A vida de Livia

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O sábado amanheceu calmo em Provo, com os primeiros raios de sol filtrando-se suavemente pelas cortinas floridas do quarto de Lívia Simons. A cidade, acostumada ao ritmo agitado de eventos esportivos, estava fervilhando de excitação por causa da festa de celebração do time de futebol. O clima de festividade tomava conta das ruas, mas dentro da casa dos Simons, um silêncio melancólico reinava.

Lívia acordou mais cedo do que o habitual, sem vontade de sair da cama. Olhou pela janela, observando as pessoas se preparando para a grande noite, algumas já vestindo camisetas do time, outras decorando as ruas. O coração apertou ao pensar na festa, no que poderia ter sido, mas, ao mesmo tempo, a ideia de ver Lyan com Pearl em um ambiente tão público a deixava profundamente triste. Ela sabia que o amor que sentia por ele era um segredo guardado, um amor platônico que nunca se concretizaria.

Ela se virou na cama, puxando as cobertas para si e se encolhendo, tentando afugentar os pensamentos que teimavam em invadir sua mente. "Eu não deveria me preocupar com isso," pensou, embora soubesse que não poderia evitar.

Lívia vivia com seus pais, Helen e Jonathan Simons, e seus dois irmãos mais novos, Eduard e Oliver. Helen, professora de história na universidade local, sempre foi uma presença encorajadora na vida da filha, uma fonte constante de sabedoria e conselhos. Jonathan, engenheiro com uma paixão por fotografia, passava os fins de semana capturando momentos da vida cotidiana, sempre com uma câmera em mãos.

Após um longo banho, onde tentou dissipar as nuvens de melancolia que a acompanhavam, Lívia desceu as escadas em direção à cozinha. O aroma doce de panquecas frescas preenchia o ar, e os sons de risadas infantis vinham do quintal. A visão de sua mãe, com o cabelo preso em um coque despretensioso, sorrindo enquanto mexia a massa, trouxe-lhe um conforto imediato.

"Bom dia, minha querida," disse Helen com um sorriso caloroso. "Dormiu bem?"

Lívia se sentou à mesa, passando a mão nos cabelos molhados e sorrindo timidamente.

"Acho que sim," respondeu, mas seu tom de voz entregava que algo estava errado. "Só estou... pensando."

Helen, com seu olhar perspicaz, percebeu a tristeza disfarçada. Ela colocou uma xícara de café quente na frente da filha e, com uma voz suave, perguntou:

"Sobre a festa, certo?"

Lívia respirou fundo, tentando organizar seus pensamentos antes de falar.

"Sim," admitiu. "Eu sei que é só uma festa... mas, ao mesmo tempo, não sei se fiz a escolha certa em ficar em casa." Ela olhou para o prato, mexendo a colher lentamente. "Eu só... não quero ver o Lyan com a Pearl."

Helen ficou em silêncio por um momento, percebendo a dor nas palavras da filha. Ela se sentou ao lado de Lívia, tocando suavemente sua mão.

"Lívia, é natural sentir-se assim. Às vezes, o coração nos leva a tomar decisões que nem sempre são as mais fáceis." Ela sorriu levemente. "Mas eu te conheço bem. Você sabe que tem algo especial dentro de você, e talvez... seja hora de dar um passo à frente."

Lívia suspirou, olhando para a mãe com um olhar misto de dor e esperança.

"Você acha mesmo?" perguntou, com um fio de dúvida na voz.

Helen sorriu, pegando a mão de Lívia entre as suas.

"Eu sei que sim. Você sempre fala dele com carinho, de um jeito que não faz sentido esconder. Talvez seja hora de mostrar esse carinho, quem sabe até falar com ele."

Antes que Lívia pudesse responder, os sons de correria ecoaram pelo corredor, e seus dois irmãos entraram na cozinha, saltando como se estivessem em uma competição de alta velocidade.

"Mamãe! Vamos jogar futebol no quintal!" gritou Oliver, com um sorriso contagiante, enquanto puxava a mãe pelo braço.

"Vamos, Lívia, você vai ser nossa goleira!" disse Eduard, os olhos brilhando com a empolgação da brincadeira. "E você vai perder, como sempre!" ele brincou, lançando um olhar zombeteiro para a irmã.

Lívia riu pela primeira vez no dia, o peso em seu peito aliviado pela energia vibrante de seus irmãos.

"Certo," ela disse com um sorriso travesso. "Mas só se vocês me deixarem ganhar!"

Ela se levantou da mesa, sentindo a leveza da infância em seus passos, e seguiu os dois para o quintal.

O ar fresco da manhã a envolveu, e por alguns momentos, ela se permitiu esquecer os pensamentos sobre Lyan e Pearl. A bola rolava de um lado para o outro, com Eduard fazendo gols impressionantes e Oliver tentando emular as jogadas que vira na TV. As risadas ecoaram pelo quintal enquanto Lívia tentava se concentrar no jogo, sendo uma goleira improvisada que, para seu orgulho, defendia todos os ataques. A diversão com seus irmãos a fez esquecer o peso de suas preocupações, mas, à medida que o sol se movia lentamente no céu, a lembrança da festa ainda pairava sobre ela.

Quando o jogo chegou ao fim, todos estavam suados e rindo. O vento da tarde era mais frio, e, mesmo assim, o calor familiar de seus irmãos e de sua mãe a fazia se sentir acolhida. Ela olhou para a casa e viu seu pai entrando com uma câmera na mão.

"Vamos fazer umas fotos, galera! Todo mundo sorrindo!" disse Jonathan, enquanto ajustava a lente de sua câmera.

Lívia fez uma careta, brincando com seu pai.

"Ah, pai, você nunca cansa de tirar fotos?"

Ele riu e, antes que pudesse responder, Eduard e Oliver se jogaram na frente da câmera, fazendo poses ridículas e engraçadas. Helen observava a cena com um sorriso caloroso, sabendo que aqueles momentos eram preciosos.

À noite, quando a família se reuniu para o jantar, a casa estava cheia de risadas e conversas descontraídas. O cheiro de macarrão e frango grelhado pairava no ar, e todos se sentaram à mesa com o espírito leve. Jonathan capturava o momento com sua câmera, enquanto Helen fazia piadas sobre a escola e as aventuras dos meninos. Lívia, olhando para sua família, sentiu uma onda de gratidão, mas sua mente ainda estava em Lyan, naquilo que não se atrevia a dizer.

"E você, Lívia? O que vai fazer amanhã?" perguntou Helen, colocando um pedaço de frango no prato.

Lívia se sentiu um pouco nervosa, mas não queria esconder seus sentimentos.

"Vou tentar falar com Lyan." Sua voz soou mais baixa do que pretendia, mas a intenção estava ali.

Helen sorriu com carinho, enxergando o gesto como um passo importante.

"Eu sabia," disse com firmeza. "Estou feliz por você, querida. Lembre-se de ser você mesma."

Eduard, com um sorriso travesso, levantou a voz.

"Ah, então a Lívia vai ser a goleira do coração do Lyan!" Todos riram, mas a piada fez Lívia se sentir mais à vontade.

A noite seguiu com mais risadas e histórias. Quando o jantar terminou, Helen se aproximou de Lívia enquanto ela ajudava a limpar a mesa.

"Lembre-se, querida, a vida é cheia de surpresas. O que você tem a perder ao se abrir para Lyan?" disse Helen, passando um pano na mesa.

Lívia pensou por um momento e então sorriu para a mãe.

"Nada," disse com confiança. "Só preciso fazer isso."

Quando a noite caiu e o céu estrelado se estendeu sobre a cidade, Lívia subiu para o seu quarto com uma sensação agridoce. A tristeza por não ter ido à festa ainda estava ali, mas havia também uma sensação de expectativa, como se algo grande estivesse prestes a acontecer. Ela se deitou, fechando os olhos e sonhando com o que o futuro lhe reservava.

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