Capítulo 28

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Pov: Maraisa

O ambiente à minha volta está coberto por folhagens verdes, o céu azulado ao fundo, pessoas correndo e algumas crianças brincando, e eu, eu estou só andando e as observando. Havia várias crianças ali, mas a que mais me chamou atenção foi ela.

Uma menina, posso dar o carinhoso apelido de "bebê" pelo seu tamanho, estava um pouco distante à minha frente. Mas ela não olhava para mim; olhava para um casal. Possuía poucos cabelos na cor castanho, mas eram tão claros que podiam ser considerados loiros. Seus olhos eram levemente puxados na ponta e havia uma tonalidade de castanho escuro como chocolate, um contraste totalmente oposto ao seu cabelo. Sua pele era branquinha e, considerando que é um bebê, deve ser bem macia. Havia alguns pontos mais cheios no seu corpo, como nas suas pernas e braços, conhecidos como as famosas dobrinhas. Eu amo isso nela. Seu rosto era lindo e angelical; diferente do resto do corpo, suas bochechas eram levemente rosadas, o que a tornava ainda mais fofa, e nos lábios estava um enorme sorriso. Linda.

Ao mesmo tempo que dei pequenos passos em sua direção, ela andou na direção dos pais, mas de uma forma lenta e desenhada, como se fossem páginas de livros sendo passadas. Era estranho porque os encarava, mas não conseguia identificá-los; era como se as silhuetas deles estivessem censuradas na minha mente. Mas ainda assim consegui visualizar algo na mão do pai: era rosa e mais parecia com uma nuvem de algodão-doce. Vi no momento em que seus pequenos olhos se fixaram no doce um brilho tão intenso e imensurável. E seu sorriso, ah, esse cresceu ainda mais. Algo naquela menina mexeu em mim; era perfeita.

Cinco letras,
Um mundo.

Seu nome era simples e delicado, mas tão importante para mim. Só de ouvi-lo encontrei o significado da vida. Toda a minha vida.

Ela olhou para a moça que a chamou e foi na sua direção de braços abertos. Agora foi como se as páginas em branco que havia em sua figura tivessem sido viradas rapidamente, fazendo com que ela se movimentasse mais ligeiramente, correndo em sua direção. E com seu brilhoso sorriso.

Mamaezinha.

Ela gritou. Foi tudo muito rápido; no momento em que estava prestes a reconhecer a mulher, ouvi essa palavra: tudo escureceu. O livro se fechou. Não tinha nada na capa a não ser a silhueta de duas pessoas e a criança no meio.

Mas ainda assim fiquei mobilizada com ela. Senti um arrepio bem forte, não de uma forma ruim; não, pelo contrário. Foi como se com aquele chamado tivesse todo o poder de curar; a voz e aquele sorriso já eram a cura. Era estranho, mas ao mesmo tempo me trazia uma paz e ela me trazia a vida. Não era à toa seu nome.

São Paulo, Brasil.

Estaciono e abaixo a janela do carro, observando o prédio do lado de fora. Sorri.

Largo o volante, sim, agora eu tenho confiança para estar e assumir um carro sozinha. Mas isso é um efeito dele. Depois de me livrar do cinto, desço e caminho para o edifício.

A verdade é que já havia se passado mais de dois meses desde aquele meu reencontro com Daniel, e muitas coisas aconteceram. Agora já estamos definitivamente instalados aqui no Brasil, já conseguimos pegar o ritmo do trabalho, mas boa parte do meu tempo eu me dedicava aos preparativos do casamento. Não queria esperar muito tempo; já perdi muito da minha vida. Para minha sorte, podia contar com a ajuda da minha avó e da Maih; isso é, quando ela não faz só reclamar. E também com a minha sogra, que, por sinal, depois de um tempo conseguiu assimilar e reagir a tudo que aconteceu. No momento em que sua ficha caiu sobre o monstro que era o homem a quem ela chamava de marido, a mesma tratou de entrar com os papéis do divórcio e, dentro da prisão, ele não teve outra alternativa senão assinar.

Como eu era antes de VocêOnde histórias criam vida. Descubra agora