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Urrea

Arrumei os travesseiros no quarto de hóspedes, já me arrependendo da ideia.

Não a deixaria dormindo no chão.

Comprei uma cama e um sofá para Sina, mas seriam instalados apenas no dia seguinte, então a trouxe pra o meu apartamento.

Como eu dormiria em paz sabendo que ela dorme embaixo do meu teto?

Eu estou lascado.

Meus devaneios foram interrompidos quando a porta do banheiro rangeu levemente, e quando ergui os olhos, ela apareceu.

Sina saiu do vapor do banheiro como se fosse parte dele, a pele ainda úmida, o cabelo preso em uma toalha de qualquer jeito, mas de algum modo, perfeito. O pijama que ela usava era simples, nada revelador – uma camiseta folgada e um short curto, solto. Nada que deveria me afetar. Mas o jeito que aquele tecido suave se moldava às curvas dela, caindo despreocupadamente sobre os ombros e deslizando até suas coxas... por um momento, eu me vi perdido.

Ela não fazia ideia. Era essa a parte mais enlouquecedora. Sina não se preocupava em ser sedutora. Não estava tentando. Ela só existia, de uma forma que me atraía como um ímã. Cada movimento dela – o jeito casual como secava os cabelos, o modo como seus quadris balançavam levemente enquanto caminhava pelo quarto – parecia uma coreografia íntima, feita apenas para mim.

Meu olhar percorreu seu corpo, lento, como se traçasse cada detalhe com um toque invisível. O contorno dos ombros, a curva suave das costas, as pernas longas que surgiam debaixo daquele short. Eu senti um calor subir, uma tensão silenciosa que se espalhava no ar. Ela ainda não tinha dito uma palavra, e eu já estava sendo consumido pela ideia de como ela era absurdamente bonita, de um jeito que parecia quase cruel.

Ela parou na frente do espelho, concentrada em enrolar a toalha no cabelo, e eu tive que desviar os olhos antes que fosse óbvio demais. Respirei fundo, buscando algum controle, mas mesmo isso parecia difícil. Era como se cada centímetro do quarto estivesse impregnado por ela, pela sua presença.

"Você falou alguma coisa?" A voz de Sina me puxou de volta, doce e despretensiosa, enquanto ela me olhava por cima do ombro.

— Não... minha voz saiu rouca, e eu me forcei a clarear a garganta. — Nada, só... pensando.

Ela sorriu daquele jeito tranquilo, como se nada tivesse mudado. E talvez, para ela, não tivesse mesmo. Mas para mim, o ar estava mais denso, como se entre nós houvesse uma energia que eu mal conseguia conter. Cada segundo ali, na presença dela, era uma luta para manter a fachada, para não deixar transparecer o quanto ela me afetava.

Eu perguntei sem pensar muito, só para manter a conversa fluindo.

— Como foi o seu dia? As meninas do time estão conseguindo seguir o plano alimentar? — Sina, que agora estava sentada na beirada da cama, terminando de secar os cabelos, sorriu de lado enquanto dobrava a toalha no colo.

— Foi um dia típico. — ela começou, mexendo distraída em uma mecha de cabelo úmido. — Algumas patinadoras reclamaram que sentem falta de comer besteiras, mas faz parte do trabalho, sabe? Convencer elas de que equilíbrio é tudo. Principalmente quando a temporada de competições está tão próxima.

Ela falava com uma naturalidade envolvente, os olhos brilhando com aquela paixão calma que ela sempre tinha ao falar do trabalho. E eu, por mais que tentasse me concentrar no que ela dizia, estava completamente hipnotizado. A forma como seus lábios se moviam suavemente enquanto explicava, o jeito que sua língua às vezes tocava o canto da boca entre frases, ou como ela jogava o cabelo para trás, ainda meio molhado, deixando o pescoço exposto por um breve momento... Eu mal conseguia pensar em outra coisa.

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