A recompensa da Monika

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Atravessar o portal era como emergir de um pesadelo para um vazio mais profundo. Minha visão estava embaçada, um misto de dor e exaustão fazia com que eu mal conseguisse distinguir as formas ao meu redor. Quando toquei o chão do outro lado, mal tive tempo de entender onde estava antes de sentir mãos me erguerem com urgência.

Vozes indistintas, quase ecoantes, preenchiam o ar. Reconhecia vagamente o tom apressado e servil dos subordinados de Monika, mas não conseguia identificar quem eram ou quantos estavam ali. Fui carregado com eficiência, mas sem gentileza, como um fardo que precisava ser removido rapidamente.

O cheiro de óleo, metal e ervas fortes começou a invadir meus sentidos conforme eu era levado para o interior de um lugar que parecia vivo e pulsante. A temperatura mudava; um calor estranho irradiava de paredes e equipamentos ao redor. Finalmente, minha visão começou a clarear o suficiente para discernir formas. Estava em um laboratório.

O laboratório de Monika era uma fusão surreal de tecnologia e natureza. As paredes eram revestidas por placas metálicas, mas delas brotavam raízes e vinhas que se moviam lentamente, como se respirassem. Uma luz âmbar suave iluminava o ambiente, revelando mesas cobertas de ferramentas precisas e frascos contendo líquidos que brilhavam com cores impossíveis. O ar era preenchido por um som ritmado de engrenagens trabalhando e batimentos, como se o local tivesse um coração próprio.

No centro do laboratório, cercada por servos que ajustavam pequenos detalhes ou apenas esperavam instruções, estava Monika. Ela parecia indiferente à minha chegada, completamente focada no que estava à sua frente.

Sobre uma mesa grande e intrincada, repousava algo que quase me fez esquecer a dor... Mesmo em sua forma incompleta, era uma obra-prima de engenhosidade e arte. A estrutura base era feita de carvalho, seu tom dourado refletindo a luz como se tivesse sido polido até a perfeição. Raízes e vinhas se entrelaçavam naturalmente com cabos e fios que pareciam pulsar, como se fossem vasos sanguíneos. A conexão entre o orgânico e o mecânico era impecável, quase bela.

Grandes sanfonas metálicas estavam posicionadas no torso, substituindo pulmões, mas com uma eficiência evidente. Cada movimento emitia um som leve, semelhante a uma respiração profunda e poderosa. Mais acima, na cabeça, estava o cérebro parcialmente exposto, metade dele era de tecido humano, mas a outra metade parecia uma obra de engenharia brilhante, um "motor" pulsante, girando suavemente como se alimentasse todo o sistema.

Os olhos ainda estavam incompletos, mas havia um detalhe que não escapava à atenção, o olho direito era uma esfera perfeita de ônix, irradiando um brilho quase hipnotizante, enquanto o olho esquerdo parecia humano, castanho claro, conferindo ao rosto um equilíbrio estranho, porém harmônico.

E então, a carne e os músculos começaram a ser aplicados ao esqueleto. Monika trabalhava com precisão cirúrgica, usando ferramentas avançadas para moldar a carne ao redor da madeira e do metal. A textura da pele clara ia tomando forma, cobrindo a estrutura com uma delicadeza desconcertante.

Finalmente, cabelos negros e curtos foram adicionados, completando o que parecia ser um jovem humano de dezoito anos. A figura tinha 1,60 m de altura, e apesar de sua construção evidentemente artificial, havia algo assustadoramente real e vivo nele... Monika, sem sequer olhar para mim, falou com o tom frio e casual.

Monika: É impressionante que você ainda esteja consciente.

Kire: ... __s_... é p__ __m?

Monika parou por um momento, levantando o olhar e observando meu corpo deteriorado, uma expressão de desdém atravessando seu rosto.

Monika: Você achou mesmo que eu iria te descartar só por estar todo destruído? Não seja tolo, você não vai funcionar por muito mais tempo nesse estado lamentável... Então eu passei semanas projetando algo tão magnífico para dar continuidade a você, lembra da tal recompensa que eu te prometi por me entreter? Então aqui está sua recompensa.

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