Capítulo 18

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Pov: Narradora

Quanto mais se aproximava o aniversário dela, mais sensível e emotiva ela ficava. No trabalho, algumas pessoas notaram algumas diferenças nela, mas estavam certas de que era pela idade, algumas pessoas têm isso de não querer aceitar que estão ficando "velhas". Mas esse não era o caso dela. Em casa também não foi diferente a notação, mas a diferença é que somente seu fiel escudeiro sabia o motivo real daquela mudança: as lembranças que acompanham a data.

Maiara também mantia essa mudança de comportamento Mas acontece que ela não se importava em demonstrar o que sentia, já Maraisa sim. Ela se mantinha forte o tempo inteiro, não dava brechas para fraquezas. E o jeito que ela escolhia para não sentir era se afundando no trabalho.

Anos atrás ela usava o método de remédio: tomava vários comprimidos na noite anterior e dormia por todo o dia, assim não precisava ficar passando por todas aquelas lembranças. Mas depois de muitas súplicas dos familiares, especialmente Maiara, que alegava que não suportaria perder sua metade ─ e mais uma pessoa ─ ela parou de se automedicar.

Só haviam duas datas no ano que causavam toda essa reação nela. Seu aniversário e a outra para seu bem as pessoas não tinham conhecimento.

Mais um dia chegou do trabalho cedo, por conta da dor de cabeça imensa dada ao fato de ter ficado trancada um bom tempo na sua sala chorando enquanto encarava uma fotografia.

Era nesses dias tristes que mais necessitava da presença de Fernando ao seu lado, e como se existisse um portal mágico que encaminhava seus pensamentos e desejos para ele, ele aparecia ali com um vinho, chocolate e flores que no final vinham acompanhados de uma boa história que lhe tirava boas gargalhadas ─ e pesares no peito ─ e uma dança toda desengonçada. Era assim que ele transformava suas noites sombrias em noites especiais e coloridas.

E em outras noites ele só fazia ficar sentado sobre sua cama a abraçar enquanto cantava músicas suaves que acalmavam seu coração enquanto ela chorava copiosamente, e quando já estava mais calma ele ia lá delicadamente e secava suas lágrimas. E no final só ia embora depois de se certificar de que ela estava dormindo tranquilamente. Era com essas pequenas ações que ele cicatrizava cada ferida que havia em seu coração.

Bom, nesse dia não tinha a presença dele ali, mas tinha as flores e chocolate, o vinho ele fazia questão de trazer pessoalmente para não correr o risco dela beber sozinha ou com "outra pessoa", bobo.

..   

Se fosse exatamente um ano atrás ela estaria trancada e possivelmente destruindo alguma peça da decoração ali no escritório de casa, mas agora ela estava somente sentada olhando o jardim lá fora. Até que foi interrompida por uma batida na porta.

━ Pode entrar!

Ela gritou, mas a porta não fez nenhum barulho, somente um sussurro do lado de fora. Impaciente com a demora, ela resolveu sair para ver.

Ao abrir a porta, deu de cara com Joana ali com uma expressão meio de medo.

━ Ah, é você Joana, por que você não entrou? ─ cruzou meus braços e segurou a risada, pois sabia o motivo, as baboseiras que o povo fuxica.

━ É... assim, não me leve a mal senhora, mas eu tenho um pouco de medo de entrar aí ─ a moça fala apontando para a sala.

━ Ahh ─ ela faz uma breve expressão de surpresa, mas logo cruza os braços e semicerra os olhos ─ e você mais uma vez dando ouvidos para esse povo fofoqueiro, né Joana? Todo dia inventam algo diferente sobre mim, o que falta agora? Dizer que eu faço pacto com o capeta... espera, você não acreditaria nisso, não é?

━ Não, claro que não! É porque eu sei que a senhora gosta de tudo organizado e limpo, aí vem eu toda estabanada e deixo cair alguma coisa... prefiro prevenir, então não foi entrar ─ a moça diz balançando a cabeça em sinal de concordância.

━ Ah, tá bom. Então, o que você precisa? Aliás, cadê o Silvestre? ─ muda de assunto fingindo que acreditou naquela desculpa boba.

━ Ah, aquele lá disse que ia visitar o lugar de onde ele veio.

━ Oi, como assim? ─ perguntou confusa.

━ Ele foi a um museu e para mim deve ter sido de lá que ele saiu ─ a mulher explica arrancando uma risada alta da patroa ─ bom, eu só vim para avisar que a senhora tem visita.

━ Ah, e quem é? ─ pergunta depois de controlar a risada.

━ Não sei. Só sei que é um senhor muito bem vestido e está com uma maleta; parece ser um advogado. Ele disse que a senhora o conhece ─ dá de ombros.

━ Tá, eu vou ver esse tal advogado.

Se afasta da empregada e caminha até a sala.

Não se lembrava de ter marcado nenhuma reunião em casa. Pela descrição da moça, até teve uma ideia de quem se tratava, mas descartou, fazia anos já.

Quando chegou na sala, teve uma surpresa. Sua imaginação estava certa.

━ Dr. Hernandez!? ─ assim como Silvestre era seu fiel escudeiro, Dr. Hernandez também mantinha esse posto na sua família; ele era o advogado que representava sua família há anos e um dos amigos mais antigos e fiéis do seu avô, que com o tempo também se tornou dos seus pais até sua partida ─ Meu Deus, quanto tempo!

Ela fez questão de abraçá-lo bem saudosa. Depois de se soltar, ele a cumprimentou, agora formalmente dando-lhe um aperto de mão.

━ Realmente foram muitos anos que se passaram. Gostaria muito de dizer que estou aqui para uma visita nostálgica, mas infelizmente não.

━ Aconteceu algo? ─ perguntou já aflita. Tinha um mau pressentimento sobre aquela visita.

━ Bom, como te conheço perfeitamente e sei sobre o seu desgosto com enrolação, vou ser direto. O que me trouxe até aqui foi a promessa que lhe fiz anos atrás.

A fisionomia no rosto dela mudou rapidamente, dando lugar à espanto.

━ Por favor me acompanhe até meu escritório. Por aqui ─ ela o guiou rapidamente e quando entraram no cômodo fez questão de trancar a porta e informar a Joana que não a chamasse sob hipótese alguma.

Depois da morte dos seus pais, Maraisa já amadurecida levantou suspeitas sobre o possível acidente que aconteceu com eles; poderia ser loucura, mas algo muito forte dentro de si lhe dizia que poderia não ter sido totalmente um acidente. Ela convocou o Dr. Hernandez para investigar aquilo; de imediato ele não queria aceitar, de certa forma não era o trabalho dele, mas logo depois acatou a ordem. Ele investigou por anos, encontrou algumas coisas mas nada que servisse como prova para comprovar que havia sido armado por alguém. Passaram-se mais anos e ela já havia esquecido daquele pensamento; talvez fosse só loucura, mas ele prometeu que não descansaria até ter uma prova definitiva, sendo acidente ou não. Ele acreditava nela e também não seria tão estranho se alguém quisesse eliminar seus pais.

Foi um atentado?!

Como eu era antes de VocêOnde histórias criam vida. Descubra agora