Selma olhou para o relógio pela quarta vez em menos de dez minutos e resmungou baixinho, frustrada. O ponteiro das horas parecia zombar dela, avançando lentamente, enquanto o ponteiro dos minutos já denunciava mais de quinze de atraso. Ele estava atrasado, como sempre. Sentada no banco do motorista, com o carro estacionado em frente ao escritório do marido, Selma tamborilava os dedos no volante, a impaciência crescendo a cada segundo.
Seu olhar desviou para o prédio ao lado, um edifício discreto, de linhas modernas, porém sem charme. Uma única luz de poste iluminava fracamente a entrada. “Por que ele faz isso toda vez?” pensava. “Ele só pode fazer isso de sacanagem para me irritar.” Selma mordeu o lábio inferior, sentindo uma irritação familiar começar a borbulhar em seu peito. "Chega! Dessa vez ele vai ver só."
Decidida, abriu o porta-luvas e pegou a chave reserva do escritório. Trancou o carro com um clique resoluto e subiu as escadas que levavam à porta principal do prédio. As luzes estavam todas apagadas, criando um silêncio opressor que ecoava pelos corredores. O ambiente era estéril, com móveis de madeira escura e linhas minimalistas. As cadeiras de couro pretas que ocupavam a pequena recepção pareciam imóveis como sentinelas à espera de alguma vida.
No entanto, uma fresta de luz no final do corredor quebrava a monotonia da escuridão. Era a luz de sua sala, a única acesa, insinuando uma presença ali. “Ele deve estar lá”, pensou Selma, os passos ecoando firmes no piso de cerâmica enquanto se aproximava. Caminhava sem pressa, já pensando nas palavras afiadas que lhe dirigiria, exigindo uma explicação. Estava cansada de desculpas vazias e atrasos que sempre vinham acompanhados da mesma justificativa: "Trabalho".
Mas, conforme se aproximava da porta, algo a fez parar. Seus ouvidos captaram um som estranho, abafado, um ritmo que não combinava com o ambiente silencioso do escritório. Parou por um instante e franziu o cenho. Havia um som cadenciado, quase como uma batida, seguido de um leve gemido, rouco e abafado. O coração de Selma acelerou. Aquele barulho...
Andou mais devagar agora, com passos calculados, os músculos do corpo enrijecidos pela tensão que começava a se formar. Esgueirou-se pela parede, o corpo colado ao frio da superfície enquanto se aproximava ainda mais da porta entreaberta. O som ficava mais nítido. Eram grunhidos, como de alguém se esforçando ou... “não”, pensou ela, sentindo um calafrio subir pela espinha.
Aproximou-se mais, devagar, o olhar já fixo na pequena fresta da porta. O cenário que se revelou por trás da madeira foi pior do que qualquer suspeita que ela já tivera. No pequeno espaço iluminado, seu marido estava de pé, pressionando o corpo de uma mulher contra a mesa de trabalho, os dois envoltos em um abraço febril. Os beijos entre eles eram urgentes, as mãos de ambos explorando corpos com uma fome que Selma já não via há tempos em seu casamento.
Por um momento, seu corpo congelou. O choque a dominou, prendendo o ar em seus pulmões. Ela não podia acreditar no que via.
Selma permaneceu imóvel, observando a cena diante de seus olhos, como se o tempo ao seu redor tivesse parado. Por alguns instantes, ela não conseguia sequer processar o que via. Seu cérebro tentava negar a realidade, mas seus olhos, fixos, recusavam-se a se desviar da imagem de César, seu marido, envolvido com outra mulher.
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Histórias Que Nossos Pais Não Contam (+18)
Historia CortaUma coletânea de contos eróticos dos mais variados temas para os mais variados gostos e prazeres que irão dominar sua imaginação e sentidos.