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Enquanto o carro segue pela estrada que parece não ter fim, os lábios de Jessie estão vibrando em silêncio a música 'no one' de Alicia Keys, uma das duas cantoras favoritas; é como o seu hino de sobrevivência. Fernando mantém as mãos no volante e bate os dedos lentamente no objeto redondo, apesar de seus pensamentos fugirem para os planos de Glenda.

— Sr. Cavalcante, poderia ligar o seu rádio pra ouvirmos uma música?

— Só se você parar de me chamar de senhor — Fernando dá de ombros.

— Você pode ligar a música? — Jessie revira os olhos.

— Esqueceu a palavra mágica — Fernando morde o lábio inferior.

Abusado do caralho!

Jessie empina o nariz, se recusando a pedir por favor. Ele está muito engraçadinho desde que entraram no carro e ela estava quase voando no pescoço dele por ele ser tão irritante.

— O que você quer ouvir?

— Só liga pra saber o que tá tocando — Jessie dá de ombros e Fernando liga o rádio, aumentando um pouco o volume. Por coincidência do destino, 'no one' está tocando no refrão “no one, no one, no one”. Jessie quase berra de emoção, porém, balança apenas a cabeça, assistindo à paisagem noturna correndo fora da janela lateral da carona.

— Satisfeita, meu bem? — Fernando dá um sorriso torto.

— Totalmente — Jessie diz, irônica. — O restaurante é no fim do mundo?

— Não me diga que você tem um compromisso ainda hoje, Jessie? — Fernando faz um draminha ridículo.

— Meu compromisso é aqui — Jessie dá um sorriso sem exibir os dentes. — Babaca! — sussurra para o vento.

— Era exatamente essa resposta que eu tava esperando — ele sorri satisfeito.

— Ótimo. — Jessie murmura, o “ótimo” sai de sua boca como um carro desgovernado em uma pista.

O que ela realmente pensa permanece trancado em seu interior. Jessie admira profundamente Stephanie; pois, naquele momento, sabe que a melhor amiga não hesitaria em mandar o CEO ir à merda sem medo das consequências. É essa audácia que a inspira e a deixa inquieta ao mesmo tempo.

— Chegamos — Fernando anuncia, estacionando o carro em frente a uma imponente mansão branca com detalhes dourados que brilham a luz do luar. A construção se ergue majestosa, como se fosse um verdadeiro Olimpo dos deuses, com colunas esculpidas, uma grande porta e janelas amplas.

— Isso não parece um restaurante, parece mais um museu — Jessie observa o lugar com um olhar cético.

De repente, Glenda aparece batendo com entusiasmo na janela do carro ao lado de Jessie, fazendo a secretária saltar de susto no banco carona.

— Finalmente chegaram!

— Não tá vendo que a Jessie tá quase morrendo do coração, velha maluca? — Fernando olha para Glenda com um meio sorriso. — Estamos longe do hospital, vai levá-la, se ela infartar?

Jessie repara no olhar de Fernando e aquele maldito sorriso debochado com dentes brancos expostos e lábios carnudos. Ela revira os olhos. Fernando desce do carro e abre a porta para ela.

— Deuses do céu! — Glenda segura a mão de Jessie. — Você é maravilhosa.

— Obrigada — Jessie diz, sentindo as bochechas queimarem com o elogio.

— Abençoada pelos deuses, seus pais deviam estar com um tesão absurdo quando te fizeram — Glenda afirma, fazendo-a dar uma volta em sua frente.

Fernando observa a interação entre as duas, lutando contra a vontade de concordar com tudo que Glenda diz. Ele gostaria de expressar suas opiniões sobre Jessie, mas a falta de intimidade entre eles o mantém em silêncio.

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