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²By Shaena

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Estou sentada em frente à lareira, sentindo o calor me envolver, enquanto folheio mais uma vez um dos livros de Daenys, a Sonhadora. Desde que passei a ter sonhos, as palavras dela sempre me trazem um consolo estranho.

— Shae?

Escuto Aenys me chamar, e me viro e me viro devagar, encontrando-o parado na porta com uma feição diferente. Mais quieto. Observo enquanto ele se aproxima. As roupas de voo ainda estão com o cheiro de Mercúrio. O cabelo preso às pressas. E os olhos — aqueles malditos olhos — estão vermelhos nas bordas.

— Achei que estivesse fugindo de mim — digo, tentando soar leve.

Ele se vira devagar, os olhos baixos por um instante antes de me encarar.

— Eu estive — ele admite. — Mas me arrependi assim que subi em Mercúrio.

Suspiro.

— Posso? — pergunta, com a voz baixa.

Faço que sim. Ele se aproxima e se senta à minha frente.

— Eu fui cruel com você — disse por fim, e a dor em sua voz me fez apertar os dedos contra a palma da mão. — E você não merecia.

— Você foi pensar — digo, sem conseguir olhar muito tempo pra ele. — Não vou te culpar por isso. Eu também teria ido.

Ele sorri, mas não é um sorriso de verdade. É um sorriso triste, como se o próprio rosto duvidasse do gesto.

— Eu só quero ser suficiente para você.

Me aproximo. Toco o rosto dele com cuidado, o polegar traçando a curva da sua bochecha.

— Você é mais do que suficiente.

Ele fecha os olhos sob meu toque. E algo dentro de mim afrouxa.

Porque ver Aenys assim — vulnerável, despido de máscaras e sorrisos treinados — me desmonta. É como ver meu próprio reflexo rachado. Porque quando ele está mal, eu também estou. Sempre foi assim.

Há uma ligação entre nós que não sei explicar. Como um fio invisível que se parte dentro de mim quando o outro sangra. Se Aenys sofre, eu sufoco. Se ele se fecha, eu desmorono por dentro.

E se o coração dele quebra, o meu parece estilhaçar junto.

— Shae, sobre Maegor...

Fecho os olhos, o corpo ainda colado ao dele, mas tudo dentro de mim se contrai.

— Eu sei — respondo, quase num sussurro.

— Seja sincera comigo.

Me afasto só o suficiente para encará-lo. Os olhos dele não me acusam — só pedem a verdade. E isso torna tudo ainda mais difícil.

— Achei que seria fácil — digo, depois de um momento. — Achei que o tempo teria apagado... ou ao menos suavizado. Mas não sei, Aenys. Não sei o que sinto.

O vento passa por nós como um aviso sutil. Aenys abaixa um pouco a cabeça, pensativo, mas não parece surpreso.

— Então conversem.

— Eu não quero conversar com Maegor sobre isso.

— Por quê?

— Porque não existe mais um "nós" — ergo o queixo. — E não deve existir.

𝐀 𝐅𝐢𝐥𝐡𝐚 𝐝𝐨 𝐂𝐨𝐧𝐪𝐮𝐢𝐬𝐭𝐚𝐝𝐨𝐫💫𝐇𝐞𝐫𝐝𝐞𝐢𝐫𝐚 𝐝𝐨 𝐃𝐫𝐚𝐠𝐚̃𝐨Onde histórias criam vida. Descubra agora