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Urrea

Minha uma hora de sono não ajudou muito no meu rendimento do dia, parece que a minha cabeça mal funciona de tão cansado. Nunca mais eu saio dia de domingo.

Finalmente fui liberado depois de uma manhã exaustiva.

Fui até meu apartamento para tomar um banho, me vesti rápido, tomei um café e um pré-treino, depois fui em direção a casa de Sina para deixar os sapatos antes de ir para a academia, já que as chances de eu esquecer após eram muito altas.

"Estou aqui embaixo" enviei e ela visualizou enviando um "ok" como resposta.

Pouco tempo depois ela apareceu com um vestido branco e cabelo trançado.

Abaixei o vidro do carro para que ela me visse, logo ela se aproximou do meu carro dizendo:

— Você não sabe nem stalkear. — afirmou ao pegar os sapatos. — Curtiu uma publicação minha de 2014.

Mostrei um dedo.

— Ia até te oferecer carona, depois dessa te deixo andar sozinha por aí, Cinderela.

— Fofo. — sorriu. — Obrigada por trazer meus sapatos.

Ela pôs os sapatos em sua bolsa de pano e quando ela estava prestes a se despedir eu disse:

— Entra logo e diz pra onde você vai. — eu disse fingindo olhar o retrovisor.

Ouvi uma risada gostosa e ouvi a porta abrindo.

Ela me mostrou o celular com a localização e eu assenti.

— Você fala francês? — perguntei enquanto tirava do carro e ela riu.

— Sei bonjour e só. — eu gargalhei junto com ela.

— Como você vai para o médico? — disse me referindo ao endereço que ela havia indicado.

— Tenho uma tradutora. — ela disse com naturalidade.

Que?

Ela paga alguém para traduzir as coisas para ela?

— Você fala francês? — perguntou e eu assenti. — Você não parece francês.

Dei de ombros.

— Vou levar como elogio. — a olhei e ela deu de ombros também. — Sou naturalizado, meu pai é francês e a minha mãe é estadunidense, nós mudamos pra cá quando eu era criança, aí foi fácil de aprender.

— Ah sim. — ela disse. — Sou filha de alemão, neta de alemão, bisneta de alemão e acho que tudo alemão. — ri.

— Você pretende ficar aqui por muito tempo? — perguntei.

— Não sei, se eu me adaptar sim, mas não sei se rola. — arrumou o gloss no espelho. — Eu nunca tinha saído da Alemanha nem com meus pais, e agora vim para um país que eu nem falo o idioma e sozinha.

— Foda. — eu disse.

Confesso que senti um pouco de pena, eu lembro de quando eu era criança e todo o perrengue que foi se adaptar com a minha família, imagine a coitada sozinha.

escape | noartOnde histórias criam vida. Descubra agora