Trinta

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Elif

— Vovô! — gritei ao empurrar a porta do escritório com força, interrompendo a reunião que ele mantinha com outro homem. Seus olhos, aguçados e impacientes, cravaram-se em mim, mas não proferiu nenhuma palavra. Com um gesto breve, ele indicou para que o outro homem se retirasse. A sala ficou silenciosa, carregada de tensão.

— Você tentou matar o Kerim? Era isso o que queria? — minhas palavras saíram em um jorro, movidas pelo choque e pela incredulidade.

O som de uma bofetada reverberou no ar, ecoando pelo escritório. A dor ardente se espalhou pela minha face, e meus olhos se encheram de lágrimas, não só pela dor física, mas pela traição que aquilo representava.

— Como ousa entrar aqui dessa forma? — ele vociferou, a fúria distorcendo suas feições normalmente compostas.

— Vovô... — comecei, minha voz trêmula, ainda tentando processar a realidade da violência e das palavras que viriam.

— Cale-se! — ele interrompeu, caminhando até a janela e parando diante dela, suas costas voltadas para mim, recusando-se a encarar o resultado de sua própria ira. — Você é fraca, tão fraca quanto seu pai era. A única coisa que devia fazer era se casar com aquele maldito, e ao invés disso, você o perdeu para uma maldita desconhecida.

As palavras dele cortavam mais profundamente do que a bofetada. Lágrimas de raiva e desapontamento começaram a escorrer pelo meu rosto. Eu estava atordoada, não apenas pela revelação das suas ações contra Kerim, mas também pelo desprezo cruel que ele demonstrava.

— Então é apenas isso que significo para você? — indaguei, aproximando-me dele, a dor e a incredulidade misturando-se em minha voz. — Uma peça em seu jogo sujo.

— Jogo sujo? — ele replicou, segurando meu braço com uma firmeza que fazia suas intenções claras. — Você sabe o quanto tenho lutado para preservar o nome de nossa família? Sabe o quanto tem me custado chegar até aqui? Acha mesmo que ligo para seus sonhos deslumbrados de amor?

— Vovô... — minha voz falhou, as palavras dele cortando mais fundo do que eu esperava.

— O tempo está correndo, Elif, é melhor que se apresse e faça algo pela nossa família ao invés de se lamentar o tempo todo pelo amor de um homem que sequer deseja você — continuou ele, cada palavra carregada de desdém.

As palavras dele soaram como um baque, revelando uma frieza e um pragmatismo que eu nunca tinha visto tão explicitamente. Meu avô era um homem firme, sempre foi, mas aquela era a primeira vez que eu via aquele lado tão cruel dele.

— Você é uma Aksoy, Elif, tanto quanto uma Yaman. Escolha seu lado antes que seja tarde demais — concluiu ele, soltando meu braço abruptamente.

Eu fiquei parada, tentando processar a realidade que aquelas palavras impunham. Era uma escolha que eu jamais quisera fazer, uma que me forçava a ponderar entre a lealdade à minha família e meu próprio coração. As palavras do meu avô ecoavam na minha mente, uma lembrança sombria de que, no jogo de poder e legado, até mesmo o amor poderia ser sacrificado.

Naquele momento, percebi a magnitude do abismo que se formava entre mim e minha família. Uma escolha teria que ser feita, e as consequências dessa decisão definiriam o curso do meu destino, talvez para sempre.

— Agora coloque um sorriso nesse rosto, e vá até Kerim, diga a ele que sente muito por tudo oque fez, arraste-se aos pés daquela mulher se for preciso. Tire ela da vida dele e assuma sua posição.

— Tira-la da vida dele?

— Mate-a se for preciso.

Camila

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⏰ Última atualização: 6 days ago ⏰

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