𝗈 𝖿𝖺𝗇𝗍𝖺𝗌𝗆𝖺 𝖽𝖾 𝖡𝖾𝖺𝗍𝗋𝗂𝖼𝖾
Desde que havia se juntado à vida religiosa, Beatrice dedicava-se completamente a suas orações, ao trabalho comunitário e às longas horas de contemplação. O convento ficava em uma colina isolada, ao lado de uma pequena igreja. Era um lugar de paz, onde o tempo parecia suspenso. As paredes de pedra, o silêncio quebrado apenas pelo cântico das irmãs e o aroma suave do incenso, eram seu refúgio. Ali, ela sentia-se protegida do mundo, longe de tentações e distrações.
No entanto, naquele dia, algo estava diferente. Havia um rumor entre as freiras, sussurros que ecoavam pelos corredores de pedra. Beatrice sentia uma leve inquietação, mas tentou afastar qualquer preocupação. Durante o café da manhã, enquanto se sentava com as outras irmãs, a Madre Superiora finalmente deu a notícia que todas aguardavam com certa ansiedade.
── Devido aos últimos acontecimentos, um novo padre será designado à nossa paróquia. ── anunciou a madre, sua voz firme, mas calma. ── Padre Charlie. Ele chega hoje.
Beatrice ergueu o olhar, surpresa. As outras irmãs trocaram olhares, algumas parecendo curiosas, outras ligeiramente desconfortáveis. Mas para Beatrice, aquilo não passava de uma novidade inocente. Um novo servo de Deus, como tantos outros que ela já havia conhecido.
── Ouvi falar que este novo padre é jovem. ── irmã Megan diz, em um sussurro para Beatrice ouvir.
Beatrice acenou com a cabeça, sentindo uma pontada de curiosidade. Era raro que padres jovens viessem para aquela região. A igreja sempre fora atendida por padres idosos, figuras quase invisíveis no dia a dia do convento. Ele chegaria em breve, e Beatrice não pensou muito nisso. Para ela, era apenas mais uma presença masculina que passaria pelas portas do convento, como tantos outros padres antes dele. Mas, ela não poderia imaginar o que estava por vir.
Mas, algo estava diferente. Havia uma presença que ela não conseguia explicar, algo que a deixava inquieta, como se alguém estivesse constantemente observando-a. Às vezes, quando caminhava pelos corredores do convento, sentia o arrepio na nuca, como se olhos invisíveis a seguissem. Essa sensação havia se intensificado na noite anterior.
À medida que a tarde se aproximava, a sensação de estar sendo vigiada voltou. Dessa vez, parecia ainda mais forte. Enquanto regava as plantas no jardim, ela sentiu uma leve corrente de ar passar por si, como se algo invisível estivesse observando-a de longe. Ela estremeceu, mas tentou ignorar a sensação, atribuindo-a à sua própria imaginação, mas ela sentiu o mesmo aroma de canela, doce, mas misturado com algo amargo, como fumaça. Beatrice olhou por sobre o ombro, com a respiração presa na garganta, mas o jardim estava vazio. No entanto, ela sabia que havia alguém ali, alguém que a observava à distância, alguém que a assombrava, e isso a deixava inquieta. Aquele cheiro ficou no ar, impregnou suas roupas, e por mais que ela tentasse esquecer, algo naquele odor fazia sua pele arrepiar.
Quando a noite caiu, Beatrice foi à capela para rezar novamente. O silêncio ali era sempre acolhedor, mas dessa vez, ela sentia algo diferente. O ar parecia mais denso, e ela sabia, antes mesmo de olhar, que era ele, era seu fantasma.
Seus olhos se ajustaram à pouca luz, e foi então que o viu pela primeira vez. Sentado em um dos bancos, na sombra, estava ele.
Alto, de traços firmes, com um olhar escuro e profundo que parecia atravessá-la, como se pudesse enxergar sua alma. Ele estava vestido com os trajes eclesiásticos, mas havia algo em sua postura, um magnetismo inexplicável que fazia com que Beatrice se sentisse inquieta.
Era ele.
Era o Padre Charlie.
Beatrice ergueu os olhos e seus pensamentos se perderam por um instante.
Ele estava imóvel, mas seus olhos estavam sobre ela, intensos. Beatrice sentiu um arrepio percorrer sua espinha. Ela tentou desviar o olhar, mas algo a impedia. Havia algo na maneira como ele a olhava, algo que queimava. Não era um olhar de benevolência, nem de respeito. Era algo mais profundo, quase predatório, como se ele estivesse estudando cada movimento dela, cada respiro.
Beatrice apertou o rosário nas mãos e rapidamente ajoelhou-se, tentando concentrar-se em sua oração. Mas a tensão no ar era palpável. Ela sentia o calor do olhar dele sobre ela, pesado, como se estivesse penetrando sua pele. O cheiro de canela, agora mais forte, misturava-se com o incenso que queimava na capela. Sua mente estava em tumulto, o coração acelerado.
Ela forçou-se a rezar, a murmurar as palavras com fervor, mas sua mente não estava no sagrado. Estava nele, naquele homem que ela nem conhecia, mas cuja presença dominava completamente o ambiente. As orações, que sempre traziam paz, agora pareciam escapar entre seus lábios, vazias. Seus pensamentos estavam tomados por aquele olhar — frio e quente ao mesmo tempo.
Quando finalmente conseguiu levantar, sentiu as pernas trêmulas. Tentando manter a calma, Beatrice olhou brevemente para ele, e dessa vez, ele sorriu. Um sorriso leve, quase imperceptível, mas carregado de algo que ela não conseguia decifrar. Algo que a fez sentir um calafrio, como se estivesse à beira de algo perigoso, mas fascinante ao mesmo tempo.
Ela saiu da capela rapidamente, com o coração ainda disparado. Não sabia o que estava acontecendo, mas sentia que algo havia mudado naquele momento.
゜゜・ ・゜゜・.
Aí Padre Charlie, me observa de longe
também, eu pago🫦🫦
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𝒞𝐎𝐑𝐑𝐔𝐏𝐓٫ 𝒄𝒉𝒂𝒓𝒍𝒊𝒆 𝒎𝒂𝒚𝒉𝒆𝒘
Fanfiction𝒞𝐎𝐑𝐑𝐔𝐏𝐓 ㅤㅤ⎧♱ ㅤ❛ 𝘝𝗈𝖼𝖾̂ 𝗌𝗈𝗎𝖻𝖾 𝗊𝗎𝖺𝗇𝖽𝗈 𝗆𝖾 𝖾𝗌𝖼𝗈𝗅𝗁𝖾𝗎 𝘌𝗎 𝖾𝗋𝖺 𝗇𝖺𝖽𝖺 𝖺𝗅𝖾́𝗆 𝖽𝖾 𝖼𝗈𝗆𝗎𝗆 𝘌 𝖺𝗀𝗈𝗋𝖺 𝗈 𝗏𝖾𝗇𝗍𝗈 𝖾𝗌𝗍𝖺́ 𝗌𝗈𝗉𝗋𝖺𝗇𝖽𝗈 𝘓𝖾𝗆𝖻𝗋𝖺𝗇𝖽𝗈 𝗏𝗈𝖼𝖾̂ 𝖽𝗈 𝗊𝗎𝖾 𝗏𝗈𝖼𝖾̂ 𝗌𝖺𝖻𝖾 𝘝𝗈𝖼�...