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Deinert

Eu estava concentrada em dobrar os guardanapos, tentando fazer tudo ficar o mais perfeito possível. A mesa já estava quase pronta, e Wendy, do outro lado, parecia completamente à vontade enquanto ajustava os pratos e talheres. Ela era tão tranquila e calorosa que, mesmo com meu nervosismo, era fácil gostar dela.

— Sua casa é linda, Wendy — comentei, tentando soar natural. A verdade era que eu queria agradá-la de qualquer forma possível. — Dá pra ver que vocês colocaram muito carinho em cada detalhe.

Ela olhou para mim com um sorriso que iluminava seu rosto.

— Ah, obrigada, querida. Marco e eu sempre tentamos criar um ambiente acolhedor, sabe? Um lugar onde todos possam se sentir em casa, Noah e Linsey afirmam ter amado crescer aqui.

— E vocês conseguiram — respondi, sincera. — É realmente encantador.

Por um instante, houve um silêncio confortável entre nós enquanto ela se aproximava para pegar mais copos.

— E sua família, Sina? — perguntou Wendy, com um tom casual que não parecia invasivo. — Eles são de onde?

Engoli seco, mas sorri, mantendo o tom leve.

— Meus pais moram no interior, um lugar bem calmo. Meus pais são alemães assim como eu. É daí que vem o meu sobrenome e... — brinquei, passando a mão no cabelo — talvez a minha obsessão por chinelos com meias.

Wendy sorriu enquanto colocava um prato no lugar.

— Deve ser lindo por lá. E você, sente falta de viver nesse tipo de ambiente mais tranquilo?

Pensei por um momento, ajustando os talheres na mesa.

— Um pouco, às vezes. A Alemanha tem um encanto próprio, especialmente onde meus pais moram. Mas eu sempre tive curiosidade pelo mundo, pela vida fora daquela bolha tranquila. Acho que é por isso que acabei me mudando.

— Entendo completamente. — Wendy assentiu, com um olhar compreensivo. — Eu sempre digo que é importante explorar e encontrar nosso próprio lugar no mundo. Mas é claro que manter laços com a família também é essencial.

— Com certeza. — Sorri de leve. — Falo com eles sempre que posso. Minha mãe e eu somos bem próximas, e Diana... bem, ela é minha irmã caçula, então sempre arruma um jeito de me manter atualizada sobre tudo.

Wendy soltou um pequeno riso.

— Aposto que ela adora ter você como irmã mais velha.

— Ah, espero que sim. — Brinquei, ajeitando outro guardanapo. — Ela diz que eu sou a chata que tenta dar conselhos o tempo todo, mas sei que gosta de ouvir.

Wendy ficou em silêncio por um instante, observando-me com um sorriso curioso enquanto eu terminava de arrumar os copos.

— E esse cabelo loiro? — ela perguntou de repente, quase de maneira conspiratória. — É natural ou você tem algum segredo?

Ri baixinho, tocando distraidamente nas pontas do cabelo.

— Natural. Herança do meu pai.

Ela sorriu, um sorriso que parecia mais amplo do que o esperado, quase... vitorioso.

— Interessante — disse, voltando a ajeitar uma travessa na mesa, como se a conversa fosse totalmente trivial.

Eu tentei não pensar muito naquilo, mas algo em sua expressão me deixou um pouco desconcertada. Por que parecia tão importante para ela que meu cabelo fosse naturalmente loiro?

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