28. Backwards

856 101 74
                                    

Kylie's POV

Caminhava a passos pesados pela área verde do acampamento, com o coração martelando no peito e as mãos trêmulas de raiva. Cada passo parecia alimentar o turbilhão dentro de mim. Eu sabia exatamente para onde estava indo, sabia que Malia estaria lá, do outro lado, provavelmente fingindo que tudo estava sob controle. E eu estava certa.

Ela estava saindo de um dos prédios, distraída, mas assim que me viu, seu rosto se iluminou com um sorriso. Aquele sorriso que, se fosse ontem, eu teria caído durinha no chão. Mas agora, só serviu para me deixar ainda mais furiosa.

— Malia. — Chamei, a voz grave e carregada de mágoa.

Ela parou, o sorriso vacilando um pouco, mas logo se recompondo. Olhou ao redor rapidamente, como quem se certifica de que não há testemunhas, e se aproximou, me dando um selinho rápido. Eu quase não consegui aproveitar, o gosto amargo da raiva se espalhando na minha boca.

— Oi, meu amor! — Ela sussurrou, tentando manter o tom leve. — O que aconteceu?

Respirei fundo, mas nada parecia aliviar a pressão que sentia no peito. As palavras saíram antes que eu conseguisse controlar.

— Você acha que eu ainda sou o seu brinquedinho? — Disparei, a voz saindo mais áspera do que eu queria, e vi seu sorriso murchar na mesma hora.

Ela franziu a testa, confusa, e soltou meus braços.

— Brinquedinho? Que história é essa? Você nunca foi meu...

— É! Porque agora você acha legal ficar me escondendo, né? — Eu a interrompi, dando um passo à frente. — Legal pra caramba, Malia. Fazendo joguinhos quando tem gente por perto e me tratando como se eu fosse um segredo sujo.

Ela balançou a cabeça, soltando uma risada incrédula, o som cortando o ar entre nós como uma faca.

— Você tá falando sério? — Se aproximou, a voz também ganhando um tom mais frio. — A minha mãe pode me levar daqui a qualquer momento se descobrir sobre a gente, e você age como se isso não fosse nada!

Dei uma risada amarga, sentindo a frustração ferver dentro de mim.

— Porque você sempre foi a perfeitinha, né? — Eu rosnei, me aproximando ainda mais, nossos rostos a poucos centímetros um do outro. — A garota exemplar que nunca comete um erro. E não pode deixar que alguém como eu estrague a sua reputação de princesinha.

Malia descruzou os braços e avançou na minha direção, sem recuar um milímetro, os olhos dela queimando nos meus.

— Puta merda, você é narcisista pra caralho, Kylie! — Ela cuspiu as palavras, a voz carregada de frustração e dor. — Será que você pode parar de pensar só em você por um segundo e perceber que eu tô tentando proteger o que a gente tem?

Eu ri, mas não havia alegria ali, só uma mistura de raiva e desespero.

— Proteger? Isso aqui não parece proteção, Malia. Parece mais como vergonha. — As palavras saíram mais baixas, como um sussurro cheio de veneno. — Eu não sou o seu segredinho, eu não sou alguém que você só finge que existe quando ninguém tá olhando.

Ela fechou os olhos por um segundo, respirando fundo, antes de me encarar novamente.

— E você acha que é fácil pra mim? Acha que eu quero que seja assim? — A voz dela agora estava embargada, como se lutasse para manter a firmeza. — Eu tô tentando, Kylie. Eu tô tentando pra caralho, mas você não facilita. Parece que você quer ver tudo desmoronar só pra provar que tá certa.

Por um segundo, o peso do que ela disse me atingiu como um soco no estômago. Meus olhos arderam levemente, mas eu pisquei com força para afastar as lágrimas que teimavam em querer descer. Mas algo dentro de mim quebrou de novo, do mesmo jeito que sempre quebrava, desde a época em que éramos crianças e Malia fazia questão de me lembrar do meu lugar. Como se fosse uma ferida antiga que ela insistia em cutucar, trazendo de volta aquelas memórias que eu preferia esquecer.

— Você sabe que isso... isso é igual ao que você fazia antes, né? — A voz saiu mais baixa, quase um sussurro, mas cheia de amargura. — Fingir que eu não existo quando tem outras pessoas por perto. Me fazer sentir que não sou nada pra você.

Malia piscou, parecendo pega de surpresa, e deu um passo para trás, a expressão suavizando por um momento.

— Isso não é... — Ela começou a dizer, mas a raiva em mim já tinha transbordado de novo.

— Então talvez eu devesse parar de tentar, Malia. Porque, pelo jeito, nunca vai ser suficiente pra você.

Ela me olhou, os olhos brilhando de algo que eu não consegui decifrar, e deu um passo para trás. A distância entre nós parecia aumentar de um jeito irreversível.

Meus olhos teimavam em arder novamente, mas eu os manti presos nos dela quando balançou a cabeça e saiu de lá, o rosto tomado por uma raiva que espelhava a minha. Assim que ela virou as costas, eu senti a primeira lágrima escorrer.

Eu a vi desaparecer entre as sombras das árvores e um vazio tomou conta do meu peito. Tudo que eu tinha conseguido foi empurrá-la para longe, talvez para sempre. Era como se todo o esforço entre nós fosse em vão, como se só estivéssemos andando para trás, voltando ao ponto em que nunca nos entenderíamos.

Engoli em seco, sentindo o gosto amargo da dor e da frustração. Caminhei de volta para o meu quarto, as lágrimas finalmente caindo sem controle, sabendo que, mais uma vez, eu estava sozinha.

Você leu todos os capítulos publicados.

⏰ Última atualização: Oct 19 ⏰

Adicione esta história à sua Biblioteca e seja notificado quando novos capítulos chegarem!

Lie [KYLIA]Onde histórias criam vida. Descubra agora