inesquecível

Quando Caminhos Se Encontram

Provo, Utah, sempre parecia irradiar calor. O sol batia forte sobre a cidade, refletindo sua intensidade na fachada brilhante do Colégio Sunshine. O som de risos e conversas se espalhava pelo pátio como uma corrente elétrica, enquanto os alunos se agrupavam em diferentes cliques, cada um em seu próprio mundo, mas todos unidos pela energia vibrante de um novo dia escolar.

No meio daquele cenário iluminado, Lyan Potter se destacava como o centro das atenções. Alto, com cabelos pretos cuidadosamente arrumados, seu olhar confiante e seu sorriso cativante eram suficientes para atrair qualquer olhar. Ele não passava despercebido. Sua postura atlética e a popularidade crescente, fruto de anos dedicados aos treinos no time de futebol, faziam dele o ícone da escola. A cada passo, Lyan exalava uma confiança inquestionável.

Mas, ao longe, em um canto mais reservado do pátio, estava Lívia Simons. Ela era a antítese de Lyan. De olhos atentos e óculos delicados, Lívia parecia se perder nos livros que carregava, distante da efervescência ao seu redor. A garota de cabelo castanho e mente afiada preferia os cálculos exatos da biologia, ou as profundas reflexões da literatura, às conversas triviais sobre popularidade. Ela se sentia mais confortável no mundo dos livros e da solidão, onde sua inteligência brilhava, mas sua timidez a impedia de brilhar ao lado de quem queria.

Lívia sempre olhava para Lyan de longe, seus olhos cheios de uma admiração silenciosa. Ela se perguntava como seria se aproximar dele, mas a ideia parecia tão distante quanto o céu estrelado da noite. Cada gesto de Lyan parecia reservado para aqueles ao seu redor – seus amigos Henry e Lionel, sempre tão confiantes e seguros de si. Lívia, por outro lado, sempre se sentia invisível diante da energia radiante dele.

-"Vamos, Lívia! A aula de História começa em dez minutos!" Fiona, sua melhor amiga, estava ali, sacudindo os ombros de Lívia com entusiasmo. Layla, ao seu lado, sorria de forma encorajadora. Ambas estavam sempre tentando convencê-la a sair de sua concha, a socializar mais, mas a timidez de Lívia a mantinha cativa em seu próprio mundo.

-"Eu só... preciso organizar meus livros," mentiu Lívia, evitando o olhar de Fiona. A verdade era que ela estava nervosa. Nervosa pela possibilidade de encontrar Lyan. Nervosa por sentir-se pequena diante dele.

Na sala de aula, a atmosfera mudava. Lyan entrou com seu sorriso característico, seguido de seus dois amigos inseparáveis, Henry e Lionel. Eles eram como estrelas em uma galáxia própria, sempre no centro de todas as atenções, suas risadas contagiando o ambiente. Conversavam sobre o jogo de amanhã, cada palavra e gesto transmitindo uma confiança inabalável.

-"E aí, Lyan! Preparado para o jogo amanhã?" Henry perguntou, batendo nas costas de Lyan com um sorriso largo.

-"Com certeza vamos arrasar contra o time de Maplewood!" Lyan respondeu, sua voz cheia de energia.

Lívia, sentada em sua mesa na última fila, não pôde deixar de observar. O brilho no olhar de Lyan, a maneira como ele falava com naturalidade, como se tudo ao seu redor fosse fácil, a fazia se sentir ainda mais distante. Seu coração batia mais rápido a cada palavra que ele dizia, e ela desejava, em silêncio, que um dia ele olhasse para ela da mesma maneira que olhava para seus amigos. Mas sabia que isso nunca aconteceria.

Entretanto, não era só a presença de Lyan que a fazia sentir-se desconfortável. Luke e Jasper, seus eternos rivais, adoravam provocar Lívia. Eles eram implacáveis, e cada oportunidade que tinham para desafiá-la, para ridicularizá-la, era uma chance de mostrar seu poder.

-"Ei, Lívia! Está de olho no Lyan de novo? Talvez você devesse comprar uma roupa nova. O que acha?" Luke zombou, rindo com Jasper ao lado. O riso deles era venenoso, como uma faca afiada que cortava o coração de Lívia.

Mas, antes que pudesse se encolher de vergonha, Lyan interveio. Ele se levantou, seus olhos escurecendo de irritação, como um protetor em defesa de algo que, aos olhos de todos, parecia tão insignificante, mas para ele, tinha um valor imensurável.

-"Deixe a Lívia em paz, vocês não têm nada melhor para fazer?" Lyan disse com firmeza, encarando os dois. Ele então se virou para Lívia, que ainda estava paralisada pela surpresa, um misto de gratidão e vergonha invadindo seu peito. "Não leve isso a sério, Lívia. São só palavras vazias."

Foi a primeira vez que Lívia sentiu a presença de Lyan tão próxima. Seus olhos se encontraram por um breve momento, e o coração de Lívia disparou. Mas a sensação logo se dissipou quando Pearl, outra garota popular da escola, se aproximou de Lyan. Ela tinha aquele jeito confiante, quase arrogante, e sua intenção era clara: ganhar a atenção de Lyan, como sempre fazia.

-"Oi, Lyan! Ouvi dizer que você vai brilhar no jogo de amanhã! Posso ir torcer por você?" Pearl disse, seus olhos brilhando de interesse, seus cabelos balançando de maneira provocante.

Lívia sentiu uma pontada no peito ao observar a interação deles. O sorriso de Pearl era sedutor, enquanto os olhos de Lyan brilharam, mas não da maneira como ela desejava. Pearl estava sempre ali, à espreita, pronta para se colocar na frente, para ocupar o espaço de Lívia. A insegurança de Lívia voltou com força, como uma sombra se espalhando.

-"Claro, Pearl. Seria legal ter você lá," Lyan respondeu, sem perceber a sensação de desconforto que tomou conta de Lívia.

Mais tarde, no refeitório, enquanto as amigas se serviam de comida e conversavam, Lívia não conseguia deixar de pensar em Lyan. Ela sentia como se fosse uma estranha naquele mundo brilhante e cheio de expectativas. As palavras de Layla e Fiona estavam sempre cheias de otimismo, mas algo dentro dela não conseguia se libertar da dúvida.

-"Você viu como ele olhou para a Pearl?" perguntou Layla, pegando uma fatia de pizza.

-"Eu sei. É como se eu estivesse invisível sempre que ela está por perto," Lívia murmurou, tentando esconder a tristeza em sua voz.

Fiona a olhou com preocupação. "Você precisa ser mais confiante, Lívia! O Lyan não é só para a Pearl, você sabe. Você é incrível por conta própria. Um dia, ele vai perceber isso."

Lívia não sabia se as palavras de Fiona eram suficientes para apaziguar suas inseguranças, mas tentou acreditar nelas. Mesmo assim, enquanto o dia passava, ela sentia uma distância crescente entre ela e Lyan. Cada olhar dele para Pearl era uma lança envenenada em seu coração.

O jogo de futebol chegou, e com ele, um mar de estudantes coloridos com as cores do time. A energia no ar era contagiante, mas Lívia não podia se livrar da sensação de que estava à margem, observando de longe a festa dos outros. Lyan, no centro de tudo, parecia ser o líder indiscutível, e ela, apenas uma espectadora silenciosa.

No campo, Lyan brilhou, sua habilidade deslumbrante fazendo com que a multidão vibrasse. Cada movimento dele era pura magia, e Lívia não conseguia desviar os olhos. Quando Lyan marcou um gol, o estádio inteiro explodiu em gritos de alegria. Ela aplaudiu, mas, no fundo, sua alma estava dilacerada.

E então, no momento de euforia, Pearl apareceu, correndo em direção a Lyan para celebrar com ele, abraçando-o de forma exagerada, como se fosse sua vitória pessoal. Lívia sentiu o nó no estômago apertar mais forte, e uma sensação amarga se espalhou por seu peito. Ela se afastou, procurando um canto mais tranquilo atrás das arquibancadas, onde pudesse respirar sem ser vista.

Foi lá que Lyan a encontrou.

-"Lívia!" ele chamou, a voz preocupada. "Você está bem? Vi que se afastou."

Lívia sentiu o coração acelerar ao vê-lo tão perto. Sua presença, tão familiar e reconfortante, parecia afastar todas as suas inseguranças. Ela tentou sorrir, mas sua voz falhou.

-"Estou... só precisava de um ar fresco," ela respondeu, tentando controlar o nervosismo.

Lyan sorriu, um sorriso genuíno e acolhedor. "Sabia que você viria. Seu apoio é importante para mim."

Lívia sentiu uma onda de esperança surgir. Mas as palavras de Lyan, tão sinceras, também traziam uma incerteza. "É estranho, não é? Tudo isso. Como se nada fosse o que parece ser."

E, pela primeira vez, Lívia sentiu que havia uma brecha para algo mais. Algo que ela mal podia acreditar, mas que, ao mesmo tempo, desejava mais do que tudo.