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Urrea

Sina parecia furiosa por eu ter chamado a polícia, eu entendo que deve ser doloroso, mas ela queria que eu fizesse o que? Deixar ela ali não era mesmo uma opção.

Ela olhava pela janela de meu carro, a cidade escura que dormia, sem me olhar e sem respirar propriamente.

— Antes que você diga que eu sou burra. — sua voz soou tremula. — Não estávamos mais juntos, eu me mudei pra cá sozinha, eu não queria mais, ele nunca fez nada pra mim que eu não quisesse...

— Eu sei que você não é burra, sei disso, e sei que você entende que o que estava acontecendo ali não era normal. — vi de canto de olho ela tatear o pescoço como se estivesse em transe. — Eu mandei uma mensagem para Bailey prestar atenção nos barulhos logo depois que eu te deixei, antes mesmo de eu passar dois quarteirões, ele me ligou e pude ouvir você gritar pelo celular sem ao menos estar no viva-voz.

Sina encarou os pés.

— Não era para você ter chamado a polícia, o que vai acontecer agora?

Sina passou as mãos no rosto.

— Você queria que Bailey so tirasse ele de cima de você e fosse embora? Pra daqui um tempo ele faça com outra pessoa?

Ela me olhou séria.

— Isso ter acontecido não significa que você é burra, significa que ele é. — completei e vi ela puxar o moletom para esconder seus pulsos roxos. — Há quanto tempo isso acontece?

— Ele nunca fez isso. Ele não faz isso. — falou. — O que aconteceu deve ter sido apenas um mal entendido, eu não estou completamente sóbria posso ter desassociado as coisas de alguma...

Freiei o carro bruscamente fazendo nossos corpos irem minimamente para a frente, ela me olhou assustada.

— Não! Não fala isso! Você poderia estar em coma alcoólico e mesmo assim ele não teria a permissão de encostar um dedo em você, têm pessoas ruins no mundo e você sabe disso, só não quer acreditar que ele seja uma delas. — me virei pra ela. — Fiz o que fiz justamente por saber onde isso vai acabar, assim como quase acabou com a minha irmã.

Caminhei pelos corredores brancos em busca do quarto 104 e ao encontrar bati na porta sem esperar respostas, apenas queria que ela soubesse que estava entrando.

Ao abrir a porta vi minha irmã com um gesso no braço, um suporte na perna, um curativo na cabeça e pude ver hematomas por seu rosto.

Minha mãe tinha me alertado que talvez fosse melhor eu esperar um pouco para vê-la, mas não consegui e agora entendo o motivo dela ter dito isso.

Meu corpo parecia vibrar como um celular, mas eu adentrei o quarto me sentando na poltrona ao seu lado.

Mesmo ela estando toda arrebentada, ela olhou pra mim, segurou minha mão com o braço que não estava imobilizado e sorriu sem mostrar os dentes.

— Vou ficar bem. — ela disse isso e me vi desabar em lágrimas ao seu lado, beijando sua mão.

— Por que esperou ficar assim? Por que não me disse nada? — não conseguia controlar meus soluços. — Eu poderia ter ajudado.

escape | noartOnde histórias criam vida. Descubra agora