50 - Colírio

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Naquela noite seria a abertura do festival. Isaak havia enviado o vestido para que Luella usasse naquela noite e nas noites seguintes. Ele combinava com sua pele pálida. Certamente ficaria bonito. Apesar de que não o usaria.

Ao mesmo tempo, se sentia ansioso com a chegada de Reeze. Agora não apenas Reeze, mas oficialmente A Santa do templo. Com ela, com certeza viria o sacerdote e outros fiéis.

Ezekiel entregou os últimos relatórios de Luella, naquele dia também. Seu rosto parecia um pouco preocupado.

"Vossa graça... A duquesa excluiu o condado Everett."

Isaak parou de andar, devolvendo os papéis para o seu funcionário. Sua esposa havia desconvidado sua própria família? Isso definitivamente a afirmaria como aliada do ducado.

"O que?"

"O conde Everett veio visitá-la e parecia querer muito conversar um assunto em particular, mas ela não o deu atenção... E... Por um momento..."

O homem loiro travou seu maxilar.

"O que?"

"Ele se exaltou e levantou a mão contra ela, duque."

"..."

"Mas os guardas impediram a tempo e ele...-"

"Corte as relações comerciais entre nós imediatamente. Não vou admitir tamanho desrespeito com a senhora do ducado, ela é a segunda no comando de tudo isso. Atacar ela é o mesmo que atacar todos os que aqui residem. É o mesmo que insultar nosso exército, trabalhadores, até mesmo o nosso gado."

Um sorriso discreto pode ser visto nos lábios de Ezekiel, ele assentiu e foi embora. Deixando o duque continuar sua caminhada até o quarto.

Ao entrar, ele se deparou com um mutirão de empregadas. Uma delas esfregava o braço de Luella e a outra lavava seus cabelos. A espuma da banheira cobria o corpo de sua esposa. Ele imediatamente se virou, a única coisa que viu foram os mesmos e habituais olhos vazios.

"As preparações começam tão cedo assim?"

"É necessário preparar a pele dela com vários banhos de especiarias."

Foi Miriam quem respondeu.

"Não tão ruim quanto o tratamento de noiva, não consegui comer nada o dia inteiro."

'O dia inteiro?!'

Ele se lembrou da imagem de sua esposa, apenas encarando os outros comendo. Enquanto ela mesma não levou nada até a boca.

'Estou jejuando por um casamento feliz.' Ele se lembrou da desculpa ridícula que ela deu.

"Você poderia ter comido no buffet...."

Burburinhos das empregadas.

"Se eu comesse alguma coisa, eu provavelmente iria estourar."

"Eu não gosto de alusões, Luella."

Miriam outra vez se pronunciou, sentindo a necessidade de intervir.

"Vossa graça, o corset que ela usava no dia era muito apertado, além de ela ter usado um corpete em cima. Comer com um espartilho já é complicado, com dois seria..."

Ah. Ele entendeu. Ela não conseguiu comer por causa das regalias de um traje de casamento, por um momento imaginou como foi o seu dia "mais bonito" da vida. Talvez ela tivesse tomado vinte banhos com cem tipos de rosa diferentes. E depois ela teve que usar várias gosmas no cabelo e no rosto.

Quanto mais sabia sobre ela, mais parecia não saber. Se perguntava quantos segredos mais ela escondia além daquele. Se ele pudesse, abrir sua cabeça, seu crânio, seu cérebro... e descobrir o que ela realmente estava pensando. Se ao menos pudesse fazer isso.

Ele já havia a visto uma vez, de longe, cerca de um ano atrás. E seus olhos eram definitivamente diferentes. De sedutores para cansados. Vazios. Miseráveis.

Ele só queria que ela reagisse de uma forma, apenas não o olhasse com aqueles olhos. Mesmo que tivesse de dizer inúmeras vezes que a odiava, se isso fosse capaz de arrancar algum tipo de reação... Seria o suficiente para Isaak.

Sacudiu a cabeça, expulsando aqueles pensamentos.

"Não deve se atrasar."

O duque saiu, fechando a porta atrás de si. O mordomo Keith apareceu, com um sorriso em seu rosto velho.

"A Santa chegou."

O rosto que uma vez esteve cansado, se encheu de uma profunda alegria. Em passos rápidos, ele foi andando até a saída, na companhia do velho.

"Eu ouvi falar que os hospitais receberam um recurso inusitado..."

"Diga."

"É como uma luz que você controla. Você aperta um botão para a acender e a apagar."

"..."

"E eles usam no teto, iluminando completamente um cômodo."

"Procure comprar isso para a mansão."

"Esse é o problema... Isso não está a venda. Foi vendido apenas para os hospitais."

Ele parou de andar por alguns instantes e encarou o rosto de Keith, ao ver que o homem estava sério, o duque voltou a andar.

"E quem é responsável por isso?"

"Dizem que é a corporação Tesla, vossa graça."

Isaak parou de falar no momento em que a viu. Seus cabelos loiros e lisos, completamente domados caiam pelas suas costas como uma cascata solar. A franja pendendo em sua testa lhe dava um ar de inocência, juntamente com seu vestido rosa claro com bordado de flores. Seus olhos transbordavam o azul de um céu ensolarado.

As bochechas de Isaak coraram.

"Reeze."

"Vossa graça...!"

Ela sorriu, correndo para os braços dele. Mas ele recuou, como se delimitasse o espaço entre eles.

Ainda assim, os olhos do duque brilhavam enquanto ele olhava para a sua amada. Seu rosto se tornou vívido.

Ela era um colírio para seus olhos cansados.

I became the duke's evil wife Onde histórias criam vida. Descubra agora