❪ 𝟏𝟎 ❫ ℒ𝑰𝑻𝑻𝑳𝑬 𝒜𝑵𝑮𝑬𝑳

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𝗌𝗈𝗆𝖻𝗋𝖺𝗌 𝗌𝗈𝖻 𝖺 𝖼𝗁𝗎𝗏𝖺

Os dias seguintes foram um borrão de medo e confusão

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Os dias seguintes foram um borrão de medo e confusão. Eu evitava Charlie a todo custo, mas ele sempre parecia estar por perto, observando-me com aqueles olhos intensos. Cada vez que nossos olhares se encontravam, eu sentia um frio na espinha, uma mistura de medo e algo mais, algo que eu não queria admitir.

O dia estava envolto em escuridão. A chuva castigava as janelas do convento, cada gota um som abafado que misturava-se aos meus pensamentos. Eu estava sozinha na capela, tentando encontrar algum conforto nas orações, mas a sensação de estar sendo observada nunca me deixava. Havia algo diferente hoje, algo inquietante que me rondava desde o amanhecer. Não era a primeira vez que eu me sentia assim, e agora, mais do que nunca, sabia de onde vinha essa sensação.

O cheiro familiar de canela começou a invadir o ar, aquele aroma que sempre aparecia nas horas mais estranhas, como um presságio. Eu me levantei do banco, nervosa, e olhei em volta. O silêncio parecia mais pesado, como se até os santos nas paredes observassem meus movimentos. Foi então que o vi, na penumbra de um dos cantos do convento.

Charlie estava lá, encostado na parede, parcialmente escondido pelas sombras. Pela primeira vez, o vi segurando um cigarro entre os dedos. O cigarro de canela. Meu coração disparou ao vê-lo tragar lentamente, os olhos fixos em mim com uma intensidade perturbadora.

Eu tentei ignorá-lo, dar meia-volta e sair da capela antes que ele pudesse falar qualquer coisa. Mas, antes que eu pudesse dar o primeiro passo, sua voz ressoou, rouca e carregada de provocação.

── Fugindo de novo, Beatrice?

Engoli em seco e me virei para encará-lo. Ele deu um passo à frente, a fumaça flutuando entre nós como um véu, e o sorriso em seu rosto era tão tentador quanto perigoso. Havia algo quase predatório em sua postura.

── Não estou fugindo de nada. ── respondi com firmeza, embora minha voz traísse o nervosismo que eu tentava esconder. ── O que está fazendo aqui? Você não devia fumar aqui.

── Não se preocupe com isso. ── ele deu uma tragada longa, soltando a fumaça com lentidão. ── Há coisas piores que posso fazer aqui, e você sabe disso.

Havia uma brincadeira perigosa em suas palavras, uma que eu não estava disposta a aceitar.

── Você é um padre. ── disse, tentando manter o tom sério. ── Devia se comportar como tal.

Ele riu, um som baixo e cheio de escárnio, e jogou o cigarro no chão, esmagando-o com o pé. Seu olhar nunca deixou o meu, penetrante, como se quisesse desenterrar cada pensamento impuro que eu escondia dentro de mim.

── E você é uma freira. ── ele se aproximou um pouco mais, sua presença me dominando. ── Mas acho que ambos sabemos que esses títulos não significam nada quando estamos sozinhos.

𝒞𝐎𝐑𝐑𝐔𝐏𝐓٫ 𝒄𝒉𝒂𝒓𝒍𝒊𝒆 𝒎𝒂𝒚𝒉𝒆𝒘Onde histórias criam vida. Descubra agora