Tratamento Especial

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O caso de Lígia não era complicado

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O caso de Lígia não era complicado. Uma mulher na casa dos quarenta anos, com uma filha de nove e um casamento de dezesseis, decidindo se separar depois de tanto tempo após descobrir uma tradição. A mesma ladainha que ele ouvia incessantemente.

Tudo era tão repetitivo que se tornava monótono. Uma rotina indefessa. A audiência no fórum. O sentimento embargado entre as partes que tomava a sala. O showzinho da amante, que acompanhou o marido até ser expulsa da sala, apenas para afirmar seu território. Até mesmo o sangue fervilhando nos olhos de Lígia ao ver aquela cena. Tudo aquilo era estranhamente comum na vida de Edgar.

A sessão foi longa e cansativa. Mas no fim, eles assinaram os papeis e estava feito. Lígia era uma mulher divorciada, finalmente. Edgar pode sentir no suspiro quando ela largou a caneta na mesa o peso que havia saído de suas costas. Mas foi quando ele parou o carro em frente ao apartamento dela que a ficha pareceu cair de fato.

– Chegamos.

As palavras pareceram destravar Lígia, que permaneceu em silêncio durante toda a viagem até aquele instante. Ela desabou em lágrimas, cobrindo o rosto com as mãos como se quisesse desaparecer. Foi um choro feio, desordenado, um tanto catártico. Edgar abriu o porta-luvas e entregou a ela um pacote de lenços.

– Obrigada. – Balbuciou Lígia, quase engasgando-se no próprio choro.

– Não precisa agradecer – respondeu ele, com um meio sorriso que misturava cinismo e compaixão. – Você ficaria surpresa com a quantidade de clientes minhas que já choraram nesse carro.

Ela ergueu os olhos e, mesmo com as lágrimas escorrendo, esboçou um sorriso curto, um reflexo, achando graça do comentário. Usou os lenços para limpar as lágrimas do rosto e a maquiagem borrada, enquanto Edgar pôs a mão nos seus ombros, oferecendo a ela um pouco mais de conforto.

– Por que você não sobe? Toma uma água, descansa. Vai te fazer bem.

Lígia assentiu, ainda com a voz embargada.

– Eu vou fazer isso. Obrigada, de novo.

Ela destravou a porta, mas sua mão hesitou na maçaneta. Pensou por alguns segundos antes de se voltar para Edgar.

– Quer subir e tomar um copo d'água também? – disse ela, quase num sussurro.

Edgar a olhou, demorando um pouco mais do que o necessário para responder.

– Claro. Deixa eu estacionar melhor o carro.

A sala estava em uma penumbra, iluminada apenas pelos postes na rua. Quando Lígia acendeu a luz, notou os brinquedos ainda espalhados pela sala, e se lembrou de que não teve tempo de guardá-los antes de sair.

– Cadê a Sofia?

– Deixei ela na casa da minha irmã. Não sabia que horas ia voltar.

Edgar quis sorrir, mas manteve a postura.

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⏰ Última atualização: Nov 21, 2024 ⏰

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