19| LOIRA OXIGENADA

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Nunca pensei que poderia descrever veementemente a sensação de estar perto de alguém e sentir como se pudesse simplesmente estar presa aquele momento para sempre. Sim, aquele momento, não passar a eternidade junto a essa pessoa ou simplesmente em outras situações. Somente aquele único instante importava.

Eu tenho a grande mania de me apegar com unhas e dentes aquilo que, de alguma forma, me faz sentir minimamente bem. Gosto de me sentir confortável e facilmente me sinto ameaçada quando necessário sair da minha área de conforto. O que é um pouco contraditório visto que sou engenheira e não estou presa a uma e definitivamente uma coisa.

É uma lógica pouco compreensível e estava tudo bem. Para mim.

Sabia que estava rindo feito uma boba olhando para aquela cena.

Estávamos em um parque, o dia continuava colorido pelo sol que aos poucos ameaçava começar a se despedir tomado pelo cinzento das nuvens e da proveniente chuva. Eu, sentada sobre um banco velho de madeira, porém muito bem cuidado e até envernizado, observando às gargalhadas contentes de uma criança que corria desesperada com Henrique em seu encalço  sobre a grama verde e aparada.

Soltei um som de satisfação quando ela correu até a mãe, mas ainda assim foi pega pelos braços do seu perseguidor segundos antes de alcançar a mulher. Me levantei depressa e fui andando até eles ainda podendo os ouvir em exasperação. Pousei a mão sobre o ombro do homem maior quando ele soltou a criancinha que saiu a correr e então Henrique olhou para mim.

— Eu acho que terminamos aqui por hoje.

— Pensei que não pretendia voltar para casa tão cedo. Ainda podemos aproveitar um pouco mais.

— E eu pensei que talvez tivesse coisas mais importantes a fazer... Não tenho nada contra ficar mais um pouco, só que...

— Oh... Olá! Espero não estar incomodando. Henrique. — a voz feminina apareceu atrás de mim, me interrompendo — E a... Como era mesmo? Ah...

— É Samantha, Helena o nome dela é Samantha.

Também ouvi a voz do meu amigo antes sequer de me virar e compreender porquê a expressão que Henrique esboçava não lhe agradava. Aquela mulher tinha que estar sempre onde não era chamada. Eu já estava a ficar desconfortável apesar de tudo.

Não gostava de sair o tempo todo de casa e também não gostava que as pessoas ficassem me encarando, o que acontecia mais vezes do que eu aprovaria.

— Olá. Como estão?

— Nós estaríamos ótimos, claro. De qualquer forma já estávamos de saída não é, Samantha?

O tom divertido e brincalhão que estava presente quando chegamos tinha desaparecido completamente da voz de Henrique. Agora transmitia seriedade e até um pouco de possessividade. Ele se aproximou de mim e eu senti o meu corpo reagir involuntariamente ao calor do seu quando ele enlaçou o braço a volta da minha cintura.

Não pude deixar de notar a faísca de ciúmes que passou pelos olhos de Helena ao olhar para aquilo.

Apesar de me sentir cansada e com vontade de ficar sozinha, não afastei Henrique e acenei a cabeça várias vezes em concordância para que pudéssemos sair dali.

Demos alguns passos para longe deles e então ouvi Korey me chamar novamente. Tive que soltar um suspiro de indignação para poder olhar para ele quando se aproximou e parou bem a nossa frente.

— Será que poderia nos dar um pouco de espaço? É algo particular o que tenho para falar com ela.

Henrique nada disse e o aperto em minha cintura deixou claro, ao menos para mim, que ele não queria que eu me aborrecesse naquele dia.

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