Memorias

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A luz do sol entrava suavemente pelas cortinas do quarto do hospital, iluminando os rostos tensos de Lívia e dos pais de Lyan, James e Emma Potter. Era difícil acreditar que já havia se passado uma semana desde o acidente que abalara a todos. O silêncio do quarto era interrompido apenas pelo bip constante das máquinas que monitoravam os sinais vitais do jovem. Lívia estava sentada em uma cadeira ao lado da cama, segurando a mão de Lyan com força, como se isso pudesse trazê-lo de volta.

James observava o filho, os braços cruzados, tentando manter a calma. Emma, de pé ao lado de Lívia, segurava o choro, com os olhos fixos no rosto adormecido de Lyan.

De repente, um movimento. Lyan mexeu os dedos, e seus olhos começaram a abrir lentamente. Todos no quarto prenderam a respiração. Quando ele finalmente abriu os olhos por completo, piscando contra a luz, o silêncio deu lugar a um misto de alívio e surpresa.

— Lyan? — Emma perguntou com a voz embargada, dando um passo à frente.

O rapaz olhou ao redor, confuso, tentando entender onde estava. Ele se sentou com dificuldade, apoiando-se nos cotovelos.

— Mãe? Pai? — Sua voz estava rouca, mas carregava um tom de felicidade ao reconhecer os dois. Ele os abraçou com força. — O que está acontecendo? Por que estou aqui?

James trocou um olhar preocupado com Emma, mas foi o primeiro a falar.

— Filho, você sofreu um acidente durante um jogo de futebol. Foi atingido por um raio. Ficou desacordado por uma semana.

Lyan arregalou os olhos, tentando absorver a informação. Ele levou as mãos à cabeça, como se tentasse puxar lembranças que não estavam lá.

— Eu... eu não lembro disso. Na verdade... — Ele franziu a testa, lutando para se lembrar de algo. — Não lembro de nada desse jogo.

Emma se aproximou, segurando a mão de Lyan.

— Tudo bem, querido. Talvez seja apenas confusão. O que você lembra?

Ele olhou para os pais, parecendo perdido, antes de finalmente responder:

— A última coisa que lembro... foi do bolo de chocolate que comi na casa da vovó. Foi... foi antes dela morrer. Eu tinha 10 anos.

Um silêncio pesado caiu sobre o quarto. Emma levou a mão à boca, tentando conter o soluço que ameaçava escapar. James fechou os olhos, absorvendo a gravidade da situação. Lívia, ao ouvir aquilo, congelou.

— Lyan... — ela sussurrou, a voz quebrada.

O olhar de Lyan pousou nela pela primeira vez. Ele a observou com curiosidade, como se nunca a tivesse visto antes.

— Quem é você?

Essas palavras foram como uma faca para Lívia. Ela levantou-se rapidamente, soltando a mão dele.

— Eu... preciso sair um pouco. Com licença.

Lívia saiu do quarto apressada, as lágrimas caindo livremente enquanto atravessava o corredor. Emma foi atrás dela, deixando James e Rachel com Lyan.

No corredor, Lívia encostou-se à parede, cobrindo o rosto com as mãos, soluçando alto. Emma a alcançou, abraçando-a com força.

— Ele não sabe quem eu sou, dona Emma. Ele não lembra de nada... de nada do que vivemos. Foram dois anos até ele sequer me notar, e agora tudo isso foi apagado! — Lívia chorava desesperada.

Emma, lutando contra as próprias lágrimas, acariciou os cabelos da garota.

— Querida, eu sei que isso é difícil. Mas Lyan precisa de você agora. Mesmo que ele não lembre, o coração dele ainda sente. Ele só precisa de tempo.

Enquanto isso, no quarto, Rachel se aproximou da cama do irmão. Ela tentava ser forte, mas seus olhos estavam marejados.

— Lyan, você lembra de mim? — ela perguntou com esperança.

Ele a observou por um momento antes de sorrir de forma inocente.

— Quando foi que você cresceu tanto, Rachel?

As palavras, ditas de forma tão infantil, fizeram Rachel recuar. Ela saiu do quarto apressada, as lágrimas finalmente caindo.

James, agora sozinho com Lyan, tentou manter a calma.

— Filho, você não precisa se esforçar agora. Vamos descobrir como te ajudar a lembrar.

Nesse momento, o médico entrou no quarto, segurando uma prancheta. James levantou-se e o encarou com expectativa.

— Doutor, o que podemos fazer?

O médico suspirou antes de responder:

— A perda de memória é comum em casos de trauma como o de Lyan. Não sabemos se ele vai recuperar as lembranças. É importante que ele tenha um acompanhamento semanal e seja exposto a situações que possam ajudá-lo a relembrar, mas também não devemos forçá-lo. No momento, precisamos ter paciência.

James assentiu, tentando absorver aquilo. Ele olhou para Lyan, que brincava com as cobertas como uma criança.

— Então, basicamente, eu tenho um filho com corpo de 17 anos e mente de 10? — James perguntou com um toque de humor amargo.

— No momento, sim. Mas há esperança. Ele pode recuperar as memórias com o tempo.

Enquanto isso, no corredor, Rachel e Lívia choravam juntas, amparadas por Emma. Ambas lutavam contra o medo de nunca mais terem o Lyan que conheciam de volta.

O capítulo termina com James sentado ao lado de Lyan, segurando sua mão. Apesar da tristeza, ele prometeu a si mesmo que faria de tudo para ajudar o filho.

No hospital, o amor e a dor caminhavam lado a lado, unindo aqueles que Lyan amava, mesmo que ele não lembrasse disso.

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