One piece - Mares sorridentes

29

Continuação...

Usopp andava lentamente em direção à propriedade de Kaya, com o olhar perdido e a cabeça cheia de pensamentos. A conversa com Luffy sobre seu pai ainda estava fresca em sua mente, como uma nuvem que ele não conseguia afastar. A sombra do sol poente alongava-se pelo caminho enquanto ele chegava ao velho muro que cercava a mansão.
Como de costume, abaixou-se e engatinhou pelo buraco discreto, um espaço escondido onde a vegetação se entrelaçava com as pedras desgastadas. Ele passava por ali quase todos os dias, usando aquela entrada como se fosse um portal para um mundo onde podia ser, por um instante, apenas o Usopp sonhador, o amigo e o contador de histórias.
Enquanto se esgueirava para dentro da propriedade, seu coração apertava. 'Será que sou mesmo o Capitão corajoso e destemido que sempre finjo ser?' pensou ele. 'Eu, que não tive a coragem de sair desta vila... e nem de dizer a verdade para ela.'
Assim que se levantou do outro lado do muro, ele pôde ver a mansão de Kaya ao longe, iluminada pela luz suave do crepúsculo. Ele caminhava em direção à moradia, mas seus passos eram mais lentos do que o normal, como se o peso dos pensamentos o puxasse para trás.
Quando finalmente chegou ao jardim, avistou Kaya sentada na varanda, os olhos perdidos no céu. Ela parecia mais frágil do que nunca, mas ao mesmo tempo, havia algo nela que irradiava esperança. Usopp hesitou, encarando-a por um momento antes de se aproximar.
Ele ajeitou os ombros e limpou a garganta, colocando seu sorriso confiante antes de ser notado. Afinal, ele era o Capitão Usopp, o bravo aventureiro que trazia histórias de terras distantes e monstros terríveis, um herói em quem Kaya sempre podia confiar. Mesmo que, no fundo, ele soubesse que sua bravura era apenas uma máscara.
Ao vê-lo, Kaya sorriu, seu rosto iluminado por uma alegria genuína. -"Usopp! Você veio me ver!"
-"Claro que sim, eu não podia deixar minha maior ouvinte sem minhas incríveis aventuras..."- disse Usopp confiante, enquanto Kaya ouvia atentamente cada palavra e sílaba proferida pelo garoto -"Eu já te contei da história de quando enfrentei o maior e mais perigoso peixe dourado dos mares?"
-"Este eu não me lembro."- disse Kaya, após pensar por um instante.
-"Então esse é seu dia de sorte, pois vou lhe dizer foi uma das aventuras mais incríveis em que me envolvi. *pigarreia* Foi em um dia..."
Usopp contava sua história de forma apaixonada, embelezando cada momento de forma que levava a imaginação correr solta, era tão vivido e fluido, quase que como se tivesse ocorrido de verdade, claro que era somente uma história muito bem contada, no entanto por um momento a história podia ser real, na imaginação de qualquer ouvinte que ouvisse tais palavras.
Kaya tinha um olhar feliz, realizado, a mesma se sentia leve, por aquele momento era como se ela não tivesse uma doença, algo tão limitador que lhe roubava sua vitalidade e qualquer oportunidade que a mesma podia ter tido. Ela era sozinha, ela se sentia assim na maior parte do tempo, mesmo com vários vassalos e sendo cuidada por outros, a mesma sentia solidão, talvez fosse decorrida pela perda precoce dos pais, no entanto toda essa solidão era retirada no mesmo instante em que Usopp aparecia, ele iluminava seu mundo e o aquecia com sua presença, suas histórias eram um consolo para sua dor.
Após vários minutos de contação ininterrupta, Usopp termina sua história com um sorriso animado, no instante seguinte ele ouve alguns aplausos atrás de si.
Era Klahadore e ele não estava satisfeito em vê-lo ali, Usopp se encolhe interiormente com o olhar ameaçador proveniente do mordomo, logo Klahadore diz com um tom cheio de desgosto -"Ora, ora se não é o famoso mentiroso, como você ousa contaminar esse lugar com sua presença indesejada. Francamente, você ainda continua vindo aqui, mesmo que seja toda vez expulso igual um cão vadio. *suspiro resignado* parece que gente de sua laia, principalmente filhos de piratas imundos, são meros..."
-"Não ouse dizer isso de meu pai..."- diz Usopp com o rosto obscurecido.
-"Klahadore, chega..."- Kaya pediu com um semblante triste, no entanto o mordomo prosseguiu em suas zombarias.
-"Srta. Kaya, não defenda esse tipo de gente imunda, você e esse... mero plebeu imundo, nunca serão amigos, eu conheço esse tipo de gente, só estão atrás de riquezas e oportunidades para subir de vida, se necessário usam e abusam dos outros como meras ferramentas, e o que esperar principalmente vindos da prole de um maldito pirata nefasto..."
-"Pare Klahadore..."- disse Kaya angustiada, suas mãos estavam apertadas em punhos cerrados, sua tristeza aumentava cada vez mais com cada palavra coberta em veneno, sendo proferida por Klahadore.
Antes que o mordomo pudesse continuar com sua ladainha cruel, Usopp acerta seu punho cerrado no queixo de Klahadore, o mesmo grunhe de dor, enquanto sua expressão enchesse de raiva, no entanto interiormente o mesmo estava satisfeito, ainda mais ao ver a expressão cheia de horror de Kaya.
-"U.Usopp..."- sussurrou Kaya assustada, suas mãos pálidas cobrindo a boca, enquanto puro horror a enchia.
-"Como esperado de gente de sua laia, recorrendo a violência, igual um..."
Antes que Klahadore continuasse com suas palavras cruéis, uma voz feminina é ouvida -"Igual o quê?!"