18| VOCÊ É ITALIANO?

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      Para: Tecia_Watts

Depois do almoço ainda estava cedo, eram por volta das duas para as três da tarde então eu tive a excelente ideia de levar um ser todo engravatado para um passeio no parque.

Eu não me censuro por fazê-lo, até porque esse era o propósito do nosso encontro no final das contas. Não era para ser nada demais, não é como se fosse um encontro romântico ou algo do tipo. Eu estava a gostar de passar tempo com Henrique e ao que parece ele também não desgostava da minha presença. Pelo contrário, poderia dizer que ele até gostava bastante, então eu não tenho culpa se ele decidiu se colocar para dentro dos ternos logo hoje.

Depois do que pareceu uma guerra enorme para decidirmos quem levaria a loiça, eu perdi e então me encaminhei ao meu quarto. Não poderia simplesmente sair de qualquer jeito para passear e naquele momento a calça moletom e a regata branca que eu usava não me agradavam. Então decidi optar por algo mais solto e versátil, o dia estava ensolarado apesar de húmido e com algumas nuvens no céu. Não duvido que possa chover ainda na noite de hoje.

Mas enquanto isso, eu saia do quarto com um vestido florido até pouco depois dos joelhos, ele tinha um decote em V que não era tão grande assim e não me deixava desconfortável.

Poderia ter 24 anos, mas ainda agia feita uma adolescente quanto a coisas como roupas, relacionamentos e diversão. Eu cedia aos caprichos de Eunice uma noite ou outra e íamos juntas para um balada ou alguma festa que ela era convidada. Contudo e conforme, eu preferia manter a minha castidade em tudo que me cabia, isso também se referia a roupa, já que hoje em dia as pessoas não têm qualquer descrição ao fixar o olhar de forma atrevida pelo corpo alheio. Preferia não ser motivo de tropeço para ninguém.

Já tinha problemas o suficiente com que me preocupar.

Nos pés coloquei uma sandália rasteira Vizzano que Eunice escolheu para mim semanas atrás, na última vez que fizemos compras juntas, e levei apenas uma pasta de ombro pequena com a minha carteira e o meu celular.

Já na sala, achei que teria um ataque cardíaco quando vi Henrique sentado esculturalmente no sofá. Ele arregaçou as mangas da camisa azul marinho e abriu cerca de três botões, revelando o peito trabalhado do qual eu já tive melhor visão na manhã de dias atrás. Não sei se foi impressão minha, mas acredito ter visto uma fina corrente no seu pescoço antes de ele mover-se e olhar para mim com uma das sobrancelhas erguidas.

— Passasse algo? — indaguei, desviando o olhar sabendo que não seria capaz de passar despercebido o tom avermelhado das minhas bochechas mesmo que não tivesse passado maquilhagem. Apenas um protetor solar e um lip hidratante nos lábios. Ele pareceu admirar-me mesmo assim, porque se demorou me encarando antes de responder.

— Não. Estive esperando por você. Está maravilhosa. — Não contive o sorriso bobo ao ouvi-lo dizer aquilo e desviei o olhar logo em seguida, depois de um pequeno sobressalto de coragem. — Definitivamente apetitosa.

Senti o calor tomar conta do meu rosto e pela forma como ele continuava me encarando eu acho que iria explodir, então sai na frente até o corredor me esgueirando cheia de vergonha.

Não é porque ele é bonito que pode sair por aí fazendo esse tipo de insinuação.

Pude ouvir a sua gargalhada atrás de mim e por pouco eu não tive vontade de bater nele por me fazer ficar constrangida na minha própria casa. E a forma como ele apreciava o ambiente. Talvez ele também ache o lugar um tanto pequeno e fosse realmente a hora de eu ceder a mais uma das súplicas da minha melhor amiga e me mudar para algo melhor. Uma mansão no mínimo satisfaria Eunice e ela deixaria de me importunar por não haver espaço suficiente para as nossas trafulhagens em minha residência.

Saí para fora e esperei até que Henrique passou pela porta com o seu paletó no antebraço e o celular em mãos.

— Ao que parece temos três horas e meia até o tempo fechar e começar a chover. Deveríamos aproveitar. — Concordei e passei as chaves para ele trancar o meu apartamento. Não tinha quaisquer pretenções de receber visitas indesejáveis como semanas atrás. — Onde gostaria de ir primeiro, Sabrosa?

Pensei rapidamente que seria uma boa oportunidade para falar sobre o ocorrido de semanas passadas com ele mas então ele me chamou por um nome no mínimo peculiar.

— O que me chamou? — indaguei atónita.

— Sabrosa. É apetitosa  em italiano, o apelido se encaixa bem demais em você.

Ele soltou outra gargalhada, mas diferente do que pensei, aquilo não me chateou, fiquei mais entretida com o som agradável da sua voz e o quão lindo ficava quando sorria.

Tive que abanar a cabeça para me livrar destes pensamentos antes que perdesse a tarde toda babando por ele.

— Afff... Aqui. Tranca a porta e vamos logo antes que esta chuva nos pegue. Juro que lhe faço pagar se eu tiver de ficar enfurnada nessa casa sem sair para apanhar sol. — resmunguei — e nada de apelidos duvidosos

— Tudo bem então, eu conheço outro lugar onde poderia ficar enfurnada sem que eu precisasse ser castigado.

Parei no meio do corredor e olhei para ele com a minha melhor cara de indignada pela forma mirabolante que aquilo soou.

— Se você pagar uma pizza dupla de frango e cogumelos, um ou dois milkshakes de morango e ainda um cesto de bombons para mim, eu posso muito bem esquecer a forma como deu a entender que me sequestraria.

Parecendo muito contente com a ideia ele sorriu e estendeu o braço para mim. Me senti apreensiva subitamente, mas aceitei o convite silêncioso segurando o seu paletó e enlaçando o meu braço no seu estendido.

Aquilo me parecia um pouco íntimo demais. Não é surpresa nenhuma o fato de eu ser reservada e até conservadora sem o meu pleno consentimento e também não era para menos a forma desesperada como Eunice insistia que eu deveria arranjar um namorado.

Eu não precisava de um. Na verdade nunca tive muito contacto físico com rapazes além de meu pai e meu avô quando era vivo.  Nunca tive muito interesse nesse tipo de relações com rapazes. Não tenho nada contra, eu só me retraia ao pensar em ter de abraçar alguém e beija-lo. Eu tinha sim um nível considerável de aversão ao gênero masculino e isso até que não era um grande problema quando eu já desenvolvo um nível compatível de intimidade com alguns, mas é restritamente com estes, como Sandro, Camilo, alguns colegas além de Ângelo, Nathan e Carlos que trabalhavam comigo na equipe de projetos.

Não poderia reclamar de nada até porque só agora havia me dado conta disso, sem contar que eu já andei abraçada a Henrique em outras vezes e não pensei duas vezes em abraçar ele no dia em que nos conhecemos no evento ou hoje mais cedo.

Decidi ignorar isso e andei ao seu lado mais relaxada. Só que então o apelido que ele me deu veio a mente.

— Espera aí... Henrique, você é Italiano?

 Henrique, você é Italiano?

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