16| NOME, SOBRENOME E ENDEREÇO

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(Camilo Buarque)

— Muito bem Luiza, eu acho que é tudo por enquanto. Ah, eu também gostaria de ver os gráficos da última semana. Penso que eles não foram discutidos na reunião de ontem... — não obtive resposta — Luiza! Está ouvindo o que digo?

— Sim, aceita... Quer dizer, Samantha... Não, Camilo... Ahhh O-o que disse?

Balancei a cabeça em negação. Eu sabia que não devia ter me aberto para ela, agora vai ficar o tempo todo no meu pé. É bom ela não abrir a boca para dizer nada comprometedor na frente da Sam.

— Eu estou aqui falando feito um louco enquanto sua mente está sei lá onde. — bufei resignado.

— Um sei lá onde que tem nome, sobrenome e endereço.

— Uma pena que ainda não sejam os meus, mas agora se for possível para si, vamos terminar isto logo, daqui a nada o Monteiro irá chegar e eu não sei quanto tempo levaremos em conversa.

— Hum... Camilo, você sabe que eu sempre considerei você como o filho que eu nunca tive...— a interrompi.

— Luiza por favor, não vamos ter esta conversa novamente.

Ela acenou em concordância, mexeu em algo no seu aparelho e momentos depois eu tinha os gráficos semanais recentes no meu computador via e-mail.

— Agora se me der licença.

Ela levantou-se e saiu claramente descontente com a minha decisão. Deu meia volta e bateu a porta com um pouco mais de força do que seria necessário.

Eu entendo que ela esteja animada. "Eu sempre soube que Samantha é uma boa moça, assim ela faz você assentar de uma vez". Mas também não podemos esquecer que por vezes Luiza é um pouco precipitada, "eu disse que estou dando um pouco mais de atenção a ela, não me venha com nada de declaração. Não coloque a carroça a frente do cavalo". Parece que nem com isso eu a convenci de que ainda não havia nada entre nós, ainda...

Sendo muito sincero, nestes três anos em que trabalho com ela sempre senti uma química diferente entre nós, a princípio eu realmente achei que fosse só um bom entrosamento, mas depois, agora, muito recentemente, vê-la conversando tão animadamente com um rival em potencial, meio que acendeu uma chamada possessiva em mim, algo que eu nunca me importei em sentir por qualquer outra mulher, nem com as que eu já fiquei por uma noite ou outra.

Não posso dizer que Samantha não é linda, ela é maravilhosa com o seu jeito delicado e resiliente em uma só mistura de altruísmo e sensatez, o que nos tempos atuais é bem difícil de se achar. Aposto que se eu me me levantasse desta cadeira, abandonasse estes papéis todos por um momento e fosse a rua, apenas uma em tantas ainda seria pura igual a Samantha na idade que tem.

E eu já conheço ela; muitas vezes já a sequestrei para ser minha companhia em eventos e galas, não sei como, mas também não duvido que ela já tenha me convencido a ir consigo a um parque de diversões, a um restaurante fast food e ao cinema. Vamos dizer que ela tem uma magia diferente naquele sorriso carregado.

Eu me preocupo com ela a maior parte das vezes que a vejo sorrindo daquela forma. É tão lindo, tão genuíno que até parece mentira que na maioria das vezes ele está aí só de fachada para um interior ferido e mercado de uma forma lamentável. Eu conheço ela. Eu já me permiti conhecer ela, numa das noites saindo tarde do trabalho eu a vi, jogada no chão abraçando fortemente o corpo, chorando desesperadamente porém sem nenhum único som para acompanhar aquelas grossas lágrimas que eu enxuguei com todo o carinho,  com toda determinação eu fui a fundo para conhecer o interior daquela mulher fantástica demais que muito bem poderia ser comparada a algo perfeito. Mas ela era perfeita.

AMOR AO SEU DISPÔROnde histórias criam vida. Descubra agora