Finalmente me joguei sobre a cama, exausta e com a cabeça a mil por hora. Acabei de sair do banho, pouco depois que eu e Henrique nos despedimos ao fim de um jantar, sim, outro jantar, desta vez bem leve.
Tudo o que lembro depois de ter chegado a casa de Henrique foi me sentir completamente embasbacada com a grandiosidade e elegância daquela mansão.
Se eu usava a desculpa de me sentir confortável e não via a necessidade de usar — o dinheiro que tinha e estava acumulando nos últimos anos — para comprar uma residência própria e "mais apropriada para uma engenheira como eu", assim como diz minha melhor amiga, então eu poderia afirmar fortemente que nesse quesito eu e Henrique Monteiro éramos totalmente diferentes.
Fui escoltada pelo jardim frontal depois de termos descido e um segurança ter levado o carro para estacionar. Henrique me ofereceu o seu braço e agarrada a ele caminhei admirando a vastidão do belo antro de recepção.
Dentro da enorme mansão a situação só piorou. Ela era linda do chão ao teto, tinha o piso em mármore e inconfundíveis candelabros de cristais no teto branco amadeirado.
Fomos recebidos pela governanta, durante a noite acabei descobrindo que ela já trabalhava para os pais de Henrique algum tempo antes dele nascer, o que pode parecer difícil de se imaginar sendo que para isso ela era bem jovem já altura e teremos de concordar que nos últimos tempos a reputação de pessoas jovens trabalhando nesse posto não é a melhor.
Emilie me mostrou onde eu iria me deitar logo após terminarmos o jantar. Henrique subiu para pegar algo e fez de tudo para me deixar a vontade, desde dizer isso a mim até me confiar ao ponto de me deixar sozinha.
Ok. Talvez não tão sozinha, mas enfim, conversamos bastante e em certo momento eu poderia jurar que nos conhecíamos a décadas.
— Eu não posso acreditar, que fofinho! — eu digo fazendo beicinho olhando as fotos de quando Henrique era mais novo. Sim, ele me mostrou elas por vontade própria, nesta ele estava encharcado de volta ao barco de pesca com o pai sorrindo todo orgulhoso com um grande peixe espada na mão — quem diria que uma coisinha fofa como esta se tornaria um monte de músculos e beleza quando adulto?!
Henrique ri da minha exclamação bebericando o seu chá.
— Pois é, não é? Eu é que estou curioso para saber como era a nossa grande engenharia, versão mini.
Naquela hora eu corei e tive vontade de bater em mim mesma. Continuamos a jogar conversa fora até que fui acompanhada até um dos quartos onde eu iria ficar tal como Emilie já me mostrou antes.
Estava me sentindo tonta e por algum motivo a bem dita leveza entre nós estava se evaporando de novo, eu detestava quando isso acontecia.
Eu poderia estar rodeada de pessoas e em um ambiente alegre, mas bastava uma brecha e aquele peso sufocante no peito me desanimava completamente.
Me despedi o mais rápido que pude ao perceber que faltava pouco para aquilo se tornar em meia hora de choro e lágrimas injustificadas.
Depois do banho, quando finalmente pensava estar pegando no sono recebi uma visita de Emilie para pegar a minha roupa para lavar, para eu usar de manhã já que só haviam roupas de banho e de noite disponíveis.
No fim de tudo consegui adormecer e relaxar, sabendo que estaria apenas a algumas portas de distância de Henrique, o sono foi mais leve ainda.
Pela manhã, tão cedo como eu não podia deixar de acordar o sol ainda não tinha nascido completamente, fiz minhas higienes e decidi ir a procura da primeira pessoa que passou pela minha cabeça.
Bati a porta três vezes, sem resposta e então o meu anjo da guarda naquele lugar aparecem com cesto de roupas e me indica a sala de artes, onde provavelmente Henrique estaria a estas horas da manhã.
A porta estava aberta e mesmo assim bati antes de entrar.
— Com licença. Bom dia! — o cumprimentei com um sorriso tímido, sentindo calor se apoderar do meu rosto e enrusbecer minhas bochechas — como estás?
POR QUÊ DIABOS O HOMEM ESTÁ SÓ DE CALÇA MOLETOM PINTANDO A ESTAS HORAS DA MANHÃ?
— Samantha, bom dia — ele respondeu com naturalidade, me devolvendo o sorriso ao se virar para me olhar — eu estou ótimo e sou quem deveria lhe fazer essa pergunta, afinal sou o anfitrião, como você passou a noite? Ela foi agradável?
Rezando para que ele não tenha ouvido os poucos gritos e soluços que não consegui conter, sim, foi perfeita, dormi como um bebê.
— Foi muito boa, obrigada por perguntar.
Ele pegou uma cadeira próximo a uma mesa com algumas tintas e pincéis, e deixou junto a tela que ele estava pintando e logo abandonou sem que eu tivesse tempo de ver qual era a obra da vez.
— Isso é ótimo, se eu soubesse que você acorda tão cedo teria pedido para Emilie preparar um café para você na cama, não vamos esquecer que saiu do hospital ontem — Não sei o que era mais impressionante naquele momento, o fato de ele estar agindo na maior naturalidade, eu estar morrendo de vergonha de tão corada ou a gentileza que ele conseguia ter — senta-te, vou começar um quadro novo e você será a minha musa.
Parei mortificada, processando estas palavras que mais me pareceram um soco no olho do estômago. Ele queria pintar-me? Olhando a volta consigo ver três tipos de assinaturas nos quadros espalhados pelas paredes, chão apoiados as mesas e suportes por aí, alguns desenhos por cima delas e vários tipos e formas de pincéis, tinta e diluente.
Sem saber exatamente o que fazer ao invés de ficar plantada ali morrendo de vergonha alheia — só que não — o celular de Henrique tocou dentro do bolso e eu agradeci a Deus pelo livramento.
— Eu... Já volto. Esqueci o meu celular no quarto. — consegui dizer, receber um aceno de cabeça e então correr para o leito onde passei a noite a procura do meu celular.
Achei algumas mensagens de Sandro, Eunice, Camilo e continuei rolando até achar as mensagens do meu cavalheiro misterioso.
Samantha — Bom dia.
Samantha — 😶🌫️🤧Cavalheiro misterioso — Bom dia, princesa sumida!
Samantha — Eu sei que parece mau, mas eu posso explicar, eu... — não tinha terminado de digitar quando uma nova mensagem chegou.
Cavalheiro misterioso — Como você está se recuperando?
Cavalheiro misterioso — Já saiu do hospital?Samantha — Você sabia que eu estive internada? Como?
Ou isso era uma brincadeira, de muito mal gosto, ou ele está me stalkeando, na melhor das hipóteses é alguém conhecido que anda brincando comigo por mensagens. Vamos acreditar nisso antes que minha mente se ponha a pensar coisas.
Cavalheiro misterioso — Calma Samzinha! Eu não sabia de nada, foi apenas uma suposição.
Cavalheiro misterioso — Lembra de ter me dito que se você sumir por mais de 24 horas e depois regressar é porque estaria doente ou no hospital? Então, eu acertei?Realmente me lembro de ter contado isso para ele e fico mais calma, mas ele não responde as minhas mensagens seguintes.
— Talvez esteja ocupado, sem bateria ou sei lá... — balbucio para mim mesma e me ponho a responder as mensagens dos outros até levar um susto daqueles com uma chamada de Camilo.
O que poderia ser?
Não importando o que era, importante ou nem por isso, não tive tempo de atender pois fui arrastada de hobbe e roupa de noite para fora de casa por Henrique que parecia apressado e exasperado.
— Sobe no carro, eu explico no caminho.
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AMOR AO SEU DISPÔR
Romance"No coração pulsante de Luxemburgo, um país encantador e cheio de história, Samantha Borges, uma engenheira resiliente com um passado traumático, encontra-se no centro de um intricado triângulo amoroso. Samantha é uma força inabalável, uma mulher qu...