginar que você é na verdade a segunda cópia de seus pais.

Olhei para o quadro só para saber porquê ele estava dizendo isso e não me aguentei de rir. Era uma foto que meu pai tirou de quando eu ainda era uma anã de 4 anos. Eu estava com Lúcia e nossa mãe no quintal de casa todas molhadas, com balões de água. Eu estava com um sorriso enorme no rosto segurando uma pistola de água de uma forma quase inocente demais.

— Sem comentários, a foto fala por si.

Fomos até a mesa e nos colocamos a espera de Eunice que se demorava na cozinha por um motivo que eu não saberia explicar porque ela não teria de produzir o pudim; ele estava intacto aguardando para ser devorado no frigorífico.

— Eu não sabia que você tinha uma irmã mais velha.

— Talvez eu só nunca tenha comentado na sua presença, não é algo que eu costume esconder das pessoas. — respondi ignorando seu olhar penetrante que recaía de novo sobre mim.

— Você costuma esconder coisas, hã?

— Sim, mas só o que eu acho necessário, não posso sair esplanando a minha vida para todo mundo.

— E que tipo de coisas são essas que não pode ficar esplanando? Eu não sou todo mundo.

Bela observação Buarque filhinho. Por pouco eu seria capaz de dizer isso em voz alta enquanto revirava os olhos.

— Tem razão, você não é todo mundo, só não podemos generalizar os assuntos e muito menos o local e circunstâncias para se ter determinadas conversas, com certas informações.

— Informações essas que seriam?

Chefinho? O que é feito desse interrogatório todo? Trabalha para o FBI agora? Eu sou inocente viu, tenho registro limpo se é isso que quer saber.

— Camilo, para que tantas perguntas? — soltei um som de desgosto, e se divertindo com isso ele desandou a rir então não resisti em dar-lhe um tapa no braço. Ele que me respeite, dentro da minha casa ele não é meu chefe, só um gigante cheio de massa muscular; E se formos a ver lá estava um assunto que me interessava falar, de onde ele tinha tirado tudo aquilo que tinha em músculos com só 28 anos de existência?

O celular dele começou a chamar e nem por isso ele para de rir da minha cara de tacho. Onde estava Eunice quando eu desesperadamente precisava dela?

(...)

— Eu deveria lhe agradecer pelo jantar Samantha, estava maravilhoso, estou pensando aqui se há forma de fazer você levar sempre um bocado de comida para mim.

— Esse elogio já estava inocente demais para os meus gostos.

— Se isso significar que eu vou poder provar mais de você está ótimo.

A gargalhada que eu já estava contendo a algum tempo se misturou com a avalanche de indignação que eu senti e então desandei a tossir feito um porco. O santo sem ser inocente me auxiliou e segurou o meu cabelo para que ele não me atrapalhasse.

Ele não pensou no duplo sentido que aquela frase poderia ter ao soar em voz alta?

Quando me recuperei me afastei gradualmente dele que ficou aparentemente bastante preocupado.

— Não saía daqui, eu vou pegar um pouco de água e já volto.

Fui até a cozinha e tomei logo de uma vez dois copos e meio, levei o restante comigo, nunca se sabe quando eu volto a precisar. Se dentro do trabalho, Camilo já é o que é, imaginemos fora.

Eunice saiu a alguns minutos e nos deixou sozinhos plantados com um pudim imenso para devorar. Não deu muito a entender o que poderia ser e simplesmente se foi, quando finalmente terminamos Camilo me ajudou a arrumar a mesa e só eu sei o quanto eu me matei de rir ao vê-lo arregaçar as mangas para me ajudar com a loiça que não pode ir a máquina.

Ele também terminou de arrumar sobre a banca as coisas que estavam na sacola que o chefinho bonito trouxe e se for para continuar assim eu até convido ele para jantar mais vezes na semana.

Decidimos ver um filme porque ainda estava consideravelmente cedo e para minha felicidade dentre o que estava espalhado na bancada haviam pacotes de até um quilo de cada fruto seco, alguns salgados, tostados e outros simplesmente descascados. Arrumei uma pequena tábua com queijo, presunto e chouriço que eu tinha no frigorífico com um pouco de cada um. Descobri que o bendito lá na sala gostava bastante.

Alguém que eu conhecia, ou poderia dizer que conhecia, e também gosta bastante era o meu cavalheiro misterioso. Não sei se é muita coincidência ou se ele também estava pensando muito em mim, quando fui ao quarto para voltar a conferir se Lúcia já havia respondido minhas mensagens, também achei mensagens recém chegadas dele.

Cavalheiro misterioso— Hoje, enquanto ia para um dos meus muitos encontros a trabalho, avistei um conjunto de pintura que logo me lembrou você, mal coloquei os olhos nele.
Infelizmente não pude parar para pegar, mas espero que o meu outro presente também lhe faça feliz.

Samantha— Fico feliz que também esteja pensado em mim cavalheiro misterioso, de certeza deve ser algo lindo.

Cavalheiro misterioso— Isso quer dizer que tem pensado em mim?
Não faz ideia de como melhorou meu dia com isso.

Samantha— Mais logo nos vemos a nossa hora marcada?

Cavalheiro misterioso— Não perderia uma oportunidade de falar contigo por nada nesse mundo.

Sorri largamente ao ler aquela mensagem, mas foi por pouco tempo pois me lembrei de Camilo que estava a minha espera na sala.

— Demorei muito?

— Tempo suficiente para eu sentir sua falta e começar a me preocupar.

Acenei para ele colocando a tábua de petiscos entre nós e ele desligar o celular, talvez também estivesse mandando mensagens já que recebeu uma chamada mais cedo.

— Há problemas?

— Não, assuntos pessoais. Vai escolher qual filme para vermos?

Agarrei no controle de TV encarnando uma celebridade e escolhi meticulosamente um dos últimos lançamentos que estava bombando. Era uma adaptação das longas temporadas protagonizadas por Cilian Murphy. Eu simplesmente não podia ficar sem assistir!

— Eu já estava me perguntando de onde você tirou certos poderes que usa lá na empresa, agora entendo como consegue separar uma briga entre o Nathan e a Bianca.

Aquela noite estava a ser preenchida por muitos sorrisos e imensas gargalhadas e assim passamos, sem que eu pudesse tocar no assunto que pretendia desde o começo.

— Então, você tem falado com o Monteiro?

— Então, você tem falado com o Monteiro?

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