Sombras do Passado

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A noite parecia densa na casa dos Potter. Lyan ainda estava atônito, olhando para as chapas de metal sobre a mesa da cozinha. Seus dedos tocaram a superfície fria com hesitação, enquanto sua mente se enchia de perguntas sem resposta. Emma e Rachel estavam ao seu lado, em um misto de choque e preocupação. James mantinha-se em silêncio, seus olhos fixos nas chuteiras como se buscasse respostas escondidas no objeto inerte.

Rachel, incapaz de conter a tensão, pegou o telefone e ligou para Livia.

— Livia, você precisa vir agora. É... sobre o Lyan. Descobrimos algo... muito sério. — Sua voz estava embargada.

Livia, do outro lado da linha, sentiu o coração apertar. Sem pedir detalhes, ela e seus pais foram para a casa dos Potter o mais rápido possível. Assim que entrou, viu Lyan sentado à mesa, a cabeça baixa. Ao seu lado, estavam as chuteiras que ela tanto reconhecia das histórias do campeonato estadual, mas agora com um peso que ela não entendia.

— O que aconteceu? — Livia perguntou, os olhos alternando entre Lyan e Rachel.

James, com uma expressão grave, apontou para as chapas de metal sobre a mesa.

— Isso estava escondido dentro das chuteiras do Lyan. Debaixo das palmilhas. Alguém colocou isso lá... antes do jogo.

O rosto de Livia se transformou em uma mistura de choque e fúria.

— Vocês estão dizendo que isso... isso foi planejado? Que alguém tentou machucar o Lyan de propósito?

Emma assentiu, lágrimas escorrendo por seu rosto.

— Não sabemos quem, mas é claro que isso não foi um acidente.

Livia sentiu uma onda de ódio subir por seu corpo, mas respirou fundo. Aquela não era a hora para explosões; Lyan precisava dela. Ela se aproximou e segurou a mão dele, que ainda estava fria e trêmula.

— Lyan, olhe para mim. — Sua voz era suave, mas firme. — Isso não muda quem você é. Você é muito mais do que qualquer coisa que essas pessoas tentaram fazer com você.

Lyan ergueu os olhos para ela, e Livia viu a confusão e a dor que ele sentia.

— Eu só... não entendo. Por que fariam isso comigo? O que eu fiz para merecer isso?

Livia se ajoelhou ao lado dele, colocando as mãos em seus ombros.

— Não importa o motivo. O que importa é que você está aqui. Que eles não te destruíram. E nós vamos descobrir a verdade, juntos.

Rachel, ainda com lágrimas nos olhos, interveio:

— Livia está certa. Nós estamos todos com você, Lyan. Não importa o que tenha acontecido, nós vamos superar isso como uma família.

A intensidade da conversa deixou todos exaustos. Após algum tempo, James sugeriu que todos tentassem descansar.

Lyan subiu para o quarto, mas o sono parecia impossível. Cada vez que fechava os olhos, flashes perturbadores invadiam sua mente. Ele via raios cruzando um céu escuro, ouvia o som de gritos distantes, sentia um aperto no peito. Em um desses momentos, acordou com um solavanco, o rosto molhado de suor e lágrimas.

Livia, que estava passando pelo corredor, ouviu os sons abafados e parou. Sem hesitar, abriu a porta devagar e viu Lyan sentado na cama, a cabeça enterrada nas mãos.

— Lyan? — Ela chamou suavemente.

Ele ergueu os olhos, visivelmente abalado.

— Eu... não consigo dormir. Toda vez que fecho os olhos, vejo coisas... raios, pessoas gritando. Não sei o que significa, mas é horrível.

Livia entrou e fechou a porta atrás de si. Aproximando-se da cama, sentou-se ao lado dele e segurou sua mão.

— Eu estou aqui. Você não precisa passar por isso sozinho.

Ele a olhou, os olhos cheios de vulnerabilidade.

— Você... pode ficar aqui comigo? Só por um tempo?

Livia sorriu suavemente.

— Claro. Eu não vou a lugar nenhum.

Ela se deitou ao lado dele, e quando ele hesitou, ela encorajou:

— Feche os olhos, Lyan. Eu vou cuidar de você.

Com delicadeza, Livia passou a mão pelo rosto dele, como costumava fazer antes do acidente. O toque era familiar, reconfortante. Para sua surpresa, Lyan sentiu o corpo relaxar e, pela primeira vez em semanas, conseguiu adormecer.

Livia permaneceu acordada, observando-o.

— Eu prometo que vou fazer tudo o que puder para trazer suas memórias de volta — sussurrou, mais para si mesma do que para ele.

Enquanto isso, o relógio na parede marcava o passar das horas, e o silêncio da noite parecia trazer a promessa de dias melhores.

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