21| SEQUESTRO

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   Para: FranciscoLucky

Mãe — Filha, onde você está? Porquê não atende o telefone?

(15 min. Depois)

Mãe — Samantha, você precisa me ouvir. Atenda as chamadas.

Mãe — Eu estou falando sério, onde você está filha? Volte para casa.

(45 min. Depois)

Mãe — Eu estou preocupada.

Mãe — Samantha, meu amor me responda se estiver vendo esta mensagem.

Mãe — Eu estou preocupada, nós estamos, a tua família filha.

Mãe — Eu te amo meu amor, retorne as chamadas.

(3 horas depois)

Mãe — Entendo.

Mãe — Eu estarei aqui quando você estiver pronta.

Mãe — Só me prometa que vai se cuidar.

Mãe — Você é minha filha querida, Samantha!

Eu quis chorar ao ler aquelas mensagens. Oh, olha só, eu já estava chorando de qualquer forma. Eu não poderia acreditar no quanto eu fui burra e ingénua.

Uma família feliz, sem problemas maiores, sem discussões, só amor e carinho, sem segredos, sem qualquer tipo de controvérsia.

Parecia um sonho, era me feito acreditar que tudo não passava de um sonho. Todas as noites mal dormidas, a comida mal engerida, as manhãs de extremo cansaço em que eu mal desejava levantar da cama, em que eu mal me sentia bem comigo mesma, todas as vezes que eu chorei sem motivos e grossas lágrimas banhavam o meu rosto, eu sempre achei que fosse um simples mal estar. Nunca compreendi totalmente o que se passava comigo, mas agora já começava a fazer sentido.

Me debrucei sobre a cama mais uma vez sentindo a cabeça pesar ao entrar em contato com a maciez da almofada. Funguei uma e duas ou talvez três vezes e deixei que a realidade me roubasse uma nova enxurrada de lágrimas em um choro silêncioso e não acalentado.

Não poderia fazer barulho. Camilo passou aqui a algum tempo, não sei dizer quanto ou quando, isso pouco me importava. O tranquilizei da melhor forma que pude e me joguei sobre a cama entendendo que toda a minha vida pode ter sido uma mentira.

(... Horas mais cedo naquela noite)

— Estou a caminho, não há qualquer necessidade disso. Eu já venho Sandro.

Desliguei o celular e saí as pressas de casa com minha bolsa e meu telefone em mãos, trancando a porta do meu pequeno apartamento, guardando as chaves e fui em direção ao elevador.

Quando saí para fora, Camilo estava impaciente de braços cruzados e uma expressão de poucos amigos apoiado ao capô do carro.

— Cinco minutos, hã?

Soltei uma risada contida e caminhei com ele para o outro lado do passageiro onde ele abriu a porta e me deu passagem. Não deixei de acenar para Sandro estancionado alguns metros atrás.

Já estávamos a alguns minutos na estrada e meu chefe de mantinha calado concentrado em dirigir. Vez por outra eu olhava de esguelha para ele que me devolvia o olhar acusatório sempre que me pegava no flagra; Me fazia de desentendida  o máximo que podia colando os olhos há janela até não me aguentar de curiosidade e perguntar.

— Chefinho... Ah, Camilo, para onde estamos indo afinal? Vocês chegaram e não me disseram completamente nada. — afirmei.

Recebi outro olhar em resposta, mas pouco depois pude ouvir a sua voz.

— Não seria bem mais sensato perguntar isso antes de simplismente subir no veículo apesar de conhecer quem dirige? — ele indagou. — O que você faria se fosse um sequestro, Samantha?

Arregalei os olhos e levei automaticamente as mãos a fechadura da porta.

— Nesse caso eu fico já aqui, obrigada! — melhor perdida onde tu mesma não conhece do que sequestrada e torturada pelo seu chefe mais do que ele já fazia cinco dias á semana.

Camilo gargalhou e gargalhou, eu fiquei claramente sem entender e por algum motivo (in)explicável eu quis bater nele e porquê passar vontade quando você pode? Sentei um peteleco no seu braço e mesmo assim o bem dito não parou.

Estava prestes a embarcar na minha segunda investida, desta vez com um beliscão, quando senti uma vibração no meu colo e logo em seguida ouvi o som do meu telefone recebendo uma chamada que eu prontamente atendi.

Era minha mãe.

Com o celular junto ao ouvido quis cumprimentá-la se não fosse pela voz de minha irmã passando pela corrente.

— Então porquê ninguém diz nada? Porquê ainda tenho que continuar escondendo algo quando sei que minha irmã está sofrendo? Ela ao menos sabe que não é minha irmã de sangue?

Aquilo acabou comigo.

Me pegou desprevenida e me deixou confusa. Minha mãe tampou o microfone e se afastou, chamava por mim e eu não conseguia responder. Só então me sobressaltei com o toque de Camilo, desliguei o celular na mesma hora e um peso sufocante se instalou no meu peito.

— Pronta para a noite de jogos? — eu ouvia o que ele dizia, mas ainda não entendia. — Não é todos os dias que seu chefe trabalha como seu motorista não é? Vamos? — a porta estava aberta e Camilo estendia a mão para mim, não sei quando ele desceu e deu a volta.

— Eu... Preciso ir ao banheiro, po... Por favor.

(Mais tarde na mesma noite)

— Samantha, tudo bem aí dentro?

Tenho a certeza que se fosse em outra situação eu estaria eufórica xeretando o quarto de, ninguém mais que, Camilo Buarque. Mas ali estava eu, escorrada na porta, abraçando o próprio corpo ainda em choque e com dúvidas sobre o que tinha ouvido.

Maneei a cabeça e me esforcei em dizer um 'sim' fraco, sabendo que ele não poderia me ver acenar.

— O banheiro é a porta á direita, há toalhas limpas, pode usar elas ok... Samantha?

— Ok... Obrigada. — foi tudo o que disse antes de correr para lá e me colocar debaixo de água por incontáveis minutos. — HAAA!

Tive um pequeno susto quando saí e encontrei Camilo no quarto aguardando sentado num extremo da cama.

— Samantha... Desculpa ter entrado assim... Eu bati e quando não recebi respostas apostei que estivesse dormindo... Porquê demorou tanto tempo no banho? Algum problema?

— Quanto? — respirei fundo e agradeci as gotas de água em meu rosto que disfarçavam o fato de eu ter chorado horrores no banho. — Quanto tempo eu fiz lá dentro?

— Pouco mais que duas horas e quarenta minutos. Comecei a me preocupar. — ele se levantou e deixou sobre a cama algumas peças de roupa. — Acreditei que fosse precisar, venha ter comigo quando terminar, está bem?

Tudo que eu fiz foi acenar, mas assim que me vesti me senti tão cansada olhando as mensagens de minha mãe que não resisti em dormir ali mesmo, na cama King size do meu chefe. Aposto que ele ainda entrou para ver como é que eu estava e aproveitou para me cobrir com o edredom.

Sei que também teria que lhe dar explicações na manhã seguinte. Mas agora, eu só precisava esquecer, limpar a mente e esquecer seja lá o que for, só por uma noite.

 Mas agora, eu só precisava esquecer, limpar a mente e esquecer seja lá o que for, só por uma noite

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