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Deinert

A luz da janela iluminava a mesa de jantar enquanto eu ajustava os talheres pela terceira vez. Meus pais, Alex e Sebastian, estavam sentados em silêncio, esperando que eu dissesse o que precisava ser dito. Eu podia sentir a tensão no ar, mesmo que estivéssemos tentando manter tudo o mais casual possível.

— Bom, o almoço está ótimo, filha — comentou meu pai, quebrando o silêncio. Ele tinha esse hábito de elogiar minha comida sempre que percebia que eu estava nervosa.

— Obrigada, papai. — Sorri levemente, mas o nó na garganta ainda estava ali.

Minha mãe parecia mais séria, mexendo no guardanapo em seu colo. Eu sabia que ela sentia quando algo importante estava prestes a ser dito, e isso a deixava ansiosa.

— Então, tem algo que quero falar com vocês — comecei, sentindo meu coração acelerar.

Meu pai olhou para mim, seus olhos azuis cheios de expectativa e preocupação. Minha mãe colocou o guardanapo na mesa e cruzou as mãos, pronta para ouvir.

— Eu... estou namorando alguém.

A reação foi imediata. Meu pai inclinou-se na cadeira, franzindo o cenho, enquanto minha mãe deu um pequeno suspiro e me encarou fixamente.

— Namorando? — meu pai perguntou, seu tom mais cauteloso do que eu esperava. — Quem?

— Sim. Noah. Ele é irmão da advogada que defendeu meu caso, ele estava na audiência. Ele é... Ele tem sido muito importante para mim nos últimos meses.

Minha mãe pareceu congelar no lugar, seus olhos brilhando com uma mistura de emoções.

— Sina... — ela começou, a voz baixa, quase hesitante. — Você tem certeza disso? Quero dizer... Depois de tudo...

Eu sabia que esse momento viria. Eu esperava que fosse difícil, mas ver o medo no rosto dela, no rosto do meu pai, tornou tudo ainda mais pesado.

— Mamãe, eu sei que vocês estão preocupados. — Minha voz tremeu um pouco, e eu respirei fundo antes de continuar. — Mas Noah não é como ele. Ele é respeitoso, compreensivo, e me apoia de uma forma que eu nunca imaginei que pudesse existir.

Meu pai balançou a cabeça lentamente, olhando para a mesa.

— Não acho uma boa ideia. — meu pai disse.

Abaixei a cabeça passando as mãos nos meus fios, ouvi minha mãe cochichando ao para meu pai.

— Não é que não confiemos em você, filha. É que... nós ficamos assustados. O que aconteceu antes... Foi devastador. E não suportaríamos vê-la passar por algo parecido novamente. — meu pai parou de falar um tempo quando sua voz tremeu mais do que deveria, ergui meu olhar para ele e o vi prensando os lábios. — A gente te criou com tanto carinho e amor, com seus altos e baixos é claro, mas pensar que alguém, que nós mesmos confiamos e permitimos entrar na sua vida, te machucou de tantas formas...faz com que eu me sinta uma pessoa terrível, o tempo todo. — vi as lágrimas rolarem o rosto de meu pai. — Me sinto impotente.

Abracei meu pai sentindo ele chorando em meu ombro.

— Eu sei disso, papai. E eu amo vocês por isso. Mas, por favor, confiem em mim quando digo que Noah é diferente. Ele me dá espaço quando preciso, me ouve, me entende. Ele nunca me pressiona a nada.

— Mas como podemos ter certeza? — minha mãe perguntou, sua voz embargada. — Como podemos saber que ele não vai... mudar?

As lágrimas começaram a escorrer pelo meu rosto, e eu percebi que eles estavam chorando também.

escape | noartOnde histórias criam vida. Descubra agora