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Deinert

Eu olho para o sofá, e a lembrança da dor vem como uma onda. Cada noite ali foi um lembrete do que eu queria esquecer. Meu coração bate acelerado, e a raiva ferve dentro de mim.

Eu não aguento mais. Com um grito, me jogo contra o sofá. O tecido estoura sob os meus punhos, após eu fincar um canivete no mesmo, e eu sinto um alívio instantâneo. Cada soco é um grito que eu não consegui soltar. É como se, a cada rasgo, eu estivesse expelindo todas as lembranças sufocantes que me prenderam por tanto tempo.

Então, corro para o quarto. A cama... Oh, a cama. Um símbolo de tudo o que fui forçada a suportar. Puxo os lençóis com força, e os travesseiros voam. O som da madeira rangendo parece um eco da minha própria luta. Cada batida é uma afirmação de que estou recuperando o que é meu.

As lágrimas escorrem pelo meu rosto, mas não são apenas de tristeza; são de libertação. Cada rasgo, cada golpe, é uma forma de eu dizer que não vou mais permitir que isso me controle. Estou quebrando as correntes, reclamando meu espaço, e isso me faz sentir viva novamente.

Enquanto o caos se espalha ao meu redor, eu percebo que, apesar da destruição, estou reconstruindo a mim mesma. Há uma força crescente dentro de mim, uma esperança que começa a brilhar. Eu sou mais do que as marcas do passado. Eu estou aqui, e não vou desaparecer.

Eu agora tinha dinheiro o suficiente para comprar móveis novos, móveis que não me remetessem dor, agora eu conseguiria dormir sem machucar minhas costas.

Fazer o que fiz me fez lembrar de Noah. Ele não olha mais para mim da mesma forma desde o beijo e eu sei por quê. Meu passado, a sombra do meu ex, se interpõe entre nós. Ele não demonstra mais interesse, e isso me corrói por dentro. Por que ele não consegue ver além disso?

O beijo se intensificava há cada segundo que se passava, nossas bocas pediam uma pela outra, sentir a mão dele no meu pescoço de forma tão sútil e bonita me fazia delirar, ele segurava com certa cautela os lugares nunca haviam sido tocados, não assim.

Enquanto nossos lábios se encontravam, a química entre nós explodia, como se cada toque acendesse uma chama incontrolável. Noah me puxava para perto, e eu sentia a intensidade crescer a cada segundo. O mundo ao nosso redor desaparecia, e tudo o que eu queria era me perder naquele momento, naquele beijo que prometia mais.

Mas, de repente, Noah recuou. O calor que nos envolvia foi substituído por um vazio desconcertante. Eu toquei um dos botões de sua camisa e ele se afastou, sua expressão confusa e hesitante, como se tentasse entender algo dentro de si.

— Espera. — ele disse, e a palavra soou como um sino, interrompendo o momento mágico.

Frustrada, meu coração afundou. O desejo ardente que nos unia agora se transformava em uma onda de desespero. Eu queria mais — mais dele, mais de nós. A conexão que sentíamos era palpável, mas naquele instante parecia que uma barreira invisível havia se erguido entre nós. Era como se estivéssemos prestes a saltar, e ele decidiu parar.

"Por que você não pode me querer?"

A pergunta ficou presa na minha mente e garganta, sufocando-me. Eu queria entender, queria que ele se entregasse como eu estava fazendo, mas a hesitação dele me deixava impotente. Senti a frustração borbulhar, misturada com a insegurança.

Olhei nos olhos dele, buscando alguma resposta, mas o que vi foi a luta interna, um reflexo de dúvidas que eu também carregava. O desejo ainda pulsava entre nós, mas o medo o detinha, e aquela realidade me fazia sentir como se estivesse perdendo algo que poderia ser incrível.

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