24| ESTOU AQUI, SAMANTHA

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Depois de me arrumar e tomar um pequeno-almoço que pudesse me sustentar pelo restante da manhã me apressei para chegar ao trabalho. Óbvio, atrasada como sempre fui.

A primeira impressão depois que voltei a pisar o sagão da CKNCcorp foi a de ter ficado anos longe. Admito que estive com certas manias nas últimas semanas e também não poderia negar que aquele tempo foi muito bom para mim.

Ouve choro, gritos e esperneios, mas eu poderia sim afirmar que ele foi bom. Não posso sair por aí usando meu problemas internos para culpar o mundo mesmo ele não sendo justo na maioria das vezes.

Cumprimentei Jéssica na recepção e usei meu passe para ir o mais rápido possível até os elevadores, que, como sempre, demoram uma eternidade para chegar.

Já poderia imaginar a bronca que levaria de Camilo.

Aff, o que eu poderia fazer? Ele é o meu chefe!

— Até quando, exatamente, pretende ficar plantada aqui olhando para o elevador. — uma pausa. — que pelo jeito está vazio. A não ser que esteja possuído e agora você tenha "dons", Samantha?!

— O quê?... Não! Sim... Meu chefe!! — me assustei quando senti o calor da sua mão em contato com a minha pele fria. — Camilo? Digo... Chefe?

— Mulher... Você está bem? — ele me agarrou pelos dois ombros parecendo preocupar-se. — O que foi isso a pouco?

— Eu... — tive uma sensação de estranheza, como se houvesse várias pessoas olhando para mim e realmente havia. Todos no saguão paravam o que faziam para olhar para nós dois especados á frente do elevador. — Só me atrasei... Preciso ir...

O empurrei na mesma hora, entrando para o elevador e indicando o andar antes que ele tivesse tempo de contestar ou fazer mais perguntas. Não dei nem brechas para que ele respondesse ou viesse comigo.

É mesmo Samantha. O que diabos foi aquilo com o seu chefe no hall da empresa?

Eu preciso parar urgentemente de divagar o tempo todo, ruminando situações e hipóteses que muitas das vezes são '"chatas'" — segundo Eunice — e sem importância. Mas quando menos esperava lá estava eu perdida de novo em devaneios ao invés de estar ouvindo o que Bianca dizia exasperada a minha frente.

— Samantha? Samantha, está me ouvindo? Samantha!! — Ela choramingou e eu me culpei por sorrir em uma situação em que deveria estar totalmente sem graça.

— Bem, eu estou ouvindo agora... Bianca, o que é aquilo na sala de projetos?

Ao longe, consegui identificar Nathan e Carlos em uma espécie de disputa, um estava em pé por cima da mesa de reuniões com dois agrafadores desconfigurados e de alguma forma presos a capas de documentação, como se quisesse passar a imagem de uma arma protetora e atacante ao mesmo tempo, direcionadas para nosso outro colega que estava no chão com um grande molde de cerâmica de alguma maquete velha fazendo um escudo e uma régua triangular na outra fazendo de espada ou o que quer que fosse.

Ângelo estava em outro lugar estendido de forma dramática sobre o chão com a mão no peito como se tivesse sido atingido e Beatriz, a recém chegada de quem eu ainda mal lembrava, apoiava a sua cabeça nas suas próprias coxas para o amparar, esboçava um rosto de incredulidade implorando por piedade e eu tive vontade de sair correndo até lá para bater nos quatro ao notar a grande bagunça que estava a volta deles. Um monte de papel amassado e espalhado a Deus dará, canetas, marcadores e lápis de todos os tipos, quebrados e manchando tanto os papéis quanto os pisos e o vitral da mesa.

Deus, me dê paciência para eu não mandar cada um desses bebés adultos de maca para o hospital. Ou melhor, para a creche, é um lugar de onde não deveriam ter saído.

AMOR AO SEU DISPÔROnde histórias criam vida. Descubra agora