Whispers of Reality │RORASA.

18.

Asa estava sentada no sofá da sala de estar, seus dedos tamborilando nervosamente na perna enquanto esperava o pai aparecer. O silêncio da casa parecia ecoar em seus ouvidos, amplificando cada pensamento, cada preocupação que fervilhava em sua mente. Ela já tinha imaginado mil cenários de como aquela conversa poderia acontecer. Talvez ele levantasse a voz, talvez exigisse explicações, ou até desse um ultimato. Mas, agora, esperando ali sozinha, Asa se sentia prestes a enfrentar algo ainda mais difícil do que qualquer batalha como Nyx.

Ela amava o pai, claro, mas havia uma distância entre os dois que sempre pesou. Ele nunca a entendia de verdade, nunca conseguia enxergar quem ela era além das expectativas que ele tinha. Para ele, ser heroína era uma responsabilidade e uma missão, sem espaço para erros. Ela sempre sentiu que não havia espaço para ser apenas "Asa" perto dele.

Quando ouviu os passos dele se aproximando, seu coração acelerou. Cada batida parecia mais alta. Ele entrou na sala com uma expressão calma, o que a surpreendeu um pouco. Ele sempre carregava uma postura rígida, mas hoje parecia um pouco mais... abatido. Sem dizer uma palavra, ele caminhou até a poltrona em frente ao sofá e se sentou. Os olhos dele a encaravam, mas de uma maneira diferente do que ela estava acostumada.

Por um momento, nenhum dos dois falou nada. O silêncio era pesado, e Asa quase podia sentir o ar entre eles vibrando com a tensão.

— Asa... — começou ele, sua voz mais suave do que ela esperava. Ele parecia escolher as palavras com cuidado, o que a deixou ainda mais ansiosa. — Eu acho que devemos conversar sobre o que aconteceu hoje.

Asa engoliu em seco, se preparando para o sermão que sabia que estava por vir. Mas, para sua surpresa, ele suspirou, abaixando os ombros.

— Eu... — Ele hesitou, e aquilo era algo que Asa nunca tinha visto. Seu pai hesitando. — Eu te devo desculpas.

O choque percorreu o corpo de Asa como um raio. Aquilo era completamente diferente de qualquer coisa que ela tinha imaginado.

— Desculpas? — Ela repetiu, incrédula.

Ele assentiu, passando a mão pelos cabelos grisalhos, um gesto que demonstrava seu próprio desconforto.

— Sim, desculpas. Por muitas coisas, na verdade. Eu sei que, por muito tempo, eu te pressionei. Sempre tive expectativas altas, e... eu nunca te dei espaço para ser quem você realmente é. — Ele respirou fundo antes de continuar. — E hoje, quando vi você com Rora, algo clicou para mim. Eu vi que, talvez, eu tenha errado em muitas coisas, inclusive em te privar de viver a sua vida do jeito que você quer.

Asa ficou em silêncio, completamente surpresa. Aquilo não era o que ela esperava. De todas as reações possíveis, o pai dela pedindo desculpas nunca tinha passado pela sua cabeça.

— Eu nunca quis te desapontar — disse ela, sentindo a necessidade de esclarecer algo que sempre a atormentava. — Mas eu sempre senti que você queria que eu fosse perfeita, que eu seguisse exatamente os seus passos.

— Eu sei — ele respondeu, com um olhar triste. — Eu falhei como pai em muitos momentos. Sempre foquei tanto na responsabilidade de ser um herói, em manter a imagem perfeita, que me esqueci do mais importante: você. Minha filha.

Asa sentiu um nó se formar na garganta. Aquele era o pai dela falando de uma forma que ela nunca tinha ouvido antes.

— E quanto a... — Ela hesitou, sem saber bem como perguntar sobre Rora.

— Eu sei sobre você e Rora — ele disse, cortando o silêncio com uma tranquilidade inesperada. — E, honestamente, isso não me incomoda. Eu vejo que você se importa com ela, e se isso te faz feliz, então não é um problema para mim. O único pedido que eu tenho é que você mantenha isso longe da mídia. Você sabe como o mundo pode ser cruel, e eu não quero que a sua vida pessoal vire um circo.