inesquecível

Entre Receios e Revelações

O céu daquela manhã estava claro, o sol brilhava com suavidade, aquecendo o ambiente sem excessos. A cidade parecia calma, mas no coração de Lyan uma mistura de ansiedade e expectativa fervilhava. Ele estava ao lado de Lívia, cuja mão segurava firme. Caminhavam juntos rumo à antiga escola que haviam frequentado, um local repleto de memórias que, para Lyan, ainda permaneciam como peças de um quebra-cabeça espalhadas pelo chão.

Ao atravessarem o portão principal, Lívia sorriu ao reconhecer cada canto daquele lugar que tanto significava para os dois.
— Aqui começamos tudo, Ly — disse ela, olhando para o campo de futebol ao longe.
— Tudo? — ele perguntou, sem esconder a curiosidade.
— Sim. Seu primeiro gol importante, nossa primeira conversa de verdade... Foi aqui que você me conquistou.

Lyan riu levemente, mas não conseguia ignorar o aperto no peito. Ele sabia que havia algo especial naquele lugar, mas não conseguia acessar essas lembranças.

No caminho para o campo de futebol, Lívia apontava pequenos detalhes: a arquibancada onde ela sempre se sentava, o vestiário que Lyan usava, e até o corredor onde ele costumava caminhar antes dos jogos. Para ela, cada detalhe tinha um peso emocional. Para ele, eram fragmentos desconexos de uma história que desejava desesperadamente lembrar.

Ao chegarem ao campo, Lyan parou. O cheiro da grama recém-cortada despertou uma sensação familiar. Ele respirou fundo e fechou os olhos.

De repente, flashes surgiram: ele correndo no campo, gritos de torcida ao fundo, o som do apito. E então, a euforia deu lugar à dor. Ele se viu no chão, sentindo uma agonia indescritível. O som da torcida transformou-se em vozes preocupadas e sirenes. Ele abriu os olhos abruptamente, respirando com dificuldade.

— Ly? — Lívia segurou seus ombros, preocupada. — O que houve?
— Eu vi... algo. Era eu. Estava aqui, no chão, com dor. Foi o acidente, não foi?

Lívia respirou fundo, sem saber se deveria confirmar.
— Sim, Ly, foi aqui. Mas você não precisa reviver isso agora. Vamos com calma.

Eles caminharam até o mural da escola, onde fotos antigas decoravam a parede. Uma delas chamou a atenção de Lyan: ele, segurando um troféu, cercado por amigos. Lívia estava ao seu lado na foto, sorrindo como sempre fazia.

— Éramos felizes, não é? — ele perguntou, tocando a imagem.
— Mais do que você imagina — respondeu Lívia, emocionada.

Lyan sorriu, mas seu semblante logo ficou sério.
— Quero visitar Ethan. Ele pode me ajudar a entender o que aconteceu.

Lívia hesitou. Sabia que aquilo poderia trazer à tona verdades difíceis, mas, ao mesmo tempo, reconhecia a necessidade de Lyan em buscar respostas.
— Se é isso que você quer, estou com você. Sempre estarei.

Naquele momento, Lyan percebeu o quanto Lívia era importante. Mesmo que não se lembrasse de tudo, ele sabia que a conexão deles era única. Ele segurou a mão dela com mais força, determinado a enfrentar qualquer desafio que viesse pela frente.

O carro seguia pela avenida tranquila enquanto Lyan dirigia em silêncio, suas mãos firmes no volante. Lívia, ao seu lado, observava o caminho com um sorriso gentil, mas preocupada. O hospital não estava longe, mas o trajeto parecia mais longo do que deveria, dado o peso do destino.

— Ly, está tudo bem? — perguntou ela, quebrando o silêncio.
Lyan soltou um suspiro profundo. — Não sei, Liv. Acho que... não sei o que vou encontrar lá.

Lívia colocou a mão no ombro dele, transmitindo confiança. — Ethan é forte, e você também. Não importa o que aconteça, você não está sozinho.

O apoio de Lívia era tudo o que Lyan precisava para continuar. Ele não sabia por que se sentia tão apreensivo. Talvez fosse o peso das verdades que Ethan pudesse revelar, ou o medo de encarar a realidade de frente.

Quando chegaram ao hospital, o ar parecia mais frio. Lyan parou na entrada e ficou um momento parado, respirando fundo. Lívia desceu do carro e segurou a mão dele, entrelaçando seus dedos.
— Vamos juntos, Amor.

Eles caminharam pelos corredores iluminados, o som de passos e vozes abafadas ecoando ao redor. Ao chegarem à recepção, Lívia deu os detalhes à recepcionista e logo receberam a indicação do quarto de Ethan.

Parados diante da porta, Lyan hesitou.
— E se ele não quiser me ver? — ele perguntou, olhando para Lívia.
— Ele vai querer — respondeu ela, com firmeza. — Ele precisa de você tanto quanto você precisa dele.

Com um aceno, Lyan abriu a porta devagar. O quarto estava silencioso, exceto pelo bip rítmico das máquinas conectadas a Ethan. Ele estava deitado, com o braço engessado e algumas bandagens visíveis, mas seus olhos estavam abertos, fixos no teto.

Ao perceber a presença dos dois, Ethan virou a cabeça lentamente. A surpresa em seu rosto foi evidente.
— Lyan? Lívia? — sua voz estava rouca, mas carregada de emoção.

Lyan deu alguns passos hesitantes para dentro do quarto, enquanto Lívia segurava sua mão.
— Hey, cara — começou Lyan, com um sorriso nervoso. — Acho que a gente precisa conversar.

Ethan tentou se sentar, mas gemeu de dor. Lívia correu para ajudá-lo, ajustando os travesseiros para que ele ficasse mais confortável.
— Não esperava te ver aqui, Lyan — disse Ethan, com um sorriso fraco. — Você está bem?

Lyan deu de ombros, sem saber ao certo como responder.
— Acho que deveria ser eu perguntando isso pra você.

A tensão no ar diminuiu um pouco à medida que os três começaram a conversar. Lívia fez questão de puxar assuntos leves no início, tentando aliviar o clima pesado. Aos poucos, Ethan começou a se abrir, agradecendo a presença deles e mencionando como foi encontrar o Sr. Potter, sem revelar o envolvimento direto dele no resgate.

Lyan sentiu algo despertar dentro de si. Era como se aquele momento estivesse preenchendo lacunas em sua mente e coração, mas ele sabia que ainda havia muito a descobrir.

O capítulo termina com os três relembrando momentos da amizade entre Ethan e Lyan, enquanto um senso de determinação cresce em ambos para enfrentarem os desafios e segredos que ainda estavam por vir.